Correio braziliense, n. 20025, 19/03/2018. Economia, p. 9

 

Cacau movimenta R$ 14 bi

Marlene Gomes

19/03/2018

 

 

A FORÇA DO CAMPO » Produção nacional do fruto não é suficiente para atender a demanda do país, mas há expectativa de que entrega da matéria-prima local à indústria aumente 10% neste ano

Ao consumir os diversos produtos feitos de cacau e se encantar com o chocolate, o subproduto mais famoso da amêndoa, o consumidor não imagina que esse alimento movimenta a economia e aquece a geração de empregos no campo. No Brasil, a produção movimenta cerca de R$ 14 bilhões anualmente. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) indicam que o cacau, com uma taxa de 8%, é um dos oito produtos agrícolas que apresentam aumento do faturamento neste ano. São 745 mil hectares de área plantada no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Brasil importa cacau para suprir o que as lavouras brasileiras não conseguem entregar para atender a crescente demanda da indústria. Nos últimos anos, o setor sofreu bastante os efeitos da crise econômica do país e da crise hídrica, que reduziu a safra e impôs maiores custos à indústria por causa da necessidade de importação do produto. Enquanto as lavouras de cacau brasileiras não retomam a produtividade suficiente para o abastecimento interno, o setor importa a amêndoa de Gana.

A expectativa é de que o governo brasileiro volte a permitir a importação do cacau também da Costa do Marfim. A entrada do produto no Brasil foi suspensa por causa de um carregamento com um tipo de praga típica do país africano e que não existe no território brasileiro. Para garantir a segurança sanitária e certificar o país como habilitado a exportar cacau para o Brasil novamente, o Mapa reavalia a análise do risco de praga da Costa do Marfim.

A importação não é a escolha ideal, mas tem sido a única alternativa para que as fábricas mantenham as atividades e os postos de trabalho, segundo avaliação da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “A importação nunca é a opção mais vantajosa, pois temos a elevação de custos e os processos mais burocráticos. Entretanto, essa tem sido a única maneira de cobrir a instabilidade da produção nacional nas últimas décadas”, explica o diretor executivo da AIPC, Eduardo Bastos.

O recebimento interno da matéria-prima pela indústria deve aumentar cerca de 10%, elevando de 162.130 toneladas em 2017 para 180 mil toneladas este ano. A previsão da AIPC é de que as importações de cacau caiam para 40 mil toneladas em 2018, cerca de 20 mil toneladas a menos do que as 61 mil toneladas compradas no ano passado. “A oferta nacional do insumo permanece abaixo da satisfatória para atender à demanda da indústria processadora nacional, cuja capacidade de moagem é de 275 mil toneladas”, enfatiza o dirigente da AIPC. A entidade representa 97% do parque processador de cacau no Brasil, sendo responsável pela geração de 4,2 mil empregos diretos nas cinco fábricas instaladas nos estados da Bahia e de São Paulo.

Processamento

Quando se fala em cacau, é o chocolate que vem à mente. É natural que isso aconteça, já que esse subproduto da amêndoa é apreciado por grande parte da população brasileira. Mas a indústria do cacau não se limita à fabricação de chocolate, também exporta insumos já processados, como a manteiga de cacau e o pó de cacau, entre outros itens. O Brasil tem o terceiro maior parque confeiteiro do mundo, atrás dos Estados Unidos e da Alemanha, sendo que a cadeia do cacau participa com cerca de R$ 20 bilhões no PIB do país.

A recuperação do setor no Brasil passa pelo aumento do consumo de chocolate. “Quanto maior a renda, maior o consumo de chocolate. Entretanto, é preciso observar que ainda estamos em um ano de instabilidade política e de muitas incertezas em relação ao cenário eleitoral, o que sempre acaba impactando a economia”, observa o diretor executivo da AIPC.

Para ajudar na ampliação da produção brasileira de cacau, garantir um chocolate de melhor qualidade e aumentar o apetite do consumidor pelo produto nacional, já se debate a elevação na quantidade de cacau no chocolate para 27%. Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que, para um produto atualmente ser considerado chocolate, sua composição deve conter 25% de cacau, no mínimo. Em outros países, o produto tem até 35% de cacau. A intenção é aumentar não só o consumo interno, mas, também, as exportações.

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Pará passa à frente da Bahia

19/03/2018

 

 

A terra do cacau sempre foi a Bahia, mas, nos últimos anos, o Pará lidera a produção brasileira. O estado já responde por quase 50% do que é produzido no país. Em 2017, produziu 117 mil toneladas de cacau, enquanto a Bahia colheu 104 mil toneladas, de acordo com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Em 2018, o Pará deve permanecer no topo, com uma produção de 125 mil toneladas no ano, segundo as projeções da Ceplac, e, até 2022, os cacaueiros do Norte pretendem alcançar 233 mil toneladas. “O estado aumenta de 7 mil a 10 mil hectares de área plantada por ano. Já a Bahia, além de não ter mais como crescer, teve a floração prejudicada pela crise hídrica e frio intenso que afetaram a lavoura”, explica o coordenador técnico e científico da comissão, Manfred Willy Muller.

O Pará está em vantagem quando se trata de custos de produção do cacau, já que, na Bahia, a mão de obra é mais cara e os ganhos financeiros para os cacauzeiros são poucos. Os custos de produção na lavoura cacaueira baiana totalizam R$ 103, por arroba. “No Pará, os gastos para produzir uma arroba ficam entre R$ 85 e R$ 90, em média”, calcula Muller.

É no Pará, também, que se localiza a região que tem a maior produtividade e o município que mais produz de cacau mo Brasil. Em Anapu (PA), localizada a 374 quilômetros da capital, Belém, a produtividade chega a 1.000kg por hectare. A produtividade média do estado é de 911kg/hectare, no Brasil é de 275 kg/hectare e, no mundo, totaliza 550kg/hectare. Medicilândia (PA), com 30 mil habitantes, é o maior produtor de cacau entre os municípios brasileiros.

O cacau ganhou importância econômica com a expansão do consumo de chocolate. Em meados do século XVIII, chegou ao sul da Bahia e, na segunda metade do século XIX, foi levado para a África. Oficialmente, o cultivo do cacau começou no Brasil em 1679, por meio da Carta Régia que autorizava os colonizadores a plantá-lo em suas terras.

A produção mundial de cacau está concentrada em sete países — Costa do Marfim, Gana, Indonésia, Camarões, Equador, Nigéria e Brasil —, que detêm quase 90% da produção. O Brasil, que já foi o segundo maior produtor mundial, caiu para a sétima posição, com uma área plantada, atualmente, de 745 mil hectares. A área colhida totaliza 698 mil hectares e a representatividade no cenário internacional é de 4%. (MG)

Cacau em números

Produção Mundial em 2017

1º – Costa do Marfim

2º – Gana

3º – Indonésia

4º – Camarões

5º – Equador

6º – Nigéria

7º – Brasil

Cenário internacional

4,5 milhões de toneladas produzidas em 2017

2% é quanto o consumo cresce ao ano

520kg é a produtividade média mundial

Cenário brasileiro

745 mil hectares de área plantada

698 mil hectares de área colhida

275kg é a produtividade média

60 mil produtores