Correio braziliense, n. 19991, 16/02/2018. Política, p. 2
16/02/2018
Em uma resposta a integrantes do Grupo de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal (Ginq-STF), por meio de um despacho emitido ontem, o delegado Eugênio Ricas, Diretor de Investigações e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, afirmou que “os policiais não podem se afastar” dos princípios que norteiam o trabalho da corporação. No documento, Eugênio afirma que “as investigações vão avançar, doa a quem doer”. As declarações ocorreram em resposta a uma manifestação de delegados que conduzem os inquéritos contra autoridades com foro privilegiado que correm no Supremo. Em um memorando, escrito na quarta-feira, eles destacaram que vão denunciar qualquer tentativa de influência no trabalho da corporação.
A crise na corporação teve início após o diretor-geral da PF, Fernando Segóvia, conceder uma entrevista à agência Reuters fazendo referência ao suposto arquivamento do inquérito contra o presidente Michel Temer. O chefe do Executivo é investigado por ter editado um decreto que alterou regras do setor portuário. O Ministério Público afirma que as mudanças beneficiaram a empresa Rodrimar, concessionária do Porto de Santos. As suspeitas começaram após os procuradores terem acesso a uma gravação, entre Temer e Rocha Loures, na qual os dois conversam sobre o decreto que implantou mudanças na concessão de portos e na criação de novos terminais. Os envolvidos no caso são acusados de corrupção passiva, ativa e de lavagem de dinheiro. O texto do decreto que está sendo investigado foi publicado no dia 10 de maio no Diário Oficial da União (DOU). Uma mudança de destaque foi a ampliação do tempo de concessão dos portos para empresas privadas, que era de 25 anos e passou para 35. A nova legislação também passou a permitir que o tempo de vigência dos contratos seja renovado por igual período. Dessa forma, a mesma empresa pode ser autorizada a explorar o serviço por até 70 anos.
Essa é a única investigação contra Temer que não foi interrompida. A Justiça está colhendo os depoimentos de testemunhas e acusados. Na tarde de ontem, o empresário Joesley Batista prestou depoimento à PF sobre o caso, na sede da corporação, em São Paulo. O executivo da J&F foi interrogado pelo delegado Cleyber Malta Lopes. Delator da Lava-Jato, o executivo e o irmão dele, Wesley Batista, estão presos na carceragem da PF na capital paulista desde setembro do ano passado, acusados de utilizarem informação privilegiada para obterem ganhos no mercado. A Rodrimar informou que, em seus 74 anos de história, “nunca recebeu qualquer privilégio do poder público”. (RS)