Correio braziliense, n. 19986, 11/02/2018. Política, p. 4

 

Segóvia dará explicações

Denise Rothenburg

11/02/2018

 

 

PODERES » Relator no Supremo do inquérito que investiga se Michel Temer recebeu vantagens de empresa no Porto de Santos, ministro Luís Roberto Barroso se irrita com declarações do diretor-geral da Polícia Federal e o intima a dar esclarecimentos

Assim como aguarda a decisão da Justiça para definir o destino da deputada Cristiane Brasil, o governo não moverá uma palha contra o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, intimado em pleno carnaval pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso a explicar declarações à imprensa. Barroso é o relator do inquérito que investiga se o presidente Michel Temer recebeu alguma vantagem da empresa Rodrimar, que opera áreas do Porto de Santos. Em entrevista à agência Reuters, na última sexta-feira, Segóvia afirmou que, até o momento, as investigações não comprovaram qualquer pagamento de propina ao presidente e nem há indícios de que o decreto editado por Temer beneficiou a Rodrimar. Logo, a agência estampou que Segóvia indicou um possível arquivamento do inquérito.

O fato de Segóvia falar sobre um inquérito que não está concluído irritou o ministro do STF. No despacho, o magistrado disse que a conduta de Segóvia “se confirmada, é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”. O  ministro afirmou que o diretor falou sobre investigação não concluída, “ameaçando de sanções o delegado responsável, que deve ter autonomia para desenvolver seu trabalho com isenção e livre de pressões”.

Além de intimar Segóvia, Barroso enviará o caso ao Ministério Público para que tome as providências que achar necessárias, sinal de que o episódio não deve se encerrar com a ida de Segóvia ao STF. A PF investiga se, por intermédio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, o presidente Temer recebeu propina para favorecer a Rodrimar. Ambos prestaram esclarecimentos e negaram qualquer pagamento ao chefe do Executivo. O inquérito ainda não está concluído,  porém, Segóvia disse na entrevista que não há nada até o momento que comprometa o presidente e afirmou que os “indícios são muito frágeis de que haja ou de que houve algum tipo de influência”.

A notícia provocou fortes reações. Críticas ecoaram por todo o sábado de carnaval vindas da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Todos foram incisivos ao afirmarem que não cabe ao diretor da PF falar sobre um inquérito em andamento. As reações culminaram na intimação de Barroso.

Em mensagem enviada a um grupo de delegados aposentados, o diretor-geral da PF afirmou que, em momento algum disse que o inquérito seria arquivado. “Acompanho e acompanharei com o cuidado e a atenção exigida todos aqueles casos que possam ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei”, disse. “Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história”, acrescentou.

Segóvia vai ao Supremo na próxima quarta-feira prestar esclarecimentos a Barroso. A pressa é para ver se o episódio não transcende a semana do carnaval. No governo, oficialmente, ninguém fala a respeito. A torcida no Executivo é de que tudo esteja resolvido antes do desfile das campeãs, no próximo sábado.

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Família Loures é alvo

11/02/2018

 

 

A Polícia Federal entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contratos de constituição de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas em nome do pai, da mãe e da irmã do ex-assessor da Presidência e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR). Os papéis foram apreendidos em 6 de junho do ano passado, na sede da empresa Nutrimental, em São Paulo. O endereço foi alvo de buscas e apreensões na Operação Patmos, que prendeu Loures preventivamente. O ex-deputado havia sido filmado carregando uma mala com R$ 500 mil entregue por um ex-executivo do Grupo J&F. Loures é réu em ação penal por corrupção.

O ex-assessor da Presidência foi preso em 3 de junho e solto menos de um mês depois. Na ocasião, a PF vasculhou um escritório da Nutrimental. No local, foram encontrados documentos de constituição da empresa Belix Ventures Limited, aberta em 21 de julho de 2015, nas Ilhas Virgens Britânicas. A sociedade está em nome de Rodrigo Costa Rocha Loures, pai do emedebista, da mãe dele, Vera Lilia, e de Izabela Santos, irmã. A representante da Belix nas Ilhas Virgens é outra offshore: a Global Corporation Consultant.

A Nutrimental afirmou que “possui a integridade como um dos principais valores de gestão”. Rodrigo Costa disse que a Belix foi criada para “investimento legal e declarado em fundos no exterior”. “No entanto, a intenção de investir não foi confirmada e a empresa permaneceu inativa.” A defesa de Loures não respondeu à reportagem.