Correio braziliense, n. 19979, 04/02/2018. Política, p. 4

 

A campanha mais importante

Denise Rothenburg 

04/02/2018

 

 

Os presidentes dos partidos médios decidiram colocar a eleição de governadores e presidente da República em segundo plano. A prioridade de partidos como o PP, o PR, o PTB e o PRB é a eleição de deputados federais. São os congressistas que vão ditar o jogo na disputa de poder em quase todos os níveis, seja na correlação de forças para composição de governo no futuro, seja na quantidade de recursos que cada partido terá à disposição para se financiar, quando saírem de cena as coligações partidárias.

Nas últimas campanhas eleitorais, esse período de janeiro e fevereiro era usado basicamente no sentido de contactar as maiores empresas para cobrar as promessas de doações capazes de financiar os candidatos a presidente e governador. Agora, buscam quem possa puxar votos e garantir um plantel de deputados. O processo se inverteu e o jogo do poder, também. Quanto ao financiamento das campanhas, o dinheiro está definido. É o fundo eleitoral, aprovado pelos congressistas. Quanto ao jogo dos poderosos, os dois presidentes que não negociaram com o Congresso no passado caíram, Fernando Collor e Dilma Rousseff. Por isso, é no Congresso e, em especial, na Câmara, que todos os partidos estão de olho.

 

A conta chegou

A pauta da segunda turma do Tribunal de Contas da União para a semana que vem traz uma penca de tomadas de contas especiais em municípios do Nordeste, em especial, Pernambuco. São recursos do Ministério do Turismo destinados a promoção de festas. Os valores gastos variam de R$ 100 mil a R$ 350 mil por município e os prefeitos simplesmente não prestaram contas.

 

Quando o tarde…

… vira nunca. Alguns desses processos tratam de liberações entre 2008 e 2009, ou seja, há quase dez anos. Técnicos que conhecem o traçado dizem que esses recursos pulverizados. (...)

 

Por falar em processos antigos…

Também está na pauta o julgamento das contas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de 2004, quando Lula era presidente da República e Haroldo Lima comandava a agência.

 

Decepção tucana

O PSDB de um modo geral está meio frustrado com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Inicialmente, achavam que ele faria um debate de projetos partidários, mas, até o momento, Virgílio só fez atacar o adversário interno. Por isso, as apostas são as de que o prefeito ficará cada vez mais isolado.

 

CURTIDAS

Na boca do povo/ O governo começa esta semana a campanha “políticos, juízes, empresários, todos aposentando igual a você”. E, abaixo, uma logomarca, “todos pela reforma da Previdência para o Brasil não quebrar”. São várias pessoas do povo, com alertas sobre o risco de acontecer no Brasil o que houve em estados como o Rio de Janeiro.

Na boca do presidente/ No embalo da campanha publicitária, o presidente Michel Temer aproveitará a mensagem de abertura do ano Legislativo. nesta segunda-feira, para convocar os congressistas a aprovarem a reforma. Algo do tipo: chegou a hora, não dá para mais esperar.

“Supimpa”/ Apontado como um ensaio para a campanha presidencial, o discurso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não poderá se restringir à gestão em São Paulo. Seus aliados alertam que, se não tomar cuidado, ele corre o risco de reforçar a imagem dos paulistas em detrimento do resto do país.

Sai pra lá/ Há o receio de que Geraldo Alckmin acabe deixando na cabeça do eleitor a mensagem: “lá vem esse paulista dizer que nada aqui presta e só São Paulo que é bom”.

