O globo, n.30778 ,12/11/2017. PAÍS, p.7

AÉCIO ADMITE QUE PSDB DEVE SAIR DO GOVERNO

RAQUEL AYRES

 

 

Após destituir Tasso, senador muda tom e fala em consenso sobre desembarque, mas não dá prazo para saída
 
“Há um convencimento de todos nós de que está chegando o momento de nossa saída” Aécio Neves (PSDB-MG)
 

O senador tucano Aécio Neves, aliado de Temer, mudou o tom e disse que está chegando a hora de o PSDB deixar o governo: “Sairemos pela porta da frente”. O senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, reconheceu ontem, pela primeira vez, que o destino do partido é deixar o governo do presidente Michel Temer. O tucano pertence ao setor da legenda alinhado ao Palácio do Planalto. A afirmação foi feita durante a convenção estadual da sigla em Minas Gerais, que reconduziu o deputado federal Domingos Sávio, aliado do senador, ao comando do PSDB local. Na quinta-feira, Aécio havia destituído o senador Tasso Jereissati (CE), que defende o rompimento com o governo Temer, da presidência interina do partido. O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman assumiu o posto. Aécio classificou o embate entre os tucanos que defendem a saída do governo e aqueles que resistem à ideia de uma “falsa discussão”. O PSDB ocupa quatro ministérios: Secretaria de Governo (Antônio Imbassahy), Cidades (Bruno Araújo), Relações Exteriores (Aloysio Nunes) e Direitos Humanos (Luislinda Valois). A divisão do partido ficou clara nas votações das duas denúncias contra Temer na Câmara dos Deputados, ocasiões em que a bancada não se posicionou de forma coesa.  — Há um convencimento de todos nós de que está chegando o momento de nossa saída (do governo) — afirmou Aécio.


SENADOR REJEITA FISIOLOGISMO

Segundo o senador, a continuidade do PSDB como base de apoio a Temer não se dá por fisiologismo, mas por apoio ao processo de transição decorrente do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. — Sairemos pela porta da frente (do governo Temer), da mesma forma como entramos. Nosso apoio é em torno da agenda de reformas — declarou o mineiro.  Aécio afirmou ainda que, a partir de consenso interno, uma data para o desembarque será definida. Ele, no entanto, evitou estabelecer um prazo.  — A saída do governo deve ser definida rapidamente pelos nossos candidatos e ministros.  Ao ser perguntado sobre uma eventual candidatura em 2018, o tucano afirmou que, sem dúvida, seu nome estará nas urnas, mas não disse a qual cargo pretende concorrer. Após o desgaste do caso JBS, que levou Aécio a ser denunciado pela ProcuradoriaGeral da República (PGR) por corrupção e obstrução de Justiça, tucanos passaram a avaliar que o cenário mais seguro seria desistir de um novo mandato no Senado e tentar uma eleição para deputado federal. Aécio é alvo ainda de outros oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).  — No momento, meu papel é de fortalecer o partido, também de ajudar Minas — disse o senador.  Durante o discurso na convenção, Aécio ironizou o grupo conhecido como “cabeças pretas” — parlamentares jovens do PSDB que se posicionam de maneira crítica a Temer e à deposição de Tasso. Em outra ponta, há os “cabeças brancas”, políticos mais experientes que adotam tom conciliador. Para Aécio, a defesa exacerbada da saída do governo seria uma forma de evitar o posicionamento sobre temas que podem repercutir mal junto a uma parcela do eleitorado, como a defesa das reformas.  — Não vejo o mesmo ímpeto de alguns chamados “cabeças pretas” ao defenderem a saída abrupta, pirotécnica do governo, para defenderem as reformas, em especial a da Previdência — alfinetou o senador.  Um dos deputados federais tucanos do grupo que se opõe a Temer é Daniel Coelho (PE), que manifestou indignação na quinta-feira após a destituição de Tasso da presidência interina do PSDB: “Aécio acaba de destituir Tasso da presidência do PSDB. Vergonha! Intervenção de Temer e aliados. Tasso não se curvou a Temer, Aécio, Bruno Araújo e outros e foi chutado. Vergonha! Nojo!”, publicou no Twitter.


DISPUTA ENTRE TASSO E PERILLO

Ontem, Aécio voltou a afirmar que decidiu retirar Tasso para não desequilibrar a disputa pela presidência do partido, prevista para dezembro, já que o próprio Tasso e o governador de Goiás, Marconi Perillo, se apresentaram como candidatos. Há ainda uma articulação para que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, concorra ao posto como um nome de consenso.  — Ao indicar Tasso à presidência interina do partido, o fiz porque ele não era candidato à reeleição. A partir do momento em que ele mudou de opinião, e é legítimo que o faça, o que me parecia natural, ético e correto era que se afastasse para que houvesse isonomia para a disputa. Ele não o tendo feito, assumi esta responsabilidade. E no momento em que o senador Tasso assume sua candidatura, tomei a decisão de indicar alguém acima de qualquer suspeita, cuja imparcialidade é reconhecida por todos — disse o senador, referindo-se à nomeação de Alberto Goldman.  Hoje, o diretório estadual do PSDB em São Paulo se reúne e deverá reconduzir o deputado estadual Pedro Tobias à presidência. Ele já declarou apoio a Tasso na disputa nacional. (*Especial para O GLOBO)