Título: Economia para pagar juros soma R$ 35,5 bi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2012, Economia, p. 16

Economia para pagar juros soma R$ 35,5 bi

Apesar do bom resultado, economistas como Teresa Ter-Minassian, ex-FMI, criticam a qualidade das contas do governo brasileiro. BC assegura que indicadores são adequados

O governo deu ontem mais um sinal para o Banco Central continuar cortando a taxa básica de juros (Selic), medida, segundo a presidente Dilma Rousseff, vital para a retomada do crescimento econômico do país. Mesmo tendo de sacrificar gastos com investimentos, contabilizou, em fevereiro, superavit primário (economia para pagar os juros da dívida) de R$ 9,5 bilhões, o maior para o mês desde 2001. No primeiro bimestre do ano, o saldo atingiu R$ 35,5 bilhões — o equivalente a 25% da meta anual prevista. Já o pagamento de juros caiu 7,08% entre janeiro e fevereiro.

Especialistas alertaram, entretanto, que o governo continuou a gastar mais do que arrecadou. Tanto que, no mês passado, o desequilíbrio deixou um rombo de R$ 8,7 bilhões nas contas públicas — o chamado deficit nominal.

Os economistas lembraram ainda que o primário de R$ 9,5 bilhões só foi possível em função de dividendos pagos por empresas estatais, a maior parte deles do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Esse valor extra ajudou a receita do governo a crescer 9,4% em termos reais", calculou Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. "Valor esse que é o triplo do contabilizado em fevereiro de 2011 e o mais elevado em 18 meses", observou Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção.

Desconfiança Ainda assim, Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico da instituição, comemorou os dados de fevereiro. Na visão dele, independentemente das ressalvas dos especialistas, os números refletem o crescimento da economia e um maior controle fiscal. "Os dados são bons e indicam um desempenho positivo para o ano", disse. Ele aproveitou os bons números para rebater as críticas da economista Teresa Ter-Minassian, ex-chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que negociou pacote de ajuda ao Brasil na década de 1990. Ela questionou a credibilidade das estatísticas das contas públicas do país e disse duvidar da promessa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de chegar a 2014 com deficit nominal zero.

Para Teresa, a forma como a administração Dilma usa a política monetária e fiscal tem sido prejudicial à competitividade da indústria. "Nossa metodologia segue as práticas internacionais. Isso já foi amplamente debatido e vem sendo aprimorado desde os anos 1990", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC. "Não temos projeções para os anos seguintes em relação a deficit nominal, mas um recuo de 2,6% do PIB para 1,2% este ano é um avanço significativo, é um bom sinal", argumentou.

André Perfeito, economista-chefe da Corretora Gradual, endossou as palavras de Maciel. Segundo ele, o superavit recorde para meses de fevereiro reforça o comprometimento do governo com um resultado fiscal mais sólido. Apesar da forma como o controle de gastos é feito, travando investimentos e com aumento de arrecadação, ele e outros economistas avaliam que o menor avanço das despesas abre espaço para que o BC mantenha a política de afrouxamento monetário.

O BC ressaltou também que a dívida líquida do país cresceu entre janeiro e fevereiro, de 37,2% para 37,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A despeito do aumento, Maciel afirmou que a leve alta não preocupa. "Em março, a projeção é que esse indicador caia para 36,7%. Para o fim do ano, a previsão é de 35,7%", disse.