Título: IPCA e câmbio pesam
Autor: Martins, Victor ; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2012, Economia, p. 11

Além da pressão política, a desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a carestia oficial, deixou o Banco Central confortável para um corte agressivo na taxa básica de juros (Selic). As projeções da instituição mostram que o IPCA acumulado em 12 meses, até julho, vai desacelerar. Uma pesquisa da agência internacional Reuters junto ao mercado financeiro corrobora essas previsões. Segundo os dados observados, a inflação de fevereiro deve registrar a menor alta para o mês desde 2007, 0,44% de acordo com a mediana de 37 participantes do mercado financeiro.

"Não foi uma surpresa esse corte frente ao PIB mais fraco no ano passado e à mudança de postura do BC, que mostrou não ter pressa na convergência da inflação", argumentou Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, a decisão não foi um absurdo. "O cenário principal que o BC tem é de atividade econômica controlada e de inflação moderada, por isso, a agressividade no corte", justificou Thadeu.

O corte de 0,75 ponto percentual na taxa Selic foi influenciada ainda pela "guerra cambial", como foi batizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o excesso de dinheiro em circulação no mundo. Especialistas explicam que, devido ao diferencial de juros entre o Brasil e o restante do mundo, o país tornou-se alvo do capital despejado na economia pelas principais nações do globo. "Esse é o principal atrativo para o capital internacional que aporta no país", ponderou Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora.

Mesmo com a nova redução na Selic, o país ainda ostenta o posto de juro real mais elevado do planeta, 4,2%. Para sair dessa posição incômoda, seria necessário, além do corte de 0,75 ponto percentual de ontem, mais uma redução de um ponto.