Correio braziliense, n. 19997, 22/02/2018. Cidades, p. 19

 

Discurso corporativo embala candidaturas

Ana Viriato e Flávia Maia 

22/02/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Representantes de sindicatos estão em campanha com vistas às próximas eleições ao Executivo local, à Câmara Legislativa e ao Congresso Nacional. Reivindicações não atendidas serão bandeira da oposição

Por trás dos discursos corporativistas em defesa das demandas de classe defendidas pelos sindicatos, há um embate eleitoral antecipado. Reivindicações como o pagamento da última parcela do reajuste salarial, concedido na gestão anterior e aprovado em lei, são as bandeiras usadas pelas candidaturas de oposição ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Dirigentes utilizam o espaço das entidades como trampolim para pré-candidaturas. O discurso é, principalmente, de valorização do servidor, em aspectos econômicos e administrativos — a fala tende a ecoar numa cidade com mais de 160 mil servidores públicos. O chefe do Buriti aposta na contra-argumentação de que recebeu a máquina pública falida, prezou pelo ajuste fiscal e garantiu os vencimentos em dia.

Mas em tempos de eleição, concorrentes que surgem no meio sindical tendem a potencializar o discurso de desgaste do governo. Os principais sindicatos do DF têm seus representantes na disputa, seja para a Câmara Legislativa, seja como apoio a um adversário de Rollemberg. É o caso, por exemplo, do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico). O presidente da entidade, Gutemberg Fialho, disputará uma vaga no Legislativo local pela segunda vez. Ele, que foi aliado de Rollemberg e filiado ao PSB, agora se submeterá às urnas pelo PR. O ato de filiação ocorreu ontem, com a presença do pré-candidato ao GDF Jofran Frejat.

O médico, que abriu ofensiva contra a instauração do Instituto Hospital de Base à época da votação da proposta, aponta que as recorrentes críticas ao GDF se tratam de um alerta à população e defende a participação de servidores públicos no debate político. “Para a elaboração de boas políticas públicas, é preciso alguém que tenha vivenciado a área e conheça o processo”, aponta.

 

Paralisações

A movimentação com viés político ganhou as ruas. Com a campanha “E aí, Rodrigo?”, o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF) distribuíram cartilhas, pregaram cartazes e lançaram vídeos questionando a atuação do Executivo local. Também no Sinpro surgiu uma provável candidata ao Buriti. A petista Rosilene Correa, diretora da entidade, é cotada para representar o partido. Ela conta com o apoio de uma parcela expressiva dos petistas.

O PSB de Rollemberg reagiu à campanha do Sinpro e acionou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O partido pede que todo o material de divulgação seja retirado de circulação, além da entrega de comprovantes dos exercícios de 2017 e 2018 dos comprovativos de gastos com a iniciativa. Na ação de investigação judicial eleitoral, o partido do governador afirma que o sindicato “tem despendido valores consideráveis na promoção da referida campanha contra o governador, incutindo no eleitorado ideias falsas e alavancando pretensos candidatos a cargos eletivos”. Até o fechamento desta edição, a Justiça não havia emitido decisões no processo. O argumento do PSB é de que o Sinpro faz campanha eleitoral negativa antecipada.

Presidente da CUT-DF, Rodrigo Britto afirma que, apesar de sua pré-candidatura a deputado distrital pelo PT, a campanha não tem cunho eleitoral. “Trata-se apenas de uma iniciativa de cobrança do que é de responsabilidade do governador, como a valorização do servidor e a cidadania plena”, justificou.

Como em anos anteriores, além de materiais de divulgação, diferentes sindicatos preparam uma avalanche de paralisações para as próximas semanas, com o discurso de reivindicação de reajuste, concursos públicos e nomeações, uma vez que o governo deixou o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nesta semana, o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF) aprovou uma paralisação de 72 horas, iniciada ontem. Na frente do complexo da Polícia Civil, a entidade instalou um boneco gigante de Rollemberg, com uma paródia ao personagem Pinóquio.

 

Salários

Sobre as cobranças, o governador foi incisivo em discurso nesta semana. “É importante que eles olhem o que está acontecendo em outras unidades da Federação para ver como os servidores públicos do DF são bem tratados, recebendo os salários rigorosamente em dia”, argumentou Rollemberg. O governo alega que em estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul os servidores têm uma situação pior, com atrasos de salários.

Em meio à queda de braço, sindicalistas preparam o lançamento de dezenas de candidatos. A articulação é usual. Em todas as disputas, classistas vão às urnas para defender os interesses das categorias. Mas, neste ano, o discurso ganhou visibilidade pelas demandas reprimidas dos servidores. Para o pleito, a movimentação começou há meses. A exemplo do presidente da CUT-DF, a tendência é de que a maioria dos dirigentes concorra a cargos proporcionais — deputado federal e distrital —  e negocie o apoio às chapas majoritárias (leia Palavra de Especialista).

