O Estado de São Paulo, n. 45317, 13/11/2017. Política, p. A6.

 

Em convenção paulista, tucanos gritam ‘fora, Aécio’

Pedro Venceslau

13/11/2017

 

 

Para o presidente reeleito do PSDB em SP, Pedro Tobias, estrago feito pelo senador ao partido foi ‘grande’

 

 

O senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, foi alvo de críticas e palavras de ordem dos tucanos paulistas durante a convenção estadual do partido, realizada ontem na Assembleia Legislativa, na capital paulista. No plenário e nos corredores da Casa, militantes pediam “fora, Aécio” em coro.

O senador tucano está afastado da presidência do partido desde maio, após a divulgação da gravação em que ele pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F. Aécio alega que a conversa tratava de um empréstimo. O tucano chegou a ser afastado do cargo de senador duas vezes. Ele voltou definitivamente à Casa após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que medidas cautelares, como o afastamento, impostas contra parlamentar precisa de aval do Congresso.

Na semana passada, em meio ao recrudescimento da disputa interna entre as alas que, de um lado, defendem a permanência do PSDB no governo Michel Temer e, de outro, o desembarque, Aécio, no uso de uma prerrogativa do partido, destituiu o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina da legenda e colocou em seu lugar o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. Na véspera, Tasso, que pede o desembarque, havia anunciado sua candidatura à presidência nacional do PSDB, marcada para o dia 9 de dezembro.

“O estrago feito por ele ao partido foi grande demais. Aécio não está ajudando em nada. Ele deveria colocar o pijama e voltar para casa”, disse Pedro Tobias, que foi reeleito ontem presidente do Diretório Estadual de São Paulo.

 

Resposta. Na tribuna, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Ricardo Tripoli (SP), respondeu às críticas de Aécio, que anteontem, na convenção tucana em Minas, disse que os “cabeças pretas”, ala da sigla que defende o desembarque do governo, não se empenha pelas reformas. “Estão dizendo inverdades de que não estamos apoiando medidas importantes para o Brasil. Demos mais votos para a reforma trabalhista do que o presidente da República”, disse Tripoli, que encerrou sua fala aclamando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidato do PSDB à Presidência do Brasil em 2018.

Secretário de Desenvolvimento Social de Alckmin, o deputado Floriano Pesaro defendeu o afastamento do senador mineiro da legenda. “Aécio deve se afastar do PSDB para não contaminar outros membros do partido.”

Já o ex-presidente do PSDB na capital paulista, o vereador Mário Covas Neto, revelou aos jornalistas que cogita até deixar o partido depois dos últimos acontecimentos. “Aécio deitou e rolou na convenção do PSDB de Minas. Ele continua falando em nome do partido. Não percebe o mal que fez”, disse.

Na convenção mineira, anteontem, o senador reelegeu um aliado, o deputado Domingos Sávio, para a presidência da sigla no Estado. Na ocasião, Aécio falou pela primeira vez que o PSDB deve sair “pela porta da frente” do governo Michel Temer. A legenda comanda quatro ministérios (Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos).

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Reforma de Temer deve diminuir espaço do PSDB

Renan Truffi / Lu Aiko Otta / Daiene Cardoso

13/11/2017

 

 

Mudanças na Esplanada, após pressão de aliados e Centrão, estão em discussão para serem realizadas nos próximos 15 dias

 

 

O presidente Michel Temer deve tirar a reforma ministerial do papel nas próximas semanas. A informação é confirmada por fontes no Palácio do Planalto e por parlamentares do chamado Centrão – o grupo pressiona para ganhar mais espaço no governo. Temer já comunicou alguns de seus interlocutores no Congresso sobre a intenção de redesenhar a distribuição de cargos de primeiro escalão nos próximos 15 dias. Com as mudanças, o PSDB deve perder dois dos seus quatro ministérios, enquanto PMDB e PP podem ganhar mais espaço.

A antecipação da reforma foi revelada ontem pela Folha de S.Paulo. O Estado apurou que a ideia inicial do presidente é reduzir o tamanho do PSDB no governo pela metade. Dos quatro ministérios que detêm atualmente – Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos –, os tucanos continuariam com dois. Sob forte pressão do PTB e do PP, Temer deve tirar Bruno Araújo (PE) do Ministério das Cidades e Luislinda Valois (BA) dos Direitos Humanos.

