Correio braziliense, n. 19992, 17/02/2018. Política, p. 4

 

O novo dono do pedaço

Antonio Temóteo e Paulo de Tarso Lyra 
17/02/2018
 
 
General Braga Netto será o interventor na segurança pública do Rio até dezembro. Trabalho realizado nas Olimpíadas o levou ao Comando Militar do Leste

Como todo bom mineiro, o general Walter Souza Braga Netto presa pela discrição. É avesso aos holofotes. O estilo de trabalho do militar, que nasceu em Belo Horizonte (MG), ficou claro quando questionado se a situação do Rio de Janeiro era ruim. Respondeu que há “muita mídia”, em alusão ao noticiário que relata os casos diários de violência contra a população do estado. Também não deu detalhes sobre o trabalho que realizará. Afirmou que está “em fase de planejamento”.

Quem o conhece o descreve como um militar que trilhou a carreira para comandar as mais distintas operações. Não à toa, Braga Netto foi o coordenador-geral da Assessoria Especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 do Comando Militar do Leste (CML). O trabalho, avaliado positivamente pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, garantiu a ele a chefia do CML após o general Fernando Azevedo e Silva ser promovido a chefe do Estado-Maior do Exército. “O general Braga Netto conhece profundamente a realidade dos estados sob a jurisdição do CML. É um militar extremamente preparado e que tem se distinguido ao longo de sua carreira”, disse Jungmann, durante a cerimônia de transmissão de cargo.

Antes de ser designado interventor, o general de quatro estrelas Braga Netto coordenava e executava as atividades administrativas e logísticas do Exército no Rio, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Sob a batuta dele, estão 141 organizações que somam 50 mil militares, o que correspondia, em agosto, a 24% do efetivo. Segundo dados do Ministério da Defesa, citados pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), tratava-se da maior concentração de tropas e escolas militares da América Latina.

Ao longo da carreira, o general comandou o 1º Regimento de Carros de Combate e foi chefe do Estado-Maior da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada e do Comando Militar do Oeste (CMO). Antes de assumir o CML era comandante da 1ª Região Militar (Região Marechal Hermes da Fonseca). Pelos trabalhos prestados, já recebeu 23 condecorações nacionais e quatro estrangeiras.

O general ainda integrou a ação que envolveu as Forças Armadas na crise do Espírito Santo, em fevereiro de 2017, que gerou uma onda de violência. Na época, os militares reforçaram a segurança em municípios do estado diante do excesso de problemas. Os trabalhos foram batizados de “Operação Capixaba”. O emprego das Forças Armadas naquela época foi uma resposta à paralisação da Polícia Militar do estado. Parentes de PMs acamparam em frente aos batalhões, “impedindo” a saída dos agentes de segurança e reivindicavam melhores condições de trabalho.

Boas relações
A atuação nas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Espírito Santo, e, mais recentemente, no Rio, garantiu a Braga Netto um bom relacionamento com as autoridades de segurança pública do estado. “Ele recebe as pessoas que lidam com segurança em seu gabinete sem marcação na agenda. Pessoas da polícia que já participaram de diversas reuniões com ele gostam muito do perfil. Dizem, inclusive, que a relação nunca foi tão boa com o Exército”, relatou um militar em caráter de anonimato.

Um outro integrante das Forças Armadas relatou que o general foi pego de surpresa com a decisão do governo. “Ele fez questão de assumir o problema. Inclusive, a relação com a parte operacional e da inteligência da Polícia Civil do Rio é muito boa. Ele é o primeiro general do Exército que tem na sua escolta armamento cedido pela Polícia Civil. Isso demonstra um pouco da sua humildade em relação às outras forças de segurança”, comentou.

Em agosto, durante palestra no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Centro do Rio, o interventor relatou o trabalho das tropas na cidade e citou os exemplos da atuação no Espírito Santo. Apesar disso, Braga Netto alertou que vê com reservas o emprego dos militares nesse trabalho, mas destacou que as Forças Armadas estão prontas para cumprir o dever em casos de emergências. Durante a ocasião, ele explicou que as operações têm alto custo financeiro, social, de imagem e até psicológico. O general ainda criticou o planejamento dos governos ao afirmar que o uso das Forças Armadas não seria necessário se os estados tivessem políticas de segurança pública e social mais eficientes.