Correio braziliense, n. 20001, 23/02/2018. Opinião, p. 13

 

Remédio contra a megalomania

Rodrigo Rollemberg 

23/02/2018

 

 

Três anos atrás, a capital do país encontrava-se à beira do caos e corria o risco de cair na vala comum para onde se arrastaram importantes unidades da federação, com o lastimável exemplo do Rio de Janeiro. Não fomos responsáveis por conduzir Brasília a tal situação caótica. Porém, as consequências graves de anos de omissão acabaram em nossas mãos. Sem escândalo de corrupção – infelizmente, algo raro no Brasil de hoje – e com firmeza, mantemos Brasília em pé e resolvemos problemas históricos.

O início foi bastante complicado. O rombo herdado de R$ 3 bilhões e o deficit orçamentário de mais R$ 3,5 bilhões para 2015 comprometiam a prestação de serviços públicos. Em vez de investimentos em áreas estratégicas para a população, como saúde, o governo anterior optou por construir obras faraônicas. O estádio Mané Garrincha, um “elefante branco” de quase R$ 2 bilhões encravado no centro da capital e envolto em suspeita de corrupção e superfaturamento, é símbolo da megalomania que adoeceu a administração.

Igualmente sintomática era a insistência em transferir a sede do governo para o Centro Administrativo do Distrito Federal, fruto de uma parceria público-privada com empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato. Nos últimos dias de mandato, o governador Agnelo Queiroz correu para “inaugurar” o complexo antes de sua conclusão, pelo qual o GDF pagaria “aluguel e serviços” escorchantes durante duas décadas.

Ao apagar do governo anterior, também foram concedidos reajustes parcelados sem a devida cobertura orçamentária, ameaçando impor a servidores públicos a convivência com atrasos salariais, uma realidade em outros estados. A população não poderia ser penalizada com a irresponsabilidade administrativa. Seria mais fácil ceder a 32 categorias de servidores e exigências de sindicatos. Seria, aparentemente, mais fácil seguir sem enxugar a “máquina administrativa”, como a redução dos 4 mil cargos de confiança e de secretarias.

Tomamos as medidas necessárias, ainda que amargas, para arrumar as contas públicas. Organizamos a gestão, com ferramentas de TI, capacitação recorde de servidores e licitações melhores e mais baratas. E, mesmo em meio a dificuldades financeiras, investimos em obras estratégicas, incluindo infraestrutura básica para a população mais carente, como pavimentação de ruas do Sol Nascente.

Essa é a diferença entre uma administração austera, que promove economia para o Estado, e uma administração que apostou em obras caras para beneficiar empreiteiras. Descuidaram de Brasília. A crise hídrica, agravada pelas intempéries climáticas, seria menos traumática se tivessem executado obras para ampliar o abastecimento. Passaram-se 16 anos sem qualquer nova obra.

Desde o início deste governo, ainda sem crise instalada, providenciamos a ampliação da produção de água. De fato, somente as obras e ações já concluídas permitiram um acréscimo de 16,5%, elevando a capacidade de captação a 11.576 l/s, com investimentos de mais de R$ 60 milhões. Até o fim do ano, entregaremos o Sistema Produtor de Corumbá IV, cuja obra foi retomada nesta gestão. Esta é uma solução para 30 anos. Diante desses avanços em tão curto prazo, há de se perguntar por que não fizeram antes. Mesma dúvida emerge no caso do desabamento do viaduto no Eixão Sul, uma das 13 obras apontadas pelo Tribunal de Contas do DF com necessidade de reforma. Providências não foram tomadas nos governos anteriores.

Investimos mais de R$ 117 milhões em recuperação, manutenção e obras de infraestrutura de viadutos e pontes. Das obras listadas pelo TCDF, quatro foram efetivamente restauradas neste governo e a Ponte do Bragueto está em execução. Qual escolha de Sofia, diante de tantas prioridades, elegemos as pontes e viadutos com grande circulação de pessoas. Pela rodoviária e Praça Sul, em frente ao Setor de Diversões Sul, circulam mais de 700 mil pessoas diariamente.

O cuidado com Brasília, neste governo, passa também por uma nova forma de lidar com a saúde, algo esperado do meu antecessor, formado em medicina, que desperdiçou quatro anos sem cumprir a promessa de melhorar o atendimento na área. Os problemas são históricos, mas avançamos a cada dia. Com o programa Estratégia da Saúde da Família, em um ano, ampliamos de 30% para mais de 60% a cobertura da atenção básica. Apostamos na prevenção de doenças para diminuir a pressão sobre as emergências dos hospitais. Já são 600 equipes de saúde da família formadas.

A população ficará mais bem assistida, também, com a transformação do Hospital de Base em instituto, há um mês efetivada. Aos poucos, as melhorias serão sentidas. (...)

Inovamos também com a desobstrução de 100% da orla do Paranoá, medida aprovada por oito em dez brasilienses. Muitos duvidaram de que faríamos, muitos poderiam ter feito e não fizeram. Construímos ainda o primeiro aterro sanitário e fechamos o Lixão da Estrutural, o segundo maior do mundo, quitando uma dívida com Brasília, patrimônio cultural da humanidade. Quem não fez o necessário quando estava no poder, agora, exerce o jus espeneandi, último recurso a quem já foi julgado pela população ao não lhe conceder o segundo mandato. Resta agora ser julgado pela Justiça.