Correio braziliense, n. 19963, 19/01/2018. Política, p. 4

 

Esquerda dividida na eleição

Paulo de Tarso Lyra

19/01/2018

 

 

PODERES » Apesar de apoiarem o ex-presidente Lula no julgamento no TRF-4, partidos antes aliados ao PT apostam em candidatura própria

Não apenas o PT espera com ansiedade o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que vem. A esquerda brasileira sabe que o resultado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Porto Alegre), em 24 de janeiro, será fundamental para o rumo a ser tomado pelos partidos de oposição nas eleições de outubro. Apesar de discursos de apoio aos petistas, nenhuma legenda do chamado campo progressista cogita abrir mão de ter uma candidatura própria ao Planalto.

É o caso do PDT, por exemplo. O pré-candidato à presidência Ciro Gomes recusou-se a assinar o manifesto em defesa do ex-presidente. “Ele não assinou porque não é papel do pré-candidato. Quem se posiciona sobre essas coisas é o partido. Nossa opinião está expressa na página do partido”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. “O PDT defende que não existem provas para se condenar Lula”, resumiu o pedetista.

Mas não existe qualquer hipótese de o PDT recuar na decisão de lançar Ciro. Lupi também garante que o partido vai respeitar a decisão do Judiciário, seja ela qual for. O PCdoB segue a mesma linha do PDT. O partido fará, na véspera do julgamento — terça-feira, 23 — um júri popular no centro de Porto Alegre, comandado pela pré-candidata do partido ao Planalto, a deputada estadual Manuela D’Ávila (RS). O distanciamento em relação ao PT tem causado uma certa estranheza. Desde a redemocratização, o partido sempre esteve ao lado do PT nas disputas nacionais.

Provável nome a ser lançado pelo Psol, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, é figura garantida nas manifestações a favor do ex-presidente, como a realizada na última quinta-feira, com artistas e intelectuais, no Rio de Janeiro. O partido deixa claro que a disposição de lançar um nome próprio independe do resultado do julgamento do petista.

“O Psol terá candidatura própria à Presidência da República. Uma candidatura radical, popular e que aponte a necessidade de uma alternativa independente dos trabalhadores e trabalhadoras. Mas acreditamos que Lula tem todo o direito de participar das eleições de 2018, apresentando suas propostas para o Brasil”, resumiu uma nota distribuída pela Executiva Nacional do partido.

O PT diz estar se preparando para evitar tumultos no dia 24, especialmente após a declaração da presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmanm (PR) de que, para prender Lula, “tem que matar muita gente”. “Queremos garantir que seja um ato pacífico”, disse o deputado Pepe Vargas (PT-RS).

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Liminar garante avulsos nas urnas

19/01/2018

 

 

A juíza eleitoral em substituição Ana Cláudia Veloso Magalhães, de Aparecida de Goiânia, concedeu, no início da noite de ontem, uma liminar para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) insira nas urnas eletrônicas que serão usadas nas eleições de outubro o nome de candidatos avulsos com seus respectivos números de inscrição.

Além disso, a juíza intimou o diretor-geral do TSE para que informe, no prazo de cinco dias, as medidas adotadas para “implementação da presente decisão e o prazo para sua execução, sem prejuízo dos testes que devem ser executados com o sistema, na forma das audiências públicas já previstas”.

“Ao se corrigir os programas das urnas, a sociedade fica a um passo da democracia plena. Isso é o que representa essa decisão. Uma vitória do povo. Agora é buscar o voto impresso”, afirmou o presidente da União dos Juízes Federais (Unajuf), Eduardo Cubas. A entidade foi a responsável, ao lado de Mauro Juqueira, de apresentar o recurso à Justiça eleitoral para que o TSE inclua as candidaturas avulsas nas urnas eleitorais.

O assunto está sendo debatido no Supremo Tribunal Federal, mas, até o momento, a única decisão tomada foi o reconhecimento de que o tema tem repercussão ampla. No final do ano passado, a Unajuf promoveu um seminário, em São Paulo, para defender a possibilidade de candidaturas avulsas nas eleições deste ano e a ampliação das urnas com voto impresso. A entidade questiona os argumentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que as urnas sejam invioláveis. (PTL).

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Presidente responde à PF

Rodolfo Costa

19/01/2018

 

 

O presidente Michel Temer respondeu aos 50 questionamentos feitos pela Polícia Federal no inquérito que investiga se ele recebeu propina pela edição de um decreto que, supostamente, teria beneficiado a Rodrimar, empresa do setor portuário. Em algumas das réplicas, não escondeu o desconforto com as perguntas e criticou a “agressividade” dos questionamentos. As respostas foram protocoladas ontem pela defesa do peemedebista no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao ministro Luis Barroso, relator do inquérito na Suprema Corte, Temer destacou que nunca autorizou o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) — réu por corrupção no caso da mala de R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS — a fazer tratativas em nome dele com empresários do setor portuário visando o recebimento de valores em troca de benefícios para a atividade. Na resposta, pediu ao magistrado “vênia para realçar a pertinência de tal questão”, por “colocar em dúvida a minha honorabilidade e dignidade pessoal”.

O chefe do Executivo Federal destacou, ainda, que, nunca solicitou que o coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho e o advogado e ex-assessor da Presidência da República José Yunes recebessem recursos em nome dele. “Reitero a agressividade, o desrespeito e, portanto, a impertinência, por seu caráter ofensivo, também dessa questão, tal como das anteriores”, declarou.