Valor econômico, v. 18, n. 4428, 24/01/2018. Política, p. A7.

 

 

Para Wagner e Genro, PT não ficará sem alternativa

Cristiane Agostine e Sérgio Ruck Bueno

24/01/2018

 

 

O ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner (PT), um dos principais aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por vezes mencionado como presidenciável, disse ontem que o PT pode ter de construir um "plano E, de emergência" para a eleição presidencial deste ano.

Wagner afirmou que o partido registrará a candidatura de Lula, mesmo se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região mantiver a condenação do petista no julgamento que será realizado hoje. No entanto, se houver impedimento à candidatura do ex-presidente, o PT não deixará de concorrer à Presidência em outubro.

"Pode, eventualmente, a gente ter que fazer um plano E, de emergência. Como aconteceria se tivesse um infortúnio, um candidato que morre num acidente e tem que arranjar um outro. Mas não tem planejamento", disse Wagner, em Porto Alegre.

"Só pensaremos em outra hipótese se houver interdição definitiva de Lula. Se é plano E, ninguém se coloca. Tem vários nomes. A briga agora está sendo mais de provar a inocência de Lula", afirmou o ex-governador e atual secretário no governo da Bahia.

Wagner é cotado como um dos principais nomes do PT para eventualmente substituir Lula na disputa presidencial. Segundo o ex-governador, o ex-presidente "irá até o final a menos que alguém interdite definitivamente" sua candidatura. "Ele só não será candidato se tiver um trânsito em julgado que negue o registro da candidatura dele. Não temos plano A, nem B, nem C. Se isso acontecer, o que eu acho um absurdo, aí você terá que construir o plano E de emergência. Plano E não tem premeditação. Espero não ser o plano E. O meu é L de Lula", afirmou o ex-ministro do governo Lula.

"Se querem tirar o PT de cena, o Lula, tem que tirar na urna, não na mão grande, no tapetão. Não é que a gente só tenha Lula. O PT não se resume a Lula, mas ele é a expressão maior."

O ex-ministro afirmou que seu partido tem que disputar a Presidência, com ou sem Lula. " Se não tiver registro [da candidatura do ex-presidente], não vamos deixar de concorrer", disse ontem, ao chegar a um ato de mulheres em defesa da democracia e da candidatura Lula, com a presença da ex-presidente Dilma Rousseff, em frente à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. "O PT, em qualquer hipótese, estará no segundo turno das eleições de 2018", disse.

"O PT tem uma história, a maior liderança do PT construída ao longo desse tempo é da figura do Lula, mas é claro que o partido tem um programa, um projeto para o país e vai continuar caminhando até porque se acontecer o absurdo que é a condenação dele o PT vai continuar funcionando", reiterou.

"Diria até com mais motivação para reagir a essa violência. Do ponto de vista eleitoral, não estamos trabalhando com outra hipótese porque trabalhar com qualquer hipótese é o mesmo que jogar água no moinho de quem quer condenar e admitir a condenação", disse.

O petista criticou como "frágil, inconsistente e sem provas" a sentença do juiz Sergio Moro, que condenou Lula a nove anos e meio de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e de corrupção passiva. Wagner disse ainda que a decisão da juíza Luciana Corrêa Tôrres de Oliveira, da 2ª Vara de Execuções de Títulos Extrajudiciais do Distrito Federal, de penhorar o apartamento tríplex no Guarujá, que Moro diz ser de Lula, foi uma ajuda "de Deus" por provar que o imóvel não é do ex-presidente.

"Conheço o Lula há 40 anos. Mora no mesmo apartamento que eu conheci muito antes de ele ser presidente da República. Não é dele o patrimônio. Moro muito melhor do que o Lula."

A mesma linha de raciocínio foi adotada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro (PT). Ele disse que em caso de condenação de manutenção da candidatura de Lula, o partido tem que esgotar todas as possibilidades jurídicas e políticas para garantir a candidatura do petista na eleição presidencial deste ano. Mas que se chegar à "impossibilidade absoluta" da participação de Lula, o PT e as demais forças politicas de esquerda vão ter que se reunir e escolher outro candidato.

"O pior seria não participar da eleição", disse Genro. Para ele, mesmo com a candidatura de Lula seria bom para a esquerda ter vários candidatos neste ano, incluindo Manuela D'Ávila, do PCdoB, Ciro Gomes, do PDT, e Guilherme Boulos, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que poderá concorrer pelo Psol.

Na opinião dele, se o PT admitir agora que já busca um "plano B" para a eleição deste ano, estará expondo um "flanco" para que a candidatura do Lula não seja registrada. O ex-ministro chegou a dizer que é um "dever político" do PT ir "até os limites dos tribunais" para garantir a candidatura do ex-presidente.