Um dos nomes confirmados é o de Márcio Paiva, diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta (Sindireta) há 10 anos. A entidade é uma das maiores do DF, com oposição à gestão Rollemberg, tendo participado da organização das manifestações de 32 categorias em anos anteriores. Pré-candidato a deputado federal pela primeira vez, ele é enfático ao repetir que disputa a vaga para defender o funcionário público. Segundo Márcio, a experiência será um trunfo na campanha. “A vida sindical nos torna doutores nos debates de todo o dia”, comenta. A candidatura será pelo Podemos, da ex-distrital Eliana Pedrosa.

Insatisfeito com a negativa do governo quanto à equiparação salarial da Polícia Civil com a Polícia Federal, o Sinpol-DF não definiu se lançará candidatura própria ou se apoiará um nome que transite bem no meio. “Estamos aguardando a consolidação das pré-candidaturas para ver o que vamos fazer”, afirmou o presidente da entidade, Rodrigo Franco.

Outros nomes fortes do movimento sindical ainda estudam a possibilidade de colocar o nome à disposição de partidos e testar as urnas. É o caso, por exemplo, da presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Serviços de Saúde em Brasília (SindSaúde), Marli Rodrigues; da presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Dayse Amaríllio; e do presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias, Leandro Allan Veira. Todos eles farão oposição a Rollemberg.

 

Desistências

Apesar das constantes críticas à gestão socialista, alguns dirigentes sindicais que pretendiam concorrer ao Buriti recuaram. Diretora do Sinpro-DF, Rosilene Corrêa não está animada para concorrer. “A minha preocupação era de que o PT tivesse um nome à disposição. A situação mudou. Os sindicatos precisam de candidatos que os representem, mas também devem permanecer fortalecidos”, explicou Rosilene. O PT tem como pré-candidato ao Buriti Afonso Magalhães, que foi do Sindicato dos Bancários e é um dos fundadores da CUT-DF.

Pelo PSol, o presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados da Assistência Social e Cultural (Sindsasc), Clayton Avelar, era opção. Mas o partido optou pela candidatura da diretora da Faculdade de Ciências da Saúde, Fátima de Sousa, e ele decidiu não disputar outros cargos eletivos.

 

Palavra de especialista

Atenção, eleitor

“A força dos sindicatos vem do fato de que eles têm uma boa massa de apoio. Graças à capacidade de mobilização, existe uma unidade na escolha da votação. Ela faz com que muitos representantes sindicais se elejam, principalmente, em cargos parlamentares, por eleições proporcionais. O grupo vindo dos sindicatos é importante para os partidos porque arregimenta votos e, no coeficiente eleitoral, consegue trazer apoio aos candidatos que interessam à sigla, mas sem grande expressão nas urnas. O que os candidatos e os eleitores precisam ficar atentos é sobre a atuação. Não é porque o candidato fez uma plataforma de representação para uma parcela da sociedade que ele deve focar só nesse grupo. Uma vez eleito, o candidato deve focar na sociedade”.

Rafael Duarte, professor de ciência política do Iesb

 

União sindical

A ligação com o ovimento garantiu apoio das entidades a centenas de candidatos a cargos proporcionais e majoritários no DF. Confira alguns eleitos:

 

Erika Kokay (PT) - Histórico: ex-presidente do Sindicato dos Bancários e da Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Cargos: duas vezes deputada federal e duas como distrital

 

Geraldo Magela (PT) - Histórico: fundador da Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Cargos: três vezes deputado federal e duas como distrital

 

Chico Vigilante (PT) - istórico: ex-presidente o Sindicato dos Vigilantes  da Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Cargos: duas vezes deputado federal e três como distrital

 

Wellington Luiz (PMDB) -Histórico: ex-presidente o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol)

Cargos: duas vezes distrital

 

Paulo Tadeu - histórico: ex-diretor do Sindicato dos Urbanitários

Cargos: uma vez deputado federal e três como distrital

 

Roberto Policarpo (PT) - histórico: ex-coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União do Distrito Federal (Sindjus) e ex-dirigente da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público (Fenajufe)

Cargos: uma vez deputado federal

 

Wasny de Roure (PT) - Histórico: ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal

Cargos: uma vez deputado federal e cinco como distrital

 

Fábio Barcellos -Histórico: ex-presidente do Sindicato dos Policiais do DF

Cargos: uma vez distrital

 

Cabo Patrício -Histórico: ex-presidente da Associação Nacional dos Praças (Anaspra)

Cargos: três vezes eputado distrital