O Estado de São Paulo, n. 45357, 23/12/2017. Economia, p.B8

 

 

 

 

 

 

Temer afirma que apoia parceria da Embraer, mas não a venda de controle

Limite. Para presidente da República, injeção de capital estrangeiro seria ‘bem-vinda’, mas transferência de controle não está em jogo; após subirem mais de 20% com a notícia de um possível acordo com a Boeing, ações da fabricante brasileira fecharam em queda

 

Em meio às negociações entre a Embraer e a fabricante norte-americana Boeing, o presidente Michel Temer disse ontem que o governo não aceitará a venda do controle da empresa brasileira. Em café da manhã com jornalistas, no Palácio da Alvorada, ele fez questão, no entanto, de deixar as portas abertas para uma parceria entre as duas companhias, ao afirmar que uma eventual injeção de capital na Embraer é “bem-vinda”. “A participação estrangeira na Embraer é muito intensa, se nesta altura ampliasse a participação estrangeira, tanto melhor. Mas não há a menor cogitação de vendermos o controle para outra empresa”, afirmou o presidente no evento. “Evidentemente que a injeção desse capital será muito bem vinda, mas não se examina a questão da transferência”, reforçou Temer. Anteontem, as fabricantes de aviões Embraer e Boeing anunciaram que estudam uma “potencial combinação”, sem deixar claro que tipo negócio seria esse. Em nota conjunta, as duas empresas informaram que as bases de um potencial acordo ainda estão em discussão e ressaltaram que “qualquer transação estaria sujeita à aprovação do governo brasileiro”, que é proprietário de uma ação especial. Chamada de golden share, essa ação especial dá ao governo brasileiro o direito de veto em decisões importantes, como a criação ou alteração de programas militares e a transferência do controle acionário. Questionado se o governo utilizará esse poder para vetar a operação, Temer disse que o assunto ainda não chegou a seu gabinete oficialmente. “Quando chegar a mim, examinarei.”

‘Pró-mercado’. Também presente no café, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, foi na mesma linha de linha de Temer. “Nossa posição é favorável a essa e outras parcerias”, afirmou, emendando: “Entretanto, nós temos a exata compreensão de que a Embraer, por ter forte componente de defesa, sua venda e a transferência de controle acionário desserve o interesse e soberania nacional.” Jungmann frisou que não se trata de nacionalismo e que o governo Temer é “pró-mercado”. Mas, nesse caso, a transferência passaria a uma empresa estrangeira o controle sobre decisões estratégicas, como em projetos de construção de caças e dos Super Tucanos. “Esse núcleo de tecnologia, inovação e investimento está relacionado à soberania nacional e nenhum país abre mão disso”, completou. No meio militar, a principal preocupação com a negociação é o fato de a Embraer ter um braço de indústria aeronáutica de defesa com grande conteúdo tecnológico, além da produção de jatos comerciais leves. Há um receio de que, estando sob o comando da Boeing, essas linhas de produção possam ser interrompidas por influência do Congresso norte-americano, que tem total controle sobre a indústria de defesa local. Apesar de ter o direito de veto, o governo brasileiro não é um acionista tão relevante na Embraer. A União tem uma participação de apenas 5,4%, por meio do BNDESPar, o braço de participações do BNDES. A Embraer é uma empresa sem controlador definido. Seu maior acionista é a consultoria de investimentos americana Brandes, com 15% das ações. A maior parte dos papéis, 64,5%, está diluída no mercado.

Compra de fatia. Em relatório ao mercado, o JPMorgan afirmou que enxerga maior probabilidade de que a operação entre Boeing e Embraer seja costurada como uma compra de participação, em vez de uma aquisição completa da fabricante brasileira. Isso não só por conta da golden share detida pelo governo, mas também pela ausência de “incentivos óbvios” para que o governo aliene totalmente a empresa e pelo próprio racional estratégico da Boeing. De acordo com cálculos dos analistas do banco, a Boeing não precisaria fazer esforço algum para comprar a Embraer. Mas, segundo eles, o interesse da americana não está no pacote completo, mas no segmento comercial, especificamente em jatos regionais, que permitiriam à empresa competir mais diretamente com a Airbus e a Bombardier nesse mercado. Porém, a equipe do JPMorgan não acredita que a Embraer poderia vender separadamente o segmento comercial, dado que a defesa tem margens operacionais próximas de zero, o que não a torna rentável em uma operação sozinha. “A administração da Boeing pensa no longo prazo e está operando em uma posição de financeira sólida, então talvez eles entreguem um racional forte, mas estamos tendo dificuldades de entender como uma compra completa da Embraer beneficiaria tanto a Boeing quanto o governo brasileiro”, concluem. Pelo lado do governo (via BN-DESPar), os analistas entendem que o dinheiro que entraria com venda da participação na Embraer não deve ser um motivador para que o banco venda sua participação, mesmo se concluída com um prêmio significativo sobre o valor de mercado.

