Valor econômico, v. 18, n. 4414, 04/01/2018. Política, p. A5.

 

 

Contra decotes, deputada foi citada na Lava-Jato

Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro e Luísa Martins

04/01/2018

 

 

Indicada pelo PTB, presidido por seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson, para comandar o Ministério do Trabalho, Cristiane Brasil (RJ) é deputada federal de primeiro mandato, conquistado com a estrutura do partido, que despejou recursos em sua campanha, e pela atuação na Prefeitura do Rio de Janeiro em questões ligadas à terceira idade.

Ao Valor, a petebista disse que pretende se sentar com empresários para ver a melhor maneira de implementar a reforma trabalhista e que espera desburocratizar o ministério. Outra das prioridades será "manter o ritmo da abertura de postos de trabalho". Isso será conversado hoje com o presidente Michel Temer. "Minhas experiências como secretária municipal me dão currículo suficiente para tocar essa máquina dentro dos princípios da probidade", afirmou.

Cristiane entrou na vida pública pelas mãos do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, eleito em 2000 pelo PTB, e que a indicou para a Secretária Extraordinária da Terceira Idade. Em 2004, foi eleita vereadora, cargo que ocupou por três vezes. Voltou a atuar no Executivo na gestão de Eduardo Paes (MDB), como Secretária Especial de Envelhecimento Saudável.

A disputa pela reeleição, em 2012, rendeu uma acusação na Operação Lava-Jato. Em depoimento ao Ministério Público Federal, o ex-diretor superintendente da Odebrecht Leandro Andrade Azevedo afirmou que entregou R$ 200 mil, em dinheiro vivo, que teria sido usado como caixa dois na campanha.

Segundo Azevedo, Cristiane foi buscar o dinheiro pessoalmente e colocou numa mochila. O delator ainda narrou um fato que chamou de "pitoresco": ela teria se incomodado com uma câmara que estava na sala e imaginou que era gravada, e ele tirou o equipamento do computador.

A deputada rebate as acusações e cita que a Procuradoria-Geral da República (PGR) sequer pediu abertura de inquérito para investigar a acusação já que o delator não teria apresentado provas. No STF, há apenas dois processos, ambos referentes a questões eleitorais e arquivados.

Em 2014, com a prisão do pai no escândalo do mensalão, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Cristiane concorreu a deputada federal. Dos R$ 5,3 milhões gastos na campanha, 98% vieram de recursos arrecadados pelo PTB, entre eles quase R$ 4 milhões repassados pela JBS e Flora, empresas dos irmãos Batista. O privilégio na distribuição das doações incomodou petebistas.

Ela também herdou o comando do partido do pai, em dezembro de 2014. Ao deixar a prisão, dois anos depois, o ex-deputado retomou o comando do partido e ela ficou como vice-presidente de relações internacionais.

Na Câmara, a deputada teve postura discreta. O principal projeto relatado foi a regulamentação do lobby, que teve requerimento de urgência aprovado na última sessão do ano e deve ser votado na volta do recesso.

A pauta mais polêmica, contudo, foi a tentativa de impedir que mulheres que frequentem a Câmara usem decotes exagerados e saias curtas, ao criar um "dress code". A parlamentar defendeu que não se tratava de conservadorismo, mas estabelecer que as mulheres também tenham um código de vestimenta, hoje restrito aos homens. Após críticas, o projeto foi descartado pelo comando da Casa.