Valor econômico, v. 18, n. 4426, 22/01/2018. Política, p. A6.

 

 

Vácuo política abre espaço para PT e PDT no Rio Grande do Norte

Marina Falcão

22/01/2018

 

 

Com mais de 85% de rejeição e no olho de uma crise sem precedentes nas áreas fiscal e de segurança, o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD) perde apoio político e pode não se viabilizar para concorrer ao segundo mandato. Grandes lideranças do Estado no MDB e no DEM foram atingidas pela Operação Lava-Jato e o vácuo político pode beneficiar o PT, em uma das poucas situações no Brasil em que o partido pode conquistar um governo estadual.

Em novembro, a folha de inativos do Rio Grande do Norte superou a de ativos. Os atrasos no pagamento de salários começaram há um ano e somente na semana passada veio um socorro de R$ 420 milhões do governo federal. Para que o Estado possa obter aval do governo para novos empréstimos, o governador tenta implementar um duro ajuste fiscal. O plano, ainda não totalmente aprovado, ataca centralmente o funcionalismo público com demissões, aumento de contribuição previdenciária e extinção de adicionais de progressão.

A crise do governo do PSD no Estado começou um ano atrás, quando a morte de 26 presos - 15 decapitados - durante rebelião no presídio de Alcaçuz estampou o noticiário nacional. De lá para cá, não houve sossego para o governador. O problema que era do sistema prisional passou a ser a polícia, que estava em greve até semana passada em meio a uma onda violência que demandou a ação do Exército.

Faria também foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por suspeita de obstrução de Justiça no âmbito da Operação Dama de Espadas, que investigou fraudes na Assembleia Legislativa.

Um pesquisa da Consult mostra que 85,24% da população do Estado desaprova o governo Robinson Faria. A fatia que aprova é de apenas 7,65%. "Existe o risco de ele não se viabilizar candidato. Vejo como uma situação indefinida", avalia Antônio Spinelli, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Uma eventual desistência governador pelo segundo mandato não seria a primeira na história recente do Estado. Em 2014, também com rejeição altíssima, a ex-governadora Rosalba Ciarlini, hoje no PP, decidiu não ir à disputa pela reeleição. "Hoje a situação é pior. Por menos que isso, já vimos governadores desistirem", afirma Spinelli. Em 2010, a então governadora Wilma de Faria, já falecida, concorreu ao Senado e foi derrotada em uma eleição com duas vagas.

O governador Robinson Faria não atendeu ao pedido de entrevista. Ao Valor, o deputado Fábio Faria (PSD-RN), seu filho, disse que o pai "provavelmente" será candidato ao segundo mandato, mas não está pensando em eleições no momento e que "vai tratar disso na hora certa".

 

Segundo a Consult, Robinson Faria tem hoje 5% das intenções de voto, o que o posiciona em quarto lugar na disputa. Fátima Bezerra (PT) aparece com 20,3%, seguida pelo prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT), com 11,4% e o empresário Flávio Rocha (sem partido) com 6,5%.

A margem de erro da pesquisa é 2,3 pontos percentuais. O levantamento foi realizado de 2 a 7 de dezembro, com 1700 pessoas, sob encomenda da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN).

O prefeito, que se recusa a falar sobre eleições no momento, é o provável candidato dos grupos do senador José Agripino Maia (DEM) e do senador Garibaldi Alves (MDB) e ex-ministro Henrique Alves. Ele também se beneficia de um vácuo, como a senadora petista. Os dois senadores que são seus aliados precisam renovar seus mandatos e foram denunciados na Operação Lava-Jato e nos seus desdobramentos.

Outra liderança de destaque no MDB, o ex-presidente da Câmara Henrique Alves, está preso por participar de um esquema de corrupção na construção da Arena das Dunas. Primo de Henrique e Garibaldi, Carlos Eduardo desponta como a melhor aposta desta aliança embora não seja imune ao desgaste e tenha força política muito concentrada na capital.

Flávio Rocha é dono da varejista de vestuário Riachuelo. O empresário - que lançou essa semana uma carta-manifesto contra as gestões do PT, em NY - nega uma candidatura no Estado. Rocha foi deputado federal entre 1991 e 1994 e tentou correr à eleição presidencial naquele ano.

O deputado Fábio Faria acredita que a impopularidade reflete a crise com servidores e na área de segurança. "Quando optou por fazer um ajuste em ano de eleição, ele assumiu o desgaste disso e o risco eleitoral". Para o deputado, a pesquisa do mês passado não tem como projetar o potencial do pai como candidato. "Ele [o governador] não está nem fazendo pesquisas no momento. Não dá para avaliar nesse contexto, tem que esperar a poeira baixar", diz o deputado.

Ainda que diga não ter tomado ainda uma decisão, Fátima Bezerra já está em conversas avançadas para formar uma chapa com deputada Zenaide Maia. Dissidente do PR, Zenaide deve ir para algum partido que esteja alinhado com o PT e concorrer a uma vaga ao Senado.

Parte da base de Faria começa a se desagregar. O PCdoB, partido do vice-governador Flávio Dantas, entregou os cargos no governo na semana passada se reaproxima do PT no Estado.

Para Fátima Bezerra, a sua popularidade tem crescido em razão da associação de seu nome à candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será julgado em segunda instância esta quarta, em Porto Alegre. "Achavam que 2018 seriam um passeio, que eles chegariam unificados, com o Lula abatido e a esquerda desacreditada. Nada disso aconteceu. Lula ressurge com toda força não só no Nordeste e o centro e a direita não conseguiram se unificar", afirma a senadora.

No Nordeste, o PT governa o Ceará, Bahia e Piauí, mas nunca comandou o Rio Grande do Norte, onde a política é historicamente dominada pelas oligarquias Maia, Alves e Rosado. A candidatura da senadora vem sendo aventada desde 2014, quando ela, então deputada, teve alta votação. Na época, a petista apoiou Robinson Faria que venceu uma disputa acirrada contra Henrique Alves. O afastamento veio com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.