Título: Kirchner retoma a YPF
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Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2012, Economia, p. 13

Buenos Aires —A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, enviou ontem ao Congresso um projeto de lei para retomar o controle da YPF, maior produtora de petróleo do país, subsidiária argentina do grupo espanhol Repsol. O movimento acentua a presença do Estado na economia e coloca o país à beira da um grande conflito com a União Europeia.

Kirchner afirmou que de seu plano surgirá "uma empresa nacional e profundamente federal". "A YPF é de todos, quero que tenham isso muito claro", declarou, em cadeia nacional de televisão. Como o Congresso é controlado pelo governo, a expectativa é de que o projeto de lei seja aprovado com folga.

Autoridades europeias não demoraram a reagir. "A aquisição do controle pelo governo argentino será um sinal muito negativo para os investidores, nacionais e internacionais, e pode danificar seriamente o ambiente de negócios na Argentina", disse o porta-voz de Comércio da UE, John Clancy.

O governo espanhol classificou a expropriação de uma decisão hostil, que rompe o clima de cordialidade e amizade entre os dois países. "O governo anuncia que tomará todas as medidas que considerar convenientes em defesa dos interesses legítimos da Repsol e de todas as empresas e interesses espanhóis no exterior", disse o ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo.

A presidente afirmou que quer expropriar exclusivamente as ações da Repsol na companhia. "Não queremos afetar aqueles, que com boa-fé, compraram na bolsa e, portanto, operam na bolsa, nem tampouco nenhum outro sócio", afirmou em discurso. Segundo o projeto, da parte a ser expropriada, 51% vão permanecer nas mãos do Estado e 49% serão das províncias produtoras de petróleo da Argentina.

Atualmente, a Repsol possui 57,4% da YPF, enquanto o Grupo Petersen, o maior acionista local, tem cerca de 25,46%. Os títulos da dívida soberana da Argentina aceleraram sua queda após o anúncio, enquanto a bolsa caiu, pressionada pelas ações da YPF, que recuaram cerca de 2,43% antes de serem suspensas pelo regulador do mercado.