Título: Em dois dias, US$ 2,5 bilhões
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2012, Economia, p. 14

A decisão do Ministério da Fazenda de taxar em 6% os empréstimos feitos no exterior com vencimento em até três anos foi mais do que justificável. Segundo o Banco Central, mesmo com a medida já anunciada, os estrangeiros continuaram despejando dólares no Brasil, ignorando as críticas da presidente Dilma Rousseff ao "tsunami monetário" provocado pelos países ricos. Apenas nos dois primeiros dias de março, entraram no mercado brasileiro US$ 2,46 bilhões. Em fevereiro, foram US$ 5,7 bilhões. E, no primeiro bimestre, US$ 13 bilhões.

Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, boa parte desses recursos vem sendo atraída pelos juros altos, o que, aliado ao bom desempenho da economia em meio a um mundo assustado com constantes turbulências, faz do Brasil um porto seguro para as aplicações financeiras. Nesse contexto, disseram os analistas, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% só diminui a rentabilidade das aplicações aqui.

Para os economistas, parcela substancial dos dólares está relacionada à expansão da base monetária promovida pelo Banco Central Europeu (BCE). Com o intuito de combater a crise na qual os países da região estão mergulhados, a autoridade monetária injetou 1 trilhão de euros na economia local nos últimos dois meses. Não à toa, o governo brasileiro já avisou que adotará novas barreiras para frear a entrada de dinheiro estrangeiro no país, especialmente aquele que vem para a especulação.

Os técnicos do BC ressaltaram, porém, que, na comparação com o ano passado, o fluxo de dólares está mais confortável. Em janeiro e fevereiro de 2011, o saldo ficou positivo em US$ 22,9 bilhões. Ou seja, ante o mesmo período deste ano, houve um recuo de 43%. "Independentemente desta queda, o governo não pode ficar de braços cruzados. A nossa produção industrial está tomando uma sova dos importadores", disse um funcionário do Ministério da Fazenda.

Ele lembrou que o BC tem se mostrado ativo e comprando as sobras de dólares, um fator fundamental para a recente alta de preços da moeda norte-americana. Em fevereiro, depois de quatro meses ausentes no mercado, a instituição comprou US$ 842 milhões. No início de março, foram mais US$ 256 milhões.

Captação cresce 50% O governo federal e as empresas brasileiras captaram US$ 16,8 bilhões no exterior nos primeiros dois meses de 2012, volume 50% superior ao mesmo período do ano passado. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Desse total, US$ 825 milhões foram captados pelo governo, US$ 3,7 bilhões por bancos, enquanto as chamadas empresas corporativas tomaram US$ 12,4 bilhões. Todos os recursos que ingressaram no país via setor privado justificam o aumento do Imposto de Operações Financeiras (IOF), de 6%, imposto pelo governo às operações de captação com vencimento em até três anos.