Valor econômico, v. 18, n. 4415, 05/01/2018. Política, p. A6.

 

 

Temer caminha no Jaburu e diz estar 'recuperadíssimo'

Andrea Jubé e Cristiane Bonfanti

05/01/2018

 

 

Convalescente de uma infecção urinária, o presidente Michel Temer empenha-se em demonstrar boa saúde, enquanto articula nos bastidores a votação da reforma da Previdência e as mudanças no time de auxiliares. Até abril, pelo menos 16 ministros devem deixar os cargos para se candidatar. Preocupado com a contabilidade dos votos e com as substituições ministeriais, Temer terá de conciliar a carga de trabalho com os cuidados médicos.

Ontem, durante uma caminhada matinal, Temer avisou que está "recuperadíssimo, graças a Deus". A imprensa foi avisada na véspera de que de ele faria uma caminhada nos jardins do Palácio do Jaburu pela manhã. O objetivo era mostrar que ele está bem disposto. Por volta das 8h20, ele se aproximou das câmeras e falou rapidamente com jornalistas que estavam no local. "Deus ajuda a quem cedo madruga", ensinou.

Por recomendação médica, o presidente reduziu o ritmo de trabalho nos últimos dias e deve manter uma agenda menos atribulada na próxima semana, embora a reforma ministerial esteja em curso num compasso mais acelerado que o previsto inicialmente pelo governo. O único compromisso previsto, por enquanto, é a posse da nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB), na terça-feira.

Outra prioridade é definir o substituto do presidente do PRB, Marcos Pereira, que pediu demissão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic). A tendência é que a pasta permaneça com o partido, mas o cenário pode mudar conforme o rearranjo de forças para garantir votos a favor das mudanças na Previdência.

Nesta semana, Temer despachou apenas dois dias no Palácio do Planalto. Na terça-feira, ele ficou de repouso na residência oficial, onde recebeu ministros mais próximos para reuniões informais: na lista, estavam Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria Geral), Carlos Marun (Secretaria de Governo).

A primeira reunião para traçar estratégias relacionadas à votação da reforma da Previdência, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu-se no Palácio da Alvorada na quarta-feira.

Temer aceitou reduzir o ritmo de trabalho nesta semana para cumprir a determinação médica, diante da infecção urinária que agravou o quadro de recuperação da última cirurgia. No dia 13 de dezembro, o presidente submeteu-se a um procedimento de desobstrução da uretra no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Como ele não permaneceu devidamente em repouso, para adaptação da sonda, desenvolveu-se o quadro de infecção, que obrigou a prescrição de antibióticos. De meados de outubro até dezembro, Temer foi submetido a três procedimentos cirúrgicos. O presidente é aguardado hoje para novos exames no Sírio-Libanês.

Ministros e aliados que estiveram com Temer nos últimos dias afirmam que a medicação não o abateu. Um ministro que o visitou no início da semana diz que ele continua bem disposto, animado para retomar as reuniões com aliados. Na quarta-feira, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, relatou que Temer estava apenas com a "voz abafada", com "ótima aparência, porém mais magro".