O Estado de São Paulo, n. 45344, 10/04/2017. Política, p. A4.
Alckmin culpa Lula por 'maior recessão' do País
Anne Warth / Daiene Cardoso / Felipe Frazão
10/04/2017
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, eleito presidente do PSDB ontem, em Brasília, fez críticas enfáticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT, defendeu a reforma da Previdência e acenou ao governo Michel Temer. Alçado para conduzir a sigla após uma crise em torno da sucessão de Aécio Neves (MG) e da permanência na base aliada do peemedebista, Alckmin aproveitou a convenção nacional tucana para apresentar um discurso de candidato ao Palácio do Planalto na eleição de 2018.
Último a discursar no evento, Alckmin culpou Lula pela crise e afirmou que o petista “será condenado nas urnas pela maior recessão de nossa história”. “O governo Temer herdou uma situação calamitosa e está trabalhando para sair desse quadro”, afirmou. “O atual governo começou a reverter a tragédia econômica em que o País foi colocado.”
O novo presidente do PSDB disse ser favorável à agenda de reformas, com destaque para a já aprovada reforma trabalhista e a da Previdência, atualmente em discussão no Congresso (mais informações na pág. A5). A mudança nas regras da aposentadoria, segundo ele, é necessária para não existir “brasileiros de duas classes”. No discurso, porém, ele classificou como a “mãe” de todas as reformas a política.
Com suas declarações, Alckmin enviou, no momento em que o PSDB deixa a Esplanada dos Ministérios, sinais ao PMDB. Para a próxima eleição, Temer busca um candidato de centro, como o Estado adiantou na edição do dia 3 deste mês, capaz de abraçar a defesa de seu legado econômico, como a queda de juros, a redução do desemprego e a aprovação das reformas estruturantes.
O governador falou mais como pré-candidato à Presidência do que como recém-eleito presidente nacional do PSDB. Ele responsabilizou ainda Lula pela sequência de erros das gestões petistas. “As urnas os condenarão pelo desgoverno, pelo desmonte da Petrobrás e pelas obras inacabadas”, disse. “Lula quebrou o Brasil e quer voltar ao poder. Ele quer voltar à cena do crime.”
Alckmin disse que a ilusão do PT “acabou em pesadelo”. “O Brasil vive uma ressaca, descobriu que a ilha da fantasia petista não foi a terra prometida”, disse. O governador afirmou ainda que o País está “vacinado contra o modelo lulopetista de iludir para reinar”. Para o tucano, enfrentar Lula será “um bom tira-teima”.
O tema da segurança pública – uma bandeira do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula – também foi destaque na fala de Alckmin. “Nós nunca nos furtamos a fornecer soluções. É o caso do descalabro da criminalidade. Propusemos a criação de uma agenda nacional para combater o crime organizado, principalmente o tráfico de drogas e de armas.”
Urna x cadeia. Escolhido para anteceder a fala de Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também se posicionou sobre Lula. Disse que já o venceu por duas vezes, em 1994 e 1998, e afirmou que o PSDB pode derrotá-lo novamente. “Prefiro combatê-lo na urna do que vê-lo na cadeia”, disse. O petista é alvo de nove processos e já foi condenado no caso do triplex do Guarujá a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro.
Coube ainda a FHC fazer o “discurso para dentro”. Foi ele, e não Alckmin, que admitiu erros de seu partido. “O povo está enojado, irritado com todos nós”, afirmou. “Sei que muita coisa foi errada, mas temos forças suficientes para reconstruir o PSDB.” Condição que, segundo ele, requer estratégia, contato com o povo e humildade: “Alckmin é simples, nunca mudou. Precisamos de gente assim”.
Em um breve discurso, o prefeito de São Paulo, João Doria, pregou a unidade do partido e declarou apoio entusiasmado a Alckmin na disputa pelo Planalto – padrinho e afilhado disputaram veladamente a indicação para 2018. “Quero dar o meu apoio incondicional a Alckmin para a presidência do PSDB e do Brasil”, afirmou. “Peço a todos que aplaudam o futuro presidente do Brasil, Geraldo Alckmin.”
