O Estado de São Paulo, n. 45335, 01/12/2017. Política, p. A8.

 

Advogado cita prova adulterada de Janot

Renan Truffi

01/12/2017

 

 

Réu e foragido, Tacla Duran depõe da Espanha; ele diz que sistema da Odebrecht foi manipulado, o que torna nula acusação contra Temer

 

 

O advogado Rodrigo Tacla Duran afirmou ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) da JBS, que os documentos usados pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot em denúncia contra o presidente Michel Temer foram “adulterados” e, portanto, seriam falsos. Tacla Duran se referia a informações do sistema de comunicação secreto do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, chamado de Drousys.

Réu na Operação Lava Jato, Tacla Duran disse aos parlamentares, por meio de videoconferência, que uma perícia contratada por ele teria mostrado que sistemas internos da Odebrecht foram manipulados antes de serem entregues ao Ministério Público Federal (MPF). Ele prestou depoimento da Espanha – o advogado é considerado foragido, uma vez que o juiz Sérgio Moro expediu mandado de prisão contra ele.

“A perícia comprova que os extratos do Meinl Bank são falsos. Comprova também que o sistema Drousys da Odebrecht foi manipulado e adulterado antes, durante e depois de ter sido bloqueado pelas autoridades da Suíça. Isso quer dizer que essas informações não se prestam como provas para incriminar quem quer que seja, muito menos deputados, senadores e o presidente. A prova é nula”, disse Tacla Duran, apontado como operador de propinas da empreiteira e de outras empresas investigadas na Lava Jato.

Algumas das informações armazenadas no Drousys foram usadas por Janot na segunda denúncia contra Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral, Moreira Franco, barrada pela Câmara dos Deputados. O presidente foi acusado pelo ex-procurador de organização criminosa e obstrução da Justiça.

“Eu não parto da premissa de que o procurador Janot estava mentindo. Eu parto da premissa de que ele obteve no Drousys, mas isso prova que o sistema foi manipulado depois do bloqueio feito pela Suíça em março de 2016”, afirmou o advogado.

 

‘À la carte’. Tacla Duran também acusou o ex-procurador Marcelo Miller de preparar “delações à la carte” e de tentar negociar com ele seu acordo de colaboração premiada. “Eu fui convocado por uma reunião na Odebrecht e, quando comuniquei isso (aos procuradores), Marcelo Miller sugeriu: ‘Então vai lá e grava’.” Miller está na mira da CPI Mista por causa de sua atuação nas negociações do acordo de colaboração de executivos do Grupo J&F, sob suspeita de ter atuado a favor da holding enquanto trabalhava no MPF.

O advogado afirmou também que Miller o incitou a dizer quais políticos e autoridades públicas poderia entregar. “Indústria da delação porque estão fechando processos penais batendo carimbo, sem investigar. Esse é o sentido da indústria da delação”, afirmou.

Tacla Duran se recusou a entrar no acordo de delação que envolveu 77 executivos ligados à empreiteira. O advogado é acusado de operar, ao lado de executivos da Odebrecht, propinas de dois contratos firmados pelos consórcios Pipe Rack e TUC, integrados pelas empresas Odebrecht e UTC, com a Petrobrás para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

A Odebrecht disse, por meio de nota, que as atividades de Tacla Duran na empresa foram informadas às autoridades no processo de colaboração com a Justiça. “A qualidade e a eficácia da colaboração da empresa vêm sendo comprovadas e têm sido instrumento valioso no combate à corrupção”, informou a empresa em nota.

Em comunicado à imprensa, Miller disse ser mentira que tenha mandado o advogado gravar conversas com executivos da Odebrecht. O ex-procurador afirmou ainda que não apresentou nenhuma lista de políticos sobre os quais ele deveria se pronunciar. Janot informou que não iria se manifestar.

 

Da Espanha. Apontado como operador da Odebrecht, advogado é ouvido por videoconferência na CPI Mista da JBS

 

‘Carimbo’

“Indústria da delação porque estão fechando processos penais batendo carimbo, sem investigar. Esse é o sentido da indústria da delação.”

Rodrigo Tacla Duran

RÉU E FORAGIDO DA OPERAÇÃO LAVA JATO