Baixa. Ontem, depois de alta de mais de 20% na quinta-feira, as ações da fabricante brasileira de aeronaves devolveram parte dos ganhos e fecharam com desvalorização de 1,44%./ IGOR GADELHA, LORENNA RODRIGUES, RENAN TRUFFI e LETÍCIA FUCUCHIMA

‘Não há a menor cogitação de vendermos o controle (da Embraer) para outra empresa”

Michel Temer, presidente da República

 

 

 

 

 

Sindicato fará campanha nacional contra o negócio

Por: Beth Moreira

 

Beth Moreira

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região informou ontem que enviou carta ao presidente Michel Temer cobrando um posicionamento oficial e contrário a qualquer tipo de transação que represente a transferência de controle acionário da Embraer para a norte-americana Boeing. “Este foi o primeiro passo do Sindicato para dar início a uma campanha nacional contra a venda da Embraer e por sua reestatização”, afirmou a entidade em nota. Além da carta ao presidente Temer, o Sindicato informou que enviará delegações a Brasília com essas exigências ao governo. “A venda da Embraer, seja total ou parcial, representa a entrega de uma empresa estratégica para o País e de um patrimônio público que vem sendo construído há 48 anos pelos trabalhadores brasileiros", destacou o sindicato. A entidade também protocolou uma carta para a direção da Embraer, pedindo agendamento de reunião. “Os trabalhadores da fábrica em São José dos Campos estão demonstrando bastante preocupação, já que até agora a Embraer não deu qualquer informação a respeito para os seus funcionários”, afirmou o sindicato.

Movimento. A partir de janeiro, o Sindicato pretende organizar os trabalhadores da Embraer para lutarem contra a venda, inclusive com manifestações de rua e greves, se necessário. De acordo com a entidade, a empresa emprega 12 mil pessoas em São José dos Campos, onde está sua sede. No Brasil, são 16 mil. “Haverá também uma campanha de conscientização da população sobre a importância de reestatização da Embraer”, garantiu a entidade.

 

 

 

 

 

Governo arrecada R$ 4,4 bi com outorgas de aeroportos

Valor se refere à reprogramação dos pagamentos reivindicada pelos aeroportos de Brasília, RJ e Natal

 

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) concluiu ontem os processos de reprogramação do pagamento das outorgas assumidas pelas concessões dos aeroportos de Brasília, Rio de Janeiro (Galeão), Guarulhos e Natal (São Gonçalo do Amarante). Na prática, isso significa R$ 4,4 bilhões em recursos nos cofres do governo federal. As outorgas são os lances que cada concessionária deu nos leilões desses aeroportos. Os valores totais das parcelas atrasadas somaram R$ 2,354 bilhões. As empresas culparam a crise econômica do País pela queda de demanda nos aeroportos, o que teria causado desequilíbrio financeiro em seus contratos. A Infraero é dona de 49% de cada uma das concessionárias desses aeroportos, fatia que o governo pretende reduzir. Por meio de nota, a Anac informou que a reprogramação do pagamento foi concluída após as concessionárias quitarem todos os seus débitos com o Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) e desistirem de processos nas esferas administrativa e judicial relacionados ao recolhimento das outorgas.

No acordo, as concessionárias também recolheram valores de outorga antecipada, os quais chegam a R$ 2,099 bilhões. As parcelas futuras da outorga fixa deverão ser recolhidas nos prazos e valores indicados nos aditivos contratuais assinados, reajustados até o mês anterior à data de pagamento. As demais obrigações contratuais continuam vigentes, incluindo a realização de todos os investimentos previstos nesses aeroportos. A alteração dos contratos foi feita a partir de uma lei editada em 26 de outubro e de uma portaria de 28 de março de 2017, publicada pelo Ministério de Transportes, Portos e Aviação Civil. Para os aeroportos de Brasília e Guarulhos, o vencimento da próxima parcela será em julho de 2018. Galeão tem vencimento em junho de 2018 e Natal, em janeiro de 2020./ANDRÉ BORGES

 

 

 

 

 

 

Petrobrás pode ampliar total de ativos à venda

 

A Petrobrás está disposta a vender mais US$ 5 bilhões dos seus ativos para deixar o caixa dentro da meta estipulada para o fim de 2018. Os objetivos estão mantidos, ainda que o preço do petróleo despenque e a empresa não alcance a receita esperada. Para compensar possíveis frustrações de geração de caixa, a estatal guarda um grupo de ativos dos quais considera se desfazer na última hora. Assim, o seu programa de desinvestimento subiria de US$ 16,5 bilhões para US$ 21,5 bilhões em 2018. Em seu plano de negócios, a Petrobrás usou como premissa a projeção de que o barril do petróleo do tipo brent, comercializado na Europa, vai permanecer na casa dos US$ 50, como atualmente. Em 2019, começaria a subir, até atingir o patamar de US$ 70 em 2021, estimativa considerada otimista por analistas.

Como a empresa tem os seus preços atrelados ao mercado internacional, se a cotação não subir como esperado, a receita também não avança e a petroleira fica sem caixa para fazer frente aos US$ 74 bilhões de investimentos previstos para os próximos cinco anos. A saída, então, será fazer caixa por outros meios, como com a venda de ativos e negociação de contratos com fornecedores. “Caso a empresa perceba que não vai atingir o nível de alavancagem que deseja, a solução será aumentar o portfólio de ativos incluídos no plano de desinvestimento”, disse o diretor Financeiro, Ivan Monteiro, em teleconferência com analistas para detalhar o plano de negócios para o período de 2018 a 2022. Ele reitera que a Petrobrás não admite a hipótese de chegar ao fim do ano com uma relação entre dívida e geração de caixa superior a 2,5 vezes./ FERNANDA NUNES E KARIN SATO