Por mais surpreendente que pareça, esse telecomando do crime não chega a ser novidade nas penitenciárias brasileiras. Do mesmo presídio federal de Porto Velho, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, controlava seus “negócios” — que incluem o tráfico de drogas, máquinas caça-níqueis e até taxas sobre a venda de gás — em comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em maio deste ano, a Polícia Federal descobriu que o bandido tinha um esquema para driblar a segurança e se comunicar com advogados e parentes. Ele repassava bilhetes ao vizinho de cela, que, por sua vez, os entregava à mulher durante as visitas. As mensagens eram então levadas a uma digitadora que as enviava por celular aos integrantes da quadrilha. Após o escândalo vir à tona, Beira-Mar foi transferido para o presídio de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Não é por acaso que o governo federal planeja instalar parlatórios em todas as penitenciárias do país, de modo que o contato com os presos seja feito somente por telefone, e através de um vidro, sendo as conversas gravadas e monitoradas em tempo real. Nos quatro presídios federais (Porto Velho, Mossoró, Campo Grande e Catanduvas), o sistema já funciona para advogados, mas parentes ainda têm livre acesso aos presos. Para as autoridades, um maior controle no acesso aos detentos dificultará a ação dos chamados pombos-correio. Um dos defensores da proposta, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, argumenta que as penitenciárias brasileiras se transformaram em home office das facções criminosas.
A preocupação não é sem motivo. Em novembro do ano passado, uma ação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo levou à prisão de mais de 30 advogados acusados de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do país. Segundo as investigações, eles serviam de intermediários entre os presos e membros das quadrilhas em liberdade.
Se nada for feito para controlar o acesso aos presos nas penitenciárias, bandidos continuarão a exercer suas atividades criminosas de dentro de suas celas. Eles são os maiores interessados em que continue tudo como está.