Valor econômico, v. 18, n. 4427, 23/01/2018. Política, p. A8.

 

 

Gleisi ataca TRF-4 e Dilma diz que falar em plano B é golpe

Sérgio Ruck Bueno e Cristiane Agostine

23/01/2018

 

 

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), levantou dúvidas ontem quanto à isenção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no julgamento da apelação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a condenação pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba (PR), marcado amanhã. Gleisi citou o presidente da Corte, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, e o relator do caso na 8ª Turma, João Pedro Gebran Neto, que deram declarações e entrevistas ao longo do processo, e disse que não pode "esperar muito" dos desembargadores.

Lula confirmou ontem que estará hoje em Porto Alegre e deve participar de manifestações. O ex-presidente irá à chamada "Esquina Democrática" para falar a militantes no fim da tarde e retorna a São Paulo no mesmo dia.

Em entrevista à "rádio Guaíba", Gleisi disse que Gebran "tem até relações de compadrio" com o juiz federal Sergio Moro. Depois, criticou declarações de Thompson Flores, que no ano passado classificou a sentença de Moro como "tecnicamente irrepreensível" e disse que uma servidora do Tribunal que pediu a prisão de Lula numa rede social estava exercendo o direito de se manifestar "como cidadã, em caráter particular". Quanto aos demais desembargadores da 8ª Turma, Leandro Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus, disse que ambos "já se manifestaram de forma muito séria e técnica em casos anteriores muito parecidos" com o de Lula.

A presidente do PT afirmou que o partido não cogita um "plano B" para a eleição à Presidência diante da possível manutenção da condenação de Lula porque isso significaria admitir a legitimidade do processo contra ele. "Construir qualquer alternativa agora é dizer que reconhecemos um processo que é injusto e persegue o presidente Lula". A senadora afirmou ainda que o PT não considera a possibilidade de Lula ser preso e disse que o ex-presidente será candidato, independentemente do resultado do julgamento.

A ex-presidente Dilma Rousseff comparou ontem as discussões sobre um possível plano B à pré-candidatura presidencial de Lula aos pedidos que recebeu por sua renúncia. Para Dilma, nos dois casos, o que está por trás do julgamento de Lula é uma tentativa de legitimar o "golpe" iniciado com o impeachment.

"Essa discussão sobre o plano B é igual a discussão sobre 'renuncie'. Pediam: 'renuncie, é um gesto de grandeza'. Gesto de grandeza nada. É a tentativa de mascarar o golpe", disse, no seminário "Diálogos Internacionais Sobre a Democracia", em Porto Alegre. "A eleição de 2018 não pode ter casuísmo nem tentativa de ganhar no tapetão", afirmou, criticando o "abuso de poder" no processo contra Lula.

O ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (PT) disse ontem que Lula não pode perder o direito de ser candidato" à Presidência. "Mas quem decide se ele vai ser o presidente é o povo brasileiro, que não pode também ser destituído do seu direito de votar". Olívio negou que tenha afirmado que o PT e o campo democrático e popular já deveriam estar construindo uma alternativa a Lula. "Essas são palavras de outros, não as minhas".