O globo, n. 30750, 15/10/2017. PAÍS, p.5

‘Vazamento criminoso’, diz defesa de Temer

ANDRÉ DE SOUZA

VINICIUS SASSINE

 

 
Em delação, Funaro afirma que Cunha dava ‘percentual’ de propina ao presidente

O doleiro Lúcio Funaro disse em delação premiada que o presidente Michel Temer ficava com um percentual das propinas repassadas ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O detalhamento das afirmações de Funaro à Procuradoria-Geral da República está registrado em vídeos, um procedimento padrão nos acordos de delação assinados com o Ministério Público Federal (MPF).

Em nota, a defesa do presidente Michel Temer chamou de “criminoso vazamento” a divulgação dos vídeos. O conteúdo relacionado à segunda denúncia da PGR contra Temer, por organização criminosa e obstrução de justiça, foi compartilhado com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O material inclui os vídeos da delação de Funaro, que foi usada na denúncia formulada pela PGR e apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Cabe agora à Câmara dizer se a acusação prossegue ou não.

— Tenho certeza de que parte do dinheiro que era repassado, capitaneado em todos esses esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer. Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair deve ter entregado algumas vezes — afirmou o doleiro, que operava esquemas do PMDB da Câmara.

Altair era um dos operadores das propinas, responsável por buscar o dinheiro no escritório de Funaro em São Paulo, segundo o delator. O doleiro afirmou que seu escritório ficava próximo a um comprado por Temer; ao de José Yunes, amigo pessoal do presidente, ex-assessor especial da Presidência e apontado como operador de propina para o amigo; e a um imóvel onde Cunha distribuía recursos a políticos:

— O Altair às vezes comentava que tinha de entregar dinheiro ao Michel. O escritório do Michel é atrás do meu escritório. O lugar onde era localizado meu escritório era um lugar muito bom para o Eduardo. Era próximo ao escritório de José Yunes, que arrecada dinheiro para o Michel Temer.

A proximidade diminuía os riscos, conforme o delator:

— O cara saía andando com a mala e andando meia quadra já estava no escritório dele (Temer).

A defesa do presidente divulgou uma nota ontem afirmando que o vazamento dos vídeos tem “claro propósito de causar estardalhaço” para “constranger parlamentares” que votarão o parecer pedindo o arquivamento da denúncia que ele enfrenta na CCJ da Câmara.

A delação premiada de Funaro prevê o pagamento de uma multa de R$ 45 milhões. Ele cumprirá pena em regime fechado por dois anos e depois deverá passar o restante da condenação, de 30 anos, em prisão domiciliar. Além disso, terá de prestar serviços comunitários por quatro anos.