Título: Saída da CEB: privatização
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Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2012, Opinião, p. 18

A CEB se tornou caso de calamidade pública. Os constantes cortes de energia tumultuam o trânsito e a rotina dos cidadãos. Residências, empresas, escolas e hospitais acumulam prejuízos que vão da perda de produtos e queima de aparelhos, passam pela interrupção das atividades e chegam a sacrifícios da saúde, dos estudos e da segurança.

Semáforos apagados, além de cercear o direito de ir e vir assegurado pela Constituição, põem em risco a vida de motoristas e pedestres, obrigados a apostar na sorte para seguir adiante. A sorte, porém, nem sempre sorri para as urgências de 2,5 milhões de pessoas que pagam alto custo para receber serviço de qualidade.

Trata-se de problema recorrente. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou, em fevereiro deste ano, balanço dos blecautes ocorridos no Brasil. Os do Distrito Federal ficaram acima da média. Em 2011, o brasiliense contabilizou 16 horas sem energia. O teto, segundo o órgão regulador, é de 13 horas.

Não se pense, contudo, que o drama é recente. A situação se agrava ano após ano. Na última década, o processo de degradação se acelerou. Técnicos da companhia apontam os fortes temporais e a sobrecarga do sistema como os vilões da tragédia. Omitem que as duas desculpas têm um denominador comum: a falta de planejamento.

A CEB não consegue acompanhar o crescimento da cidade. Não criou nem cria subestações no ritmo dos empreendimentos imobiliários. A demanda explosiva fica sem resposta. Não há necessidade de chuva nem de ventos para a ocorrência de apagões. Mesmo sem as intempéries da natureza, blecautes castigam a capital. Vale lembrar que chuvas e ventos não constituem nenhum fenômeno excepcional. Sucedem regularmente desde que o mundo é mundo.

Há que pôr o dedo na ferida. Sucateada, a CEB precisa investir maciçamente no sistema. Mas faltam recursos. Afundada em dívidas que chegam a R$ 800 milhões, a companhia paga por más gestões, paralisações eleitoreiras e investimentos equivocados como Corumbá IV, que, longe de suprir o DF de energia, tornou-se vasto reservatório de água.

Diante da situação inadministrável, impõe-se solução técnica. A saída passa, necessariamente, pela privatização. O aporte de R$ 600 milhões que se espera do BNDES não trará o alívio esperado. Ao contrário. Manterá a população refém da ineficiência. Energia é serviço essencial. Não pode faltar. Nem ficar em mãos amadoras.