Título: Dólar fecha a R$ 1,76, mas deve avançar mais
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2012, Economia, p. 14
Investidores estão arredios, à espera de novas medidas para conter a valorização do real. Juros em baixa tendem a elevar as cotações da moeda norte-americana
Com a certeza de mais um corte na taxa básica de juros (Selic) e diante dos resultados ruins da indústria, o dólar fechou, ontem, estável, cotado a R$ 1,764 para venda. Segundo os especialistas, a redução do custo do dinheiro diminui a atratividade em aplicações de renda fixa no país. É justamente o fato de o Brasil ter os maiores juros do mundo e de as taxas estarem em 1% ao ano, em média, nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, que está provocando uma enxurrada de recursos para cá e derretendo o valor da moeda norte-americana ante o real.
Em contraponto, com a Selic menor, os investidores se animaram a voltar para o mercado acionário, dispostos a correr riscos. A Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) encerrou o pregão de ontem com ganho de 1,39%, aos 66.016 pontos. Com exceção de Madri, Tóquio e Xangai, ainda afetadas por notícias ruins na economia, as principais praças do globo terminaram a quarta-feira no azul.
O governo está certo de que, ao voltar para R$ 1,76, o dólar reagiu às medidas anunciadas nos últimos dias e, claro, às intervenções do Banco Central no mercado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetiu ontem que o governo tem "muita munição" para atuar no câmbio. Mas deixou claro que não há e não haverá taxação sobre o investimento estrangeiro direto, um fluxo desejável, por ser destinado ao aumento da produção. Segundo o ministro, o governo verificou se estava ocorrendo algum tipo de distorção nessas operações, mas não constatou nenhum irregularidade.
Alfredo Barbutti, economista-chefe da BGC Liquidez, atribuiu a estabilidade do dólar à expectativa do mercado sobre novas intervenções no câmbio, uma vez que o governo tem declarado que evitará, a todo custo, a valorização do real como forma de proteger a indústria nacional. "Os recentes discursos do governo sobre proteção da indústria fomentam a ideia de forte intervenção no câmbio", afirmou.
Se, no Brasil, os investidores ficaram ligados nos indicadores domésticos, lá fora, quase tudo girou em torno dos números sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que gerou 216 mil empregos em fevereiro, e da expectativa de que a restruturação da dívida grega de fato ocorrerá. A Bolsa de Nova York fechou o dia com alta de 0,61%. Em Paris, houve ganho de 0,89% e, em Frankfurt, de 0,57%.