O globo, n.30777 , 11/11/2017. PAÍS, p.5

O sorriso de Segóvia e a Lava-Jato

JAILTON DE CARVALHO

 

 

Operações não dependem do humor do chefe da polícia

Na quarta-feira, um experiente delegado foi questionado: a nomeação de Fernando Segóvia para o comando da Polícia Federal significaria o fim da Lava-Jato como alardeavam seus adversários? Ele respondeu com uma pergunta. “Ninguém notou que as operações da Lava-Jato vêm reduzindo gradativamente desde a troca de presidentes da República ano passado?”

Então a pergunta adequada seria outra: a nomeação de Segóvia, com apoio dos caciques do PMDB, quase todos investigados, vai acelerar o declínio da Lava-Jato? Se dependesse da vontade dos grupos que se organizaram para promover a dança das cadeiras na PF, a resposta seria sim.

Se dependesse da simpatia pessoal de Segóvia, sempre afável no trato, um desavisado poderia também arriscar um palpite afirmativo. Mas grandes operações de combate à corrupção não estão circunscritas ao gosto pessoal de alguns políticos e muito menos aos humores do chefe da polícia.

Os inquéritos policiais hoje são peças complexas, que dependem muito mais da disposição para o trabalho dos delegados e agentes que estão à frente das investigações do que do diretor-geral. No Ministério Público, é o procurador-geral da República quem dá a última palavra sobre uma apuração relacionada a pessoas com foro no Supremo Tribunal Federal (STF). Na PF, o relatório final de uma investigação é de responsabilidade exclusiva do delegado-chefe do inquérito.

Um diretor não pode sair da cadeira de chefe para dizer que a investigação deve seguir esta ou aquela linha. Se o fizer, corre o risco de sofrer um processo por prevaricação.

Segóvia pode oferecer sorrisos, cafezinho e uma discreta entrada na garagem para políticos intimados para depor. Nada muito diferente do que faziam os antecessores. Mas os capítulos finais da Lava-Jato, no que diz respeito à polícia, continuam nas mãos dos delegados.

E quem são esses delegados? Isso é o que veremos.