Título: Inovação em troca de pré-sal
Autor: Ribas, Silva
Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2012, Politica, p. 6
A nova fase de cooperação econômica entre Brasil e Estados Unidos, costurada nas últimas semanas entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, está longe de eliminar as pendências bilaterais, mas já deixou bem claro seus alvos prioritários. Do lado brasileiro a expectativa está em receber conhecimento e tecnologia para promover a inovação do setor industrial. Para os norte-americanos, o interesse é sustentar o crescimento dos lucros com o turista brasileiro e, ainda, avançar a presença na exploração de petróleo e gás da camada do pré-sal.
"Vamos trabalhar juntos para ter soluções comuns para uma agenda de desenvolvimento e geração de empregos", discursou ontem a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília. O encontro serviu para confirmar o passo seguinte aos acordos firmados entre ambos países durante a vinda de Obama ao Brasil, em março de 2011, e da visita, há uma semana, de Dilma a Washington. Mas também apontou outros desafios. "Nossa relação implica maior crescimento, mas precisamos resolver alguns problemas, como eliminar a bitributação e considerar um acordo de livre comércio", reconheceu.
Para uma plateia de 150 empresários brasileiros, Hillary sublinhou setores nos quais os governos estarão empenhados para criar condições favoráveis aos negócios. Às indústrias petrolífera e de turismo se somam as de aeronáutica, defesa e biocombustíveis. "É muito animador ver o futuro à frente do Brasil, aberto pela produção de petróleo em sua costa. São oportunidades que também implicam grande responsabilidade", disse Hillary. Ela se encontrou mais cedo com a presidente da Petrobras, Graça Foster, e comentou que estava feliz em ver à frente do país e da maior empresa brasileira "duas mulheres de visão".
A secretária acredita que o "mundo está de olho no Brasil" e ganha admiradores não apenas em razão do novo patamar econômico, mas da ascensão da classe média e do combate à pobreza com abertura de oportunidades para todos. "Apesar disso, o bom momento de prosperidade não garante crescimento econômico permanente. A resposta para sua manutenção se chama inovação", acrescentou Hillary. Nesse sentido, ela destacou as iniciativas de empresas norte-americanas instaladas no país, como Microsoft e Cisco, de criar centros de pesquisa, além dos acordos recém-assinados pela presidente Dilma com centros acadêmicos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e de Harvard para beneficiar alunos com bolsas de estudo.
Integração Além de propor maior parceria em projetos de inovação com o Brasil, a chefe da diplomacia dos EUA aposta em mais integração, com um comércio bilateral na casa de US$ 75 bilhões anuais, e o recente avanço dos investimentos brasileiros no mercado norte-americano. "Os acertos entre Brasil e EUA têm reflexos em outros países e são bons para todo mundo", alertou. Hillary apontou como três pilares do sucesso brasileiro o governo responsável, um setor privado sólido para criar emprego e uma sociedade democrática.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, espera que os encontros ajudem no esforço para facilitar o fluxo de negócios e de pessoas nos dois lados. Para ele, oportunidades abertas por grandes eventos esportivos (Copa e Olimpíadas) e projetos de infraestrutura — como os aeroportos concedidos à iniciativa privada — tornaram o mercado nacional mais interesse ao investimento norte-americano. "O potencial da relação das duas maiores economias das Américas permite diversificação e avanços muito mais significativos", frisou. Ele espera que a cooperação dos dois países mantenha entre as prioridades a derrubada de mais barreiras não tarifárias e da bitributação, que "onera as empresas e desvia investimento e comércio para terceiros países".