Correio braziliense, n. 19986, 11/02/2018. Economia, p. 9

 

Cresce disputa pelo comando do BNDES

Hamilton Ferrari

11/02/2018

 

 

CONJUNTURA » Além de Rabello de Castro querer fazer substituto, o presidente da Câmara e o ministro da Fazenda pretendem influenciar na escolha do novo presidente do banco em abril

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltou ao radar de políticos e postulantes ao Palácio do Planalto. O governo federal ainda não chegou a um consenso sobre quem ocupará o lugar de Paulo Rabello de Castro, em abril, quando o executivo sairá para ser pré-candidato à Presidência da República pelo PSC. Na teoria, o banco é ligado ao Ministério do Planejamento, mas tanto na Fazenda quanto na Câmara dos Deputados há quem queira indicar um nome para a instituição.

O atual presidente do BNDES já se posicionou sobre o assunto. Ele defende que o atual diretor da área financeira e internacional do banco, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o substitua. “Ele tem todas as condições de tocar o banco. Além do conhecimento técnico, desfruta de ótimo trânsito no Banco Central e no Ministério da Fazenda”, justifica.

Thadeu garante que não foi contatado nem tem interesse no cargo. “Fui diretor do Banco do Brasil, diretor financeiro da Petrobras, trabalhei em várias empresas. A presidência do BNDES não é um dos meus objetivos”, completa. Além dele, há especulações sobre outro diretor do banco que poderia assumir o BNDES, Carlos Da Costa. Atualmente, ele lidera a área de crédito, tecnologia da informação e planejamento. Os dois entraram em agosto do ano passado na estatal.

O mais provável, entretanto, é que o cargo seja objeto de negociações políticas, como ocorre historicamente com as estatais. Fontes ligadas ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), não negam que ele tem interesse em pleitear para um aliado político a Presidência do BNDES. O governo federal pode ceder aos parlamentares para conseguir aprovar medidas que diminuem os gastos públicos em 2018 ae estão esquecidas no Congresso desde o ano passado.

Além disso, apesar de o banco estar sob o guarda-chuva do ministro Dyogo Oliveira, há interesse do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que a instituição se adeque às necessidades da pasta, já que Rabello de Castro nunca teve uma relação amistosa com a equipe econômica. O presidente da instituição teve embates com os ministros em algumas situações, principalmente quando discordava das devoluções do BNDES ao Tesouro Nacional e da substituição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP).

Repasses

O governo precisou de R$ 50 bilhões em 2017 para cumprir a regra de ouro — que impede o Executivo de se endividar para pagar despesas correntes, como salários de servidores. Para se manter dentro da norma em 2018, o governo precisará de cerca de R$ 130 bilhões. Mesmo contrariado, Rabello de Castro diz que devolverá os recursos, sendo que R$ 30 bilhões ainda em fevereiro.

Além das inimizades conquistadas nos últimos meses, o atual presidente do BNDES está sendo investigado por um esquema de desvios no Postalis, o fundo de pensão dos Correios. Ele foi alvo da Operação Pausare, da Polícia Federal. Rabello de Castro é fundador da agência de avaliação de riscos SR Rating, que, segundo as investigações, fez avaliações “superficiais” sobre investimentos que o Postalis estava interessado em realizar, sem utilizar embasamento técnico. O presidente do banco negou as irregularidades e afirmou que o diagnóstico sobre as operações estavam corretos. O Postalis teve um prejuízo de mais de R$ 100 milhões nas operações.

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Falta ligação para esgoto

11/02/2018

 

 

Um levantamento do Instituto Trata Brasil mostra que, pelo menos, 4,4 milhões de pessoas poderiam estar conectadas à rede de esgoto no Brasil, mas não estão. Os motivos são variados. Alguns não querem pagar a tarifa do serviço, outros são resistentes a mexer na estrutura da casa. Continuam usando fossas enquanto a rede fica ociosa em frente às casas.

A situação criou um grande paradoxo no setor, que conta com poucos investimentos e uma rede insuficiente para atender a população. Com a entrada de concessionárias privadas no setor, o assunto ficou mais latente, uma vez que as empresas têm metas de universalização e taxas de retornos de investimentos a cumprir. A maioria tem feito programas de conscientização para convencer os moradores a aderir à rede.

“Quando entramos e assumimos o sistema, encontramos redes com problemas de manutenção, unidades precisando de reformas e dificuldade de adesão dos moradores”, afirma o diretor operacional do grupo Águas do Brasil, Leonardo Righetto. Segundo ele, o primeiro trabalho foi se aproximar do cliente.

Essa também tem sido a estratégia da BRK Ambiental (ex-Odebrecht Ambiental). A empresa atende a zona oeste do Rio de Janeiro, uma região com ocupação desordenada, cuja meta de universalização de coleta de esgoto é 2037. Segundo o diretor da empresa, Sinval Andrade, 40% da população não está conectada ao sistema. “Por lei, a responsabilidade de se conectar à rede é do morador, e isso custa dinheiro, entre R$ 200 e R$ 1 mil.”

Para forçar a população a se conectar, os governos estão criando regras para multar quem não faz a ligação. Em algumas prefeituras, se a rede passa na frente da residência, o morador paga a taxa de serviços estando ou não conectado. O presidente da Iguá (ex-CAB Ambiental), Gustavo Guimarães, afirma que a falta de adesão ao sistema não atinge apenas a baixa renda. “Moradores de alta renda  continuam com fossa.”