Correio braziliense, n. 19987, 12/02/2018. Política, p. 3
Planalto repudia atitude de ministro do Supremo
12/02/2018
Apesar de as declarações do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, sobre a investigação a respeito do decreto dos portos que envolve o presidente Michel Temer, ter gerado uma enxurrada de críticas de entidades e parlamentares, a atitude não teve muita ressonância no Palácio do Planalto. Em entrevista à agência de notícias Reuters, o diretor teria dito que a tendência era de arquivamento do processo por haver indícios muito frágeis. A publicação motivou uma intimação por parte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, relator do inquérito que investiga se Temer recebeu vantagens da operadora do Porto de Santos Rodrimar, para que o diretor preste esclarecimentos.
Aliados do presidente Michel Temer saíram em defesa de Segóvia. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, diz estranhar a “celeuma”. “Já assisti dezenas, talvez até centenas de entrevistas de delegados, de promotores a respeito de inquéritos em andamento. Por isso até estranho essa celeuma que se estabelece no momento em que o diretor-geral da Polícia Federal verbaliza o óbvio: que num inquérito aonde não existem provas, não existem indícios, que não existe sequer a materialização do ato ilícito, tenha a tendência de ser arquivado”, disse Marun.
No Palácio do Planalto, as atitudes do ministro Luís Roberto Barroso foram mais questionáveis do que a de Segóvia. Eles estranharam a atitude “dois pesos, duas medidas” do magistrado, alegando que o Ministério Público e a Polícia Federal falam de investigações em curso sem apresentar provas para acusar pessoas e não são questionados. “Nunca vi o Supremo pedir esclarecimentos nesses casos”, comentou um assessor palaciano.
Reedição
Na tarde de ontem, Segóvia negou novamente as declarações e a agência Reuters reeditou o texto no site. “Afirmo que, em momento algum, disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei, inclusive, que o inquérito é conduzido por equipe de policiais com toda autonomia e isenção, sem interferência da direção-geral”, disse, em nota. Segóvia deve se encontrar com o ministro Barroso na semana que vem para esclarecer a situação. A Reuters, por sua vez, na alteração do conteúdo, trocou o verbo “afirmar” por “indicar” ao qualificar as declarações de Segóvia, e fez a seguinte ressalva aos leitores: “Esclarece que Segóvia disse que até o momento não há indício de crime no caso, indicando, em vez de afirmando, que a tendência é de que a PF arquive o caso”.
Durante o sábado de carnaval, entidades e parlamentares publicaram notas de repúdio à declaração de Segóvia. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal disse que “nenhum dirigente deve se manifestar” sobre investigações e a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais afirmou ser “temerário que a direção-geral emita opiniões” sobre inquéritos.