O Estado de São Paulo, n. 45355, 21/12/2017. Política, p. A4.

 

Meirelles afirma, na TV, que PT 'quebrou o País'

Igor Gadelha

21/12/2017

 

 

Partidos. Ministro da Fazenda adotará tom eleitoral em programa do PSD para criticar governos anteriores e dizer que brasileiro não quer 'aventuras' no pleito de 2018

 

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai ocupar praticamente todo o programa político do PSD, que será transmitido hoje à noite no rádio e na TV, para lançar as bases de sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, em 2018. Em tom eleitoral e em busca de se consolidar como o nome de centro defendido pelo governo Michel Temer, ele afirma que “o populismo e os oportunistas fazem mal ao País”, diz que “o governo anterior (Dilma Rousseff) quebrou o Brasil” e destaca que os brasileiros repudiam “aventuras”.

O conteúdo do programa protagonizado por Meirelles foi antecipado pela Coluna do Estadão, na edição de ontem – dos dez minutos, oito são destinados ao titular da Fazenda. Apesar da exposição, o ministro tem dito que só tomará uma decisão sobre disputar a Presidência entre março e o início de abril. Para hoje, porém, Meirelles convocou uma coletiva de imprensa, às 12h30, na sede do PSD, para tratar justamente de política. Segundo a legenda, o horário evita “conflito de interesses” com seu cargo, uma vez que se trata de intervalo para almoço. No governo, sua principal meta é aprovar a reforma da Previdência.

O discurso de Meirelles contém três das principais diretrizes defendidas pelo governo para o candidato ideal de uma coalizão de centro: ataque ao chamado “populismo”, identificado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); crítica a um suposto “oportunismo”, personificado no deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ); e defesa do legado econômico, do qual o ministro faz parte e que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) já elogiou para agradar ao Planalto e ao PMDB.

“Estamos no rumo certo e não podemos dar nenhum passo atrás. Temos de ficar atentos: o populismo e os oportunistas fazem mal ao País. O Brasil exige competência, responsabilidade e ética”, diz Meirelles no programa do PSD, sem citar nomes. “O governo anterior quebrou o Brasil, essa é a grande verdade. O brasileiro não quer mais saber de aventuras.”

Sem terno, o ministro adotou um tom mais popular ao discursar. A estratégia vai ao encontro das movimentações recentes para se viabilizar como candidato. Nos últimos dias, Meirelles tem concedido entrevistas a rádios – foram cinco em menos de uma semana – e, anteontem, acenou com um possível reajuste do Bolsa Família e uma correção da tabela do Imposto de Renda, apesar do revés das medidas no ajuste fiscal. Uma equipe de filmagem, contratada por ele, tem acompanhado seus passos há cerca de um mês, desde que promoveu mudanças em seu perfil nas redes sociais.

 

Conciliação. Ao falar das reformas, Meirelles tenta se apresentar como um nome de convergência e diz que as mudanças “dependem de um grande e poderoso reencontro de milhões de brasileiros, que são maioria e não estão nos extremos do ponto de vista político e ideológico”.

Nos últimos meses, Meirelles se aproximou do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado na defesa da votação da reforma da Previdência, adiada para fevereiro. Com apenas 2% das intenções de voto, de acordo com pesquisas recentes, o ministro mantém diálogo frequente sobre a construção de um projeto eleitoral com o DEM, o PMDB – de Temer –, e partidos do Centrão, como o PRB, o PP, o PR e o PTB. O titular da Fazenda almeja ser o candidato único da base aliada.

Temer tem buscado um nome para defender as conquistas econômicas de seu governo. Nesse cenário, Meirelles quer se firmar como alternativa a Alckmin, a quem o ministro tem criticado. “É uma posição interessante, para dizer o mínimo, estar fora do governo por questões eleitorais, mas querer apoio na eleição. Para alguém ser apoiado pelo governo, precisar ser parte da estrutura de apoio a ele”, disse o ministro, na segunda-feira, ao Conexão Estadão, na Rádio Eldorado.

Meirelles faz a defesa da atual política econômica, embora não mencione Temer. Diz que o governo teve “coragem” para fazer as “reformas fundamentais”. O ministro aproveita a oportunidade para ressaltar seu trabalho à frente da Fazenda e destacar a evolução dos indicadores econômicos: “O rumo está correto e não podemos desviar o trilho”. A peça lembra ainda que ele foi presidente do Banco Central, quando comandou uma “virada na economia”, mas não cita que o posto foi ocupado nos governos Lula.

Cidadãos que dizem ter percebido melhora na economia também aparecem no vídeo, além de Alda Marco Antonio, ex-vice-prefeita de São Paulo e coordenadora nacional do PSD Mulher. A propaganda foi elaborada por Felipe Soutello, marqueteiro que faz trabalhos para o partido.

 

Campanha. Henrique Meirelles tem adotado discurso de candidato e intensificado movimentação política para se viabilizar

 

Populismo

“Estamos no rumo certo e não podemos dar nenhum passo atrás. Temos de ficar atentos: o populismo e os oportunistas fazem mal ao País. O Brasil exige competência, responsabilidade e ética.”

Henrique Meirelles

MINISTRO DA FAZENDA

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Temer quer um candidato ‘ponderado e estadista’

21/12/2017

 

 

Em entrevista a rádio, presidente comenta a sucessão no Planalto e diz não saber como serão as alianças do agora MDB

 

 

O presidente Michel Temer afirmou que ainda não sabe como serão as alianças feitas pelo PMDB (agora MDB), mas disse que quer um candidato “ponderado, equilibrado e estadista” para sua sucessão no Palácio do Planalto. A declaração foi feita, ontem, durante entrevista à Rádio BandNews FM.

“Quem vier a ser candidato terá que defender as reformas e, ao defender as reformas, estará cravado no programa dele o governo Temer”, declarou o peemedebista. Assim, o futuro presidente poderia trabalhar para uma mudança do presidencialismo para o semipresidencialismo e trazer mais estabilidade para o País, pois, caso o governo não tenha bom desempenho, quem cai é o primeiroministro, não o presidente.

A mudança no sistema de governo no País, no entanto, é defendida pelo presidente apenas a partir de 2022. Um dos motivos que justificam a mudança, segundo ele, é o número de presidentes que foram depostos por impeachment, em referência aos presidentes cassados Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff.

“Veja quantos presidentes foram depostos por impeachment”, disse Temer. Sem apoio do Congresso, o primeiro-ministro receberia o chamado “voto de desconfiança”, quando os parlamentares expressam ausência de governabilidade. “A ideia é transferir responsabilidade governamental ao Poder Legislativo”, afirmou.

Temer contou que tem “discutido muito” esse tema com o presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, e com os presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Segundo ele, a ideia é tratar desse projeto após a aprovação da reforma da Previdência e a simplificação do sistema tributário.