Antonio Imbassahy (BA) tende a perder a Secretaria de Governo, mas, como se tornou uma figura próxima do presidente, pode ser deslocado para outra pasta. O tucano é alvo de críticas de parlamentares e está desgastado na função por não atender aos pleitos da base. Já Aloysio Nunes Ferreira (SP) deve continuar à frente do Itamaraty.

Segundo um integrante da base governista, o objetivo do Palácio do Planalto é tornar a composição do governo proporcionalmente mais justa aos votos obtidos pelos partidos em pleitos importantes. Nesse sentido, o PSDB é visto como uma legenda que entrega menos do que outros partidos aliados ao governo. Os tucanos ficaram divididos nas votações que avaliaram a admissibilidade das duas denúncias penais contra Temer, por exemplo.

Com essa reestruturação dos cargos, Temer estaria preparando terreno para dirimir a insatisfação dos congressistas, visando a garantir apoio para uma possível votação da reforma da Previdência. “É uma decisão difícil para o presidente em função da lealdade de alguns tucanos. Mas essa decisão, pelo andar da carruagem, é cada dia que passa mais inevitável”, afirmou o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Carlos Marun (MS).

“Todos os partidos que estiveram conosco nessas disputas devem ser aproveitados em conformidade com o grau de sua lealdade. O índice de lealdade hoje passa pelo PMDB, PP, PSC. Uns tiveram mais e outros tiveram menos. Os que tiveram maior porcentual de lealdade devem ser mais valorizados”, afirmou o vice-líder.

 

Desgosto. Se confirmar a promessa feita ao Centrão, Temer corre o risco de deixar desgostosa a ala do PSDB que vota com o governo em um momento em que se articula a votação da reforma da Previdência. Uma fonte ligada ao Centrão lembra, no entanto, que o presidente não pode deixar de dar uma resposta ao PTB e PP, partidos que estão “jogando duro” com ele.

Há governistas que acham que vale a pena se livrar de parte do PSDB mesmo com o risco de perder votos porque o Planalto poderá ser compensado com a fidelidade do PP e do PTB. Assim, a aposta no Centrão é que o PP ficará com Cidades e o PMDB retomará o controle da Saúde. A cobiça do Centrão em relação ao ministério comandado por Bruno Araújo se deve ao poder de investimento da pasta e ao seu potencial político.

Questionado pela reportagem, o ministro da SecretariaGeral, Moreira Franco, disse que Temer “está avaliando” a possibilidade de fazer uma reforma ministerial e “vai julgar o momento oportuno de tomar essas decisões”.

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB. A composição do ministério e o tempo de fazer isso são atribuições específicas do presidente”, afirmou o ministro.

Ele negou que a decisão de tirar a reforma ministerial do papel esteja relacionada com o avanço da discussão feita por tucanos para que o partido deixe a base aliada. “A convenção é um problema do PSDB. A decisão do presidente vai estar de acordo com os interesses do País e do governo. São coisas distintas”, disse.

As novidades sobre uma possível reforma ministerial vêm à tona um dia depois de o senador Aécio Neves (PSDB-MG), aliado de Michel Temer, dizer que está chegando a hora de seu partido desembarcar da base aliada. “Vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos”, disse o mineiro após criticar os “cabeças pretas”, ala que faz oposição ao Palácio do Planalto.

 

Comando

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB.”

Moreira Franco

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL

 

PONTOS-CHAVE

Pastas de tucanos são cobiçadas

Cidades

Com forte capilaridade política, o Ministério das Cidades, comandado por Bruno Araújo (à dir.),é o mais cobiçado pelos aliados de Michel Temer.

 

Governo

Embora seja criticado na condução da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy dever permanecer no governo na cota pessoal do presidente.

 

Direitos Humanos

Luislinda Valois (à esq.) teve sua imagem arranhada após pedir ao governo autorização para receber salário superior a R$ 60 mil por mês.

