Valor econômico, v. 18, n. 4425, 19/01/2018. Política, p. A9.

 

 

Lula deve participar de ato em Porto Alegre na véspera do julgamento

Sérgio Ruck Bueno e Cristiane Agostine

19/01/2018

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve viajar a Porto Alegre (RS) para participar das manifestações de terça-feira pela absolvição dele no julgamento do dia 24 pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4). O plano dos dirigentes do PT do Rio Grande do Sul é que ele participe do ato programado para o fim da tarde do dia 23 na chamada "esquina democrática", no centro da cidade, onde a expectativa é reunir 50 mil pessoas. A definição, porém, ainda depende de negociações com os advogados do ex-presidente.

Conforme o vice-presidente estadual do PT, Carlos Pestana, o próprio Lula quer participar do ato em Porto Alegre, assim como a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e o vice, Alexandre Padilha. Os advogados é que ainda estão cautelosos em relação à conveniência da viagem dele à cidade, explicou.

Se Lula de fato viajar ao Rio Grande do Sul, no entanto, ele deve retornar ainda no dia 23 a São Paulo para acompanhar de lá o julgamento no dia seguinte. Isso porque os dirigentes do partido querem evitar acusações de que contribuíram para acirrar os ânimos com a presença de Lula em Porto Alegre durante a sessão do TRF-4.

O julgamento será transmitido ao vivo pela internet, via Youtube (www.youtube.com/user/TRF4oficial). A sessão está prevista para começar às 8h30. A sede do TRF-4 ficará isolada por cordões policiais e a rua em frente ao tribunal poderá ser acessada somente por jornalistas credenciados.

A defesa de Lula chegou a requerer ao Tribunal que ele fosse ouvido durante o julgamento, mas o pedido foi indeferido na terça-feira e a partir daí abriu-se a negociação com os advogados para a presença dele na cidade no dia 23, acrescentou o presidente do PT no Estado, deputado federal Pepe Vargas. "Achamos que ele deve vir", afirmou o parlamentar.

Segundo Pestana, a manifestação em defesa de Lula na terça-feira iniciará às 18 horas e deve se estender até as 20 horas. Dali, os apoiadores do ex-presidente farão uma caminhada até o chamado "acampamento da resistência", mas o local ainda não foi definido porque está em negociação com o Ministério Público Federal (MPF) e as autoridades gaúchas.

Já no dia 24 será feita uma "vigília" o mais próximo possível do TRF-4 durante o julgamento, disse Pestana. O provável é que os manifestantes se concentrem no parque Harmonia, em frente ao Tribunal, mas isto também está sendo negociado com as autoridades de segurança do Estado. A pedido do MPF, a Justiça Federal proibiu a formação de acampamento no local, mas permitiu o acesso dos apoiadores de Lula ao parque.

Em São Paulo, os movimentos sociais insistem em fazer um ato na avenida Paulista em apoio a Lula. Movimentos contrários ao ex-presidente, como o MBL e Revoltados Online, também planejavam uma manifestação no mesmo local. Na quarta-feira, a Polícia Militar disse que não poderia garantir a segurança e que há "ameaça quanto à integridade física e segurança dos participantes". Diante desse cenário, pediu uma manifestação do Ministério Público Estadual. Ontem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúne dezenas de entidades populares como CUT, MST, UNE e MTST, se reuniram e reafirmaram a convocação para o "Ato em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato no dia 24, a partir das 17h", na avenida Paulista. "As entidades estão mobilizando todos os recursos jurídicos e políticos para manter a manifestação no local marcado", afirmaram as entidades, em nota. "O que percebemos é que grupos que não toleram a democracia querem impedir de qualquer forma a nossa manifestação. Não vão conseguir isso. Já estamos mobilizados e recorrendo para garantir um grande ato".

Ontem, a 10ª Vara Federal de Brasília negou recurso do ex-presidente e de seu filho Luís Cláudio Lula da Silva para tentar adiar um interrogatório no âmbito da Operação Zelotes. Com a decisão do juiz Ricardo Leite, a audiência fica mantida para o dia 20 de fevereiro.

No processo, Lula é réu por lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de influência.