O globo, n.30750 , 15/10/2017. PAÍS, p. 11

PGR é contra Cunha ficar preso em Brasília

ANDRÉ DE SOUZA

 

 

Ex-deputado fez pedido ao STF, e MPF diz que argumentos são frágeis

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou parecer no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a transferência definitiva do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para Brasília. Preso desde outubro do ano passado, Cunha passou a maior parte do tempo atrás das grades em Curitiba. No mês passado, chegou a Brasília para ficar alguns dias, em razão de depoimento que presta na cidade. Como este depoimento vem sendo adiado — está previsto agora para ocorrer no dia 26 ou 27 de outubro —, Cunha tem permanecido na capital federal.

Entre outros motivos, o exdeputado tinha afirmado que sua família mora no Rio de Janeiro e os deslocamentos para Brasília seriam mais fáceis do que para Curitiba. Raquel Dodge rechaçou esse argumento. “Apenas para demonstrar a fragilidade da argumentação, em uma breve pesquisa em fontes abertas é possível verificar que o custo do deslocamento aéreo entre Rio de Janeiro e Brasília é basicamente o mesmo que o custo entre Rio de Janeiro e Curitiba”, destacou.

Cunha alegou ainda que a transferência para Brasília diminuiria os gastos da Polícia Federal (PF) com o uso de aeronaves para a realização de depoimentos. Novamente, Raquel Dodge contestou, lembrando que Cunha “é réu ou investigado em processos em outras regiões do país, especialmente na Região Sul, mas também no Centro-Oeste, no Nordeste e no Sudeste, logo, haverá gastos com seu eventual deslocamento para essas regiões de qualquer forma, não sendo a transferência para o Distrito Federal que irá eliminar tais custos”.

 

PROBLEMAS DE SUPERLOTAÇÃO

Dodge citou até mesmo eventuais problemas de superlotação para se posicionar de forma contrária ao pedido de Cunha: “Haveria evidente prejuízo ao sistema carcerário desta unidade da Federação, pois, não bastasse a grande população carcerária local, o sistema penitenciário do DF ainda seria sobrecarregado com todos os presos provisórios oriundos de processos originários do STF e do STJ”.

A procuradora-geral apontou ainda como argumento para ser contra a transferência o fato de que, na Papuda, também estão presos outros investigados, como o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o executivo da JBS Ricardo Saud e o doleiro Lúcio Funaro, acrescentando que este último apresentou fatos contra Cunha em sua delação premiada.