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Medo de perder eleitores

Paulo de Tarso Lyra e Alessandra Azevedo 

04/02/2018

 

 

ELEIÇÕES » Mesmo com uma dívida previdenciária que soma R$ 79 bilhões e um nível de insolvência que impede a obtenção de empréstimos, candidatos aos governos estaduais não discutirão as alterações nas regras de aposentadoria

Nem a situação de insolvência completa de boa parte dos estados brasileiros – apenas Espírito Santo e Pará têm nota A concedida pelo Tesouro para contrair empréstimos com a União – nem a assombrosa soma de R$ 79 bilhões de deficit previdenciário, em 23 dos 27 entes da União, parecem ser suficientes para trazer para a campanha eleitoral estadual o debate em torno da necessidade de se promover mudanças nas regras de aposentadoria. “Se alguém  tocar nesse assunto, só tocará depois que for eleito. Antes disso, isso é um tremendo espanta votos”, confirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP).

O governo federal espera convencer a base aliada a aprovar a reforma da Previdência, na Câmara, em 19 de fevereiro. A justificativa é de que não há mais como se omitir desse debate. E que, se a votação não acontecer agora, inevitavelmente os candidatos serão obrigados a encarar o fantasma perante os eleitores, em outubro.

Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que as coisas funcionarão exatamente assim. “Se formos pensar no mundo ideal, é claro que todos os candidatos deveriam discutir essa questão durante a campanha. Mas, infelizmente, seguiremos vendo políticos prometendo na propaganda eleitoral coisas que não terão como cumprir depois”, lamentou o professor de finanças do Ibmec, Marcos Melo.

Analisando os dados compilados pelo Tesouro até 2016 – os números do ano passado ainda não foram atualizados – é quase inacreditável que os postulantes aos governos estaduais — sejam os governadores que buscam a reeleição ou aqueles que buscam o primeiro mandato —  insistam em dar as costas para este tema. São Paulo, por exemplo, aparece no topo da lista com R$ 17,1 bilhões de deficit previdenciário. O governador Geraldo Alckmin, publicamente, defende a reforma que está sendo tentada pelo governo federal. Mas não consegue convencer a própria bancada de tucanos da Câmara a votar, unida, a favor da proposta.

Logo em seguida vêm três estados que enfrentam sérios problemas financeiros: Minas Gerais (R$ 14,96 bi de deficit), Rio de Janeiro (R$ 11,34 bi) e Rio Grande do Sul (R$ 8,59 bi). Os dois últimos, inclusive, com uma crônica incapacidade de pagar salários, incluindo o 13º dos servidores públicos. Luiz Fernando Pezão e Ivo Sartori vêm sendo massacrados pelo funcionalismo, com protestos quase diários contra as medidas de ajuste. Fernando Pimentel ainda tem contra si outro agravante: no plano nacional, o PT é contra as mudanças nas regras de aposentadoria.

Em oitavo na lista de estados com maior deficit da Previdência, o Distrito Federal promoveu a sua reforma, em setembro do ano passado. Após uma sessão que durou quase 11 horas, os distritais aprovaram a unificação dos fundos previdenciários dos servidores públicos da capital federal. Além de unificar os fundos, o texto criou o Fundo Solidário Garantidor, uma espécie de “reserva de verbas” para assegurar recursos para eventuais rombos futuros na Previdência (leia quadro). Atualmente, o Executivo local retira do Tesouro, mensalmente, R$ 170 milhões para garantir os pagamentos.

Em tese, o Governo do Distrito Federal terá uma folga maior nas contas, o que poderá ser usado para investimentos com chances de gerar dividendos políticos. Procurada pelo Correio, a assessoria do Buriti mostrou cautela em relação aos resultados futuros das mudanças. “O Governo de Brasília fez a unificação dos fundos previdenciários para garantir o pagamento dos benefícios dos aposentados e pensionistas. Não houve e não há qualquer tentativa de se obter qualquer tipo de dividendo eleitoral”.

O coordenador do Núcleo de Análise Política da Prospectiva, Thiago Vidal, também não parece muito otimista com a discussão. “Eles (os candidatos) vão fugir do debate, mas deveriam encarar. O problema é que quem for favorável será cobrado, não o contrário. Por isso, eles preferem ficar quietos”, explica Vidal.“Alguns governadores com situação político-eleitoral mais pacífica podem se arriscar a trazer a pauta para debate, mas os que estão em uma situação ruim, não”, acredita.