A convenção. Com 470 votos, o PSDB elegeu a chapa Unidade. Foram três votos contrários e uma abstenção. A chapa tem como primeiro-vice-presidente o governador de Goiás, Marconi Perillo, que, assim como o senador Tasso Jereissati (CE), retirou sua candidatura a presidente da legenda para unificar o partido. O segundo-vice-presidente é o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).
Também são vice-presidentes os senadores Paulo Bauer (SC) e Flexa Ribeiro (PA), o governador do Paraná, Beto Richa, os deputados federais Shéridan Oliveira (RR) e Carlos Sampaio (SP), e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. O secretário-geral será o deputado Marcus Pestana (MG). A Executiva Nacional foi formada ontem. Seis partidos participaram do evento: PSD, PSC, PR, PSB, PTB e PPS.
Troca de comando. Ao lado do prefeito João Doria, Geraldo Alckmin assume presidência do PSDB e fala como candidato
'Condenação'
“As urnas os condenarão (PT e Lula) pelo desgoverno, pelo desmonte da Petrobrás e pelas obras inacabadas.”
“O governo Temer herdou uma situação calamitosa e está trabalhando para sair desse quadro.”
“O Brasil vive uma ressaca.”
“O atual governo começou a reverter a tragédia econômica em que o País foi colocado.”
Geraldo Alckmin
PRESIDENTE DO PSDB
“Prefiro combatê-lo (Lula) na urna do que vê-lo na cadeia.”
Fernando Henrique Cardoso
EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Prévias presidenciais
Geraldo Alckmin e Arthur Virgílio, prefeito de Manaus, fecharam acordo por prévia em março para a escolha do presidenciável. Antes viajarão para 10 capitais. Virgílio disse que não desiste.
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'Não vou desistir', afirma Virgílio sobre prévias
10/12/2017
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, disse ao Estado que fechou na noite de ontem um acordo com governador Geraldo Alckmin para a realizar em março as prévias para a escolha do candidato do PSDB à Presidência da República em 2018. O acerto, segundo ele, foi feito após uma reunião tensa com a cúpula tucana no gabinete do senador Roberto Rocha (AC)
Além de Alckmin, também participaram da reunião, que começou às 18h de ontem e entrou pela madrugada, os senadores Tasso Jereissati (CE) e Roberto Rocha (AC). O acordo, porém, foi fechado após Alckmin se reunir em outra sala apenas com Virgílio.
"Acertamos que as prévias serão irrestritas, mas terão uma linha de corte: poderão votar que tiver pelo menos um ano de partido. Faremos 10 comícios cada um cada um nas dez maiores cidades brasileiras. Vamos expor as entranhas do partido", afirmou o prefeito de Manaus.
Virgílio e Alckmin também combinaram de dividir de forma igualitária os recursos do Fundo Partidário para as prévias. "Combinamos que vamos trabalhar no estilo Obama X Hillary. Faremos críticas duras, mas sem ataques pessoais", disse Virgílio.
O prefeito revelou, ainda, que, apesar do acordo, fará um discurso duro na convenção de hoje. "Vai ser um discurso duro. Vou dizer que é uma aberração não liderarmos esse processo reformista. Vou dizer também que não concordei com a eleição dele (Alckmin) para presidente do partido."
Provável candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições do ano que vem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que a pretensão de Arthur Virgílio de ser o representante tucano na disputa é legítima. Virgílio defende a realização de prévias para a escolha do candidato do PSDB nas eleições de 2018.
“Quero falar da legitimidade de sua pré-candidatura, que honra o partido com sua história de luta. Arthur Virgílio é um dos melhores prefeitos e foi um dos melhores senadores deste País, disse Alckmin, em discurso na convenção nacional do PSDB.
Alckmin disse estar honrado para presidir o PSDB e disse que o trabalho iniciado pelo partido durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso são uma “obra inacabada”. “FHC mudou as bases da economia do País para sempre e é sobre elas que o partido vai trabalhar”, afirmou. “Temos compromisso com as reformas e princípios que vão dar condições para que o Brasil volte a crescer. Nós sabemos como chegar lá porque acreditamos em políticas públicas perenes, não em bravatas e marketing.”
Alckmin disse que o PSDB é um instrumento de modernização do País e de inserção do Brasil na economia internacional. “Estamos posicionados para uma agenda moderna, uma agenda do século 21”, afirmou.