 

O presidente Michel Temer deve tirar a reforma ministerial do papel nas próximas semanas. A informação é confirmada por fontes no Palácio do Planalto e por parlamentares do chamado Centrão – o grupo pressiona para ganhar mais espaço no governo. Temer já comunicou alguns de seus interlocutores no Congresso sobre a intenção de redesenhar a distribuição de cargos de primeiro escalão nos próximos 15 dias. Com as mudanças, o PSDB deve perder dois dos seus quatro ministérios, enquanto PMDB e PP podem ganhar mais espaço.

A antecipação da reforma foi revelada ontem pela Folha de S.Paulo. O Estado apurou que a ideia inicial do presidente é reduzir o tamanho do PSDB no governo pela metade. Dos quatro ministérios que detêm atualmente – Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos –, os tucanos continuariam com dois. Sob forte pressão do PTB e do PP, Temer deve tirar Bruno Araújo (PE) do Ministério das Cidades e Luislinda Valois (BA) dos Direitos Humanos.

Antonio Imbassahy (BA) tende a perder a Secretaria de Governo, mas, como se tornou uma figura próxima do presidente, pode ser deslocado para outra pasta. O tucano é alvo de críticas de parlamentares e está desgastado na função por não atender aos pleitos da base. Já Aloysio Nunes Ferreira (SP) deve continuar à frente do Itamaraty.

Segundo um integrante da base governista, o objetivo do Palácio do Planalto é tornar a composição do governo proporcionalmente mais justa aos votos obtidos pelos partidos em pleitos importantes. Nesse sentido, o PSDB é visto como uma legenda que entrega menos do que outros partidos aliados ao governo. Os tucanos ficaram divididos nas votações que avaliaram a admissibilidade das duas denúncias penais contra Temer, por exemplo.

Com essa reestruturação dos cargos, Temer estaria preparando terreno para dirimir a insatisfação dos congressistas, visando a garantir apoio para uma possível votação da reforma da Previdência. “É uma decisão difícil para o presidente em função da lealdade de alguns tucanos. Mas essa decisão, pelo andar da carruagem, é cada dia que passa mais inevitável”, afirmou o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Carlos Marun (MS).

“Todos os partidos que estiveram conosco nessas disputas devem ser aproveitados em conformidade com o grau de sua lealdade. O índice de lealdade hoje passa pelo PMDB, PP, PSC. Uns tiveram mais e outros tiveram menos. Os que tiveram maior porcentual de lealdade devem ser mais valorizados”, afirmou o vice-líder.

Desgosto. Se confirmar a promessa feita ao Centrão, Temer corre o risco de deixar desgostosa a ala do PSDB que vota com o governo em um momento em que se articula a votação da reforma da Previdência. Uma fonte ligada ao Centrão lembra, no entanto, que o presidente não pode deixar de dar uma resposta ao PTB e PP, partidos que estão “jogando duro” com ele.

Há governistas que acham que vale a pena se livrar de parte do PSDB mesmo com o risco de perder votos porque o Planalto poderá ser compensado com a fidelidade do PP e do PTB. Assim, a aposta no Centrão é que o PP ficará com Cidades e o PMDB retomará o controle da Saúde. A cobiça do Centrão em relação ao ministério comandado por Bruno Araújo se deve ao poder de investimento da pasta e ao seu potencial político.

Questionado pela reportagem, o ministro da SecretariaGeral, Moreira Franco, disse que Temer “está avaliando” a possibilidade de fazer uma reforma ministerial e “vai julgar o momento oportuno de tomar essas decisões”.

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB. A composição do ministério e o tempo de fazer isso são atribuições específicas do presidente”, afirmou o ministro.

Ele negou que a decisão de tirar a reforma ministerial do papel esteja relacionada com o avanço da discussão feita por tucanos para que o partido deixe a base aliada. “A convenção é um problema do PSDB. A decisão do presidente vai estar de acordo com os interesses do País e do governo. São coisas distintas”, disse.

As novidades sobre uma possível reforma ministerial vêm à tona um dia depois de o senador Aécio Neves (PSDB-MG), aliado de Michel Temer, dizer que está chegando a hora de seu partido desembarcar da base aliada. “Vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos”, disse o mineiro após criticar os “cabeças pretas”, ala que faz oposição ao Palácio do Planalto.

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB.” Moreira Franco

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL