MARCELLO CORRÊA
O tombo na produção de alimentos foi influenciado por um fator pontual. Em agosto, a produção de cana-de-açúcar foi mais direcionada para a fabricação de etanol e menos para a de açúcar refinado, explicou André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.
— Em agosto, houve uma mudança do mix de destino dessa produção, porque os contratos de açúcar que estavam acordados foram finalizados. O aumento dos preços do etanol e a diminuição da importação (do produto) também explicam essa maior destinação da moagem da cana para o combustível do que para o açúcar — afirmou o técnico.
Sozinho, o setor de alimentos responde por 14% da composição do indicador de produção industrial. Segundo cálculos da Tendências Consultoria, não fosse o tombo do segmento, a indústria registraria estabilidade — exatamente o desempenho esperado por analistas do mercado, segundo a Bloomberg.
Já o desempenho da indústria extrativa foi influenciado, principalmente, por paradas de plataformas de petróleo para manutenção. Foi o segundo recuo seguido no segmento, que já havia encolhido 1,4% em julho, na comparação com junho.
Thiago Xavier, economista da Tendências, avalia que as quedas registradas nesses dois setores não mudam o quadro de recuperação. Ele destaca o desempenho do setor em outras bases de comparação. Frente a agosto do ano passado, por exemplo, a produção registrou alta de 4%, a quarta alta seguida. Foi a maior sequência de números positivos nesse tipo de cálculo desde 2013, quando o indicador ficou no azul de abril a novembro.
— Além da trajetória de gradual melhora, o que ajuda a ver um cenário mais positivo são outros indicadores. O emprego industrial está melhorando, o que mostra que tem um nível de demanda um pouco maior, por exemplo — afirma o especialista, que espera alta de 2,4% para este ano.
ESTOQUES SOB CONTROLE
A coordenadora da Sondagem da Indústria do Ibre/FGV, Tabi Thuler Santos, destaca que a expectativa é que o quadro de melhora continue nos próximos meses. Ela calcula que, mesmo que a produção fique estagnada nos próximos anos, o setor cresceria 2%:
— O resultado de agosto não altera muito o quadro, apesar de ter surpreendido negativamente. Esperamos que, nos próximos meses, a indústria continue com aumento da produção, até porque essa queda na margem (frente a julho) parece pontual.
Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destaca, ainda, que a alta da produção nos últimos meses não representou um aumento dos estoques. De acordo com os dados mais recentes da entidade, de agosto, o nível de estoques ficou em 49,5 pontos. Números maiores do que 50 indicam que a produção está acima do planejado. Ou seja, são sinal de produto encalhado.
— (O equilíbrio dos estoques) é sinal de que a demanda não está frustrando — afirma Azevedo.
Apesar do otimismo do mercado, a indústria está longe de ter se recuperado completamente. O setor ainda está 17,8% abaixo do pico de produção alcançado em junho de 2013. Em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avaliou que a recuperação ainda é frágil: “O resultado de agosto não muda a tendência de melhora industrial, mas a ocorrência de idas e vindas significa a ausência de uma regularidade de altas”.