Título: Coreia do Norte alarma o mundo
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2012, Mundo, p. 23

Pyongyang anuncia que lançará satélite em abril. EUA e Japão creem em teste com míssil No primeiro gesto de desafio à comunidade internacional, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, resolveu marcar o centenário do avô, Kim il-sung, de um modo polêmico e suspeito. Ele anunciou que pretende lançar um foguete de longo alcance para colocar um satélite na órbita da Terra, entre 12 e 16 de abril. Mas o que seria apenas mais uma conquista tecnológica é visto por vizinhos e pelo Ocidente como uma manobra militar em violação às resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU).

A Coreia do Sul, o Japão e os Estados Unidos creem que Pyongyang esteja preparando um teste com um míssil balístico — a primeira exibição de força do novo regime, desde a morte de Jong-il, em 17 de dezembro passado. "Tal lançamento de míssil representaria uma ameaça à segurança regional", declarou a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, por meio de um comunicado. Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado, qualificou o anúncio de "uma grande provocação". O Ministério das Relações Exteriores sul-coreano adotou o mesmo tom e chamou o plano de "um grave ato provocativo contra a paz e a estabilidade na Península Coreana e no nordeste da Ásia".

A ONU pediu à Coreia do Norte que desista do plano. "O secretário-geral exorta a República Democrática Popular da Coreia (DPRK) a reconsiderar sua decisão, em consonância com seu recente compromisso de se abster do lançamento de mísseis de longo alcance", afirmou Ban Ki-moon, em nota à imprensa. Segundo a agência oficial de notícias norte-coreana KCNA, o suposto satélite de observação terrestre Kwangmyongsong-3 será lançado por um foguete Unha-3. Os temores da comunidade internacional têm um precedente: em 5 de abril de 2009, um "satélite" cruzou o território do Japão e caiu no Oceano Pacífico. Na época, foi constatado tratar-se de um míssil de longo alcance. O lançamento do foguete pode punir a população norte-coreana. Há pouco mais de duas semanas, Pyongyang assinou um acordo com os Estados Unidos para receber 240 mil toneladas de alimentos, em troca da suspensão de parte do programa nuclear e dos testes com armas.

Em entrevista ao Correio, Bruce Bennett — analista de defesa e especialista em Coreias pelo think tank Rand Corporation — admite que existem várias razões para Pyongyang realizar um teste com satélite, muito similar a uma simulação com mísseis. "A Coreia do Norte pretende dominar a habilidade de produzir mísseis de longo alcance, e isso lhe permitira agir como força de dissuasão ou de coerção contra os Estados Unidos", comenta. "Os norte-coreanos também querem exibir a capacidade de lançamentos espaciais a um custo baixo, além de testarem a determinação do governo Obama", acrescenta.

Segundo Bennett, se os Estados Unidos não tomarem qualquer atitude, Jong-un clamará vitória, ao demonstrar sua força. "Se Washington exercer uma ação política, militar ou econômica contra Pyongyang, Jong-un pode admitir que os EUA são um adversário perene e responsável por todos os males da Coreia do Norte", explica. Para o analista, a violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU já seria uma ação "bastante provocativa".