O globo, n.30764 , 29/10/2017. PAÍS, p.8

ENTREVISTA - Alexandre de Moraes

CAROLINA BRÍGIDO

 

 

‘Em nenhum lugar do mundo pode haver vazamento de delação’ Ministro do Supremo Tribunal Federal empossado há sete meses defende punição para pessoas que vazam conteúdos de colaborações premiadas e diz que ‘é até fácil’ ir atrás de quem divulga para a imprensa documentos secretos sobre investigações

E os jornalistas? O jornalista não vou comentar.

Sete meses após ser empossado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes reclama de vazamentos de investigações sigilosas por parte de autoridades e da falta de punição por essas práticas. Ele lembra que, em outros países, a divulgação indevida de material secreto implicaria a anulação de processos.

 

O senhor defende que as delações premiadas fiquem secretas por mais tempo do que acontece hoje. Na sua avaliação, há divulgação excessiva desses depoimentos?

Nas delações que recebi com o pedido de cláusula de liberação, eu neguei todas. Tem que se respeitar a lei. A lei diz que é com o recebimento da denúncia (que pode divulgar). Agora, também tem que ter uma resposta dura se houver vazamento. Em nenhum lugar do mundo pode haver vazamento de delação.

 

O conteúdo de investigações sigilosas deveria ter sido divulgado recentemente no site na Câmara dos Deputados?

A partir do momento em que o ministro relator (Edson Fachin) libera, se pode ser divulgado no site do GLOBO, pode ser divulgado (na Câmara). Eu inverto a pergunta também: você acha razoável que a imprensa fique divulgando delações sigilosas? Você sabe o que acontece no resto do mundo se isso acontecer? A delação é nula, o juiz anula imediatamente a delação.

 

Se um investigador entrega à imprensa uma investigação sigilosa...

Ele está praticando um crime.

 

Mas a imprensa não está praticando crime.

Claro que está. Se você recebe um material sigiloso e divulga...

 

Mas o dever de sigilo era da fonte, não dos órgãos de imprensa.

Se acontece isso nos Estados Unidos, na Itália, a consequência imediata é o juiz anular tudo. Onde já se viu um procurador da República, uma autoridade, pegar algo sigiloso e passar para a imprensa?

 

O senhor acha que as investigações vazadas no Brasil também deveriam ser anuladas?

Deveria ser coibido (o vazamento). É possível descobrir quem vazou. Só não se descobre porque não se vai atrás de quem vazou. Eu diria que é fácil até.

 

As pessoas que vazam esses materiais deveriam ser punidas?

É crime funcional, deveriam ser processadas criminalmente.

 

E os jornalistas?

O jornalista não vou comentar.

 

Como o senhor avalia a condução da Operação Lava-Jato pela Procuradoria-Geral da República?

Tem uma injustiça que se faz com o Supremo Tribunal Federal. Não é o Supremo quem investiga e denuncia. O procurador-geral da República fez uma série de delações, principalmente a maior, que foi com a Odebrecht: 77 delatores. E ofereceu quantas denúncias até agora? Nenhuma. O Supremo não pode atuar antes que haja denúncia. Aí se diz que o atraso é do Supremo.