O globo, n.30784 , 18/11/2017. ECONOMIA, p.21

NA CONTRAMÃO DO PAÍS

DAIANE COSTA

 

 

Desemprego dá sinais de melhora em quase todos os estados, mas não recua no Rio

 

Na contramão do restante do país, onde o mercado de trabalho já dá sinais de melhora, no Estado do Rio de Janeiro a taxa de desemprego não cede. É o que mostram os mais recentes dados da pesquisa PNAD Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.

No Estado do Rio, o ano começou com o desemprego atingindo 14,5% da força de trabalho no primeiro trimestre, subiu para 15,6% nos três meses seguintes e voltou para 14,5% no trimestre encerrado em setembro. Nesse mesmo período, a taxa geral do país passou de 13,7% para 13% e, atualmente, está em 12,4%. Entre as 27 unidades da federação, somente em Pernambuco e Rondônia, além do Rio, a taxa ainda não recuou em relação ao início do ano.

Especialistas apontam o fim do período de investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, a crise fiscal e financeira do Estado, que vem atrasando salários de servidores e pagamentos a fornecedores, assim como a queda de receita, principalmente com os royalties do petróleo, como potencializadores da recessão no estado, que se agravou mesmo com a economia brasileira voltando a dar sinais de crescimento.

— O mercado de trabalho no estado está bem pior desde 2015, porque viemos de uma decadência histórica, que teve alguma reversão no século XXI, mas que foi muito menor do que se pensa. Não houve boom suficiente para reverter essa história de decadência. Ademais, vivemos uma crise política e econômica particularmente grave — avalia o presidente do Instituto Pereira Passos e economista professor da UFRJ Mauro Osório, lembrando que, de janeiro de 2015 a setembro de 2017, a capital fluminense, grande concentradora de empregos do estado, perdeu a mesma quantidade de postos com carteira de trabalho que a capital paulista: — O problema é que São Paulo tem o dobro de empregos do Rio, então, a situação é muito mais grave aqui.

Só no último ano, o número de desempregados cresceu 25% no estado, o equivalente a mais 250 mil pessoas sem emprego. No mesmo período, foram fechados 145 mil postos de trabalho com carteira assinada no estado. Atualmente, o desemprego atinge 1,2 milhão de pessoas no Rio — um terço na capital (417 mil pessoas).

Bruno Ottoni, economista especialista em mercado de trabalho do Ibre/FGV, acrescenta outro agravante à deterioração do mercado de trabalho no estado: a crise na indústria de óleo e gás, causada em grande parte pelo escândalo de corrupção na Petrobras, um dos principais demandantes de mão de obra no Rio de Janeiro.

Este ano, o maior impacto no aumento da desocupação, em relação ao ano passado, reflete o fim das obras realizadas para sediar os Jogos Olímpicos. A atividade que mais tem fechado vagas é a construção civil: 61 mil em um ano e 16 mil na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 2017.

O rendimento médio real no estado ainda segue inferior ao valor de um ano atrás: foi de R$ 2.290 no terceiro trimestre deste ano, frente aos R$ 2.318 registrados há um ano. Enquanto isso, o resultado geral do país já é maior nessa mesma comparação: saiu de R$ 2.065 para R$ 2.115.

Sobre a queda na renda, vêm pesando os atrasos dos pagamentos dos servidores públicos. A administração pública é a maior empregadora no Rio, ocupando 1,5 milhão de pessoas.

— No geral, quando você tem redução da renda, isso impacta o consumo, o PIB e, consequentemente, o mercado de trabalho que se retrai— explica Ottoni.

 

26,8 MILHÕES À PROCURA DE EMPREGO NO PAÍS

Ainda segundo o IBGE, dos 26,8 milhões de brasileiros para os quais faltava trabalho no Brasil no terceiro trimestre, 1,65 milhão estão no Estado do Rio. Esse grupo é composto por desempregados, subocupados por insuficiência de horas e os que fazem parte da força de trabalho potencial.

— Se você quer gerar políticas que ajudem as pessoas a conseguirem emprego, tem de ficar atento a esse dado (a subutilização da força de trabalho). Ele mostra, por exemplo, quem quer trabalhar e não pode porque não tem creche para deixar os filhos — explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Para Ottoni, o fato desse grupo ainda ser basrelevantes, tante inchado é sinal de que a recuperação do mercado de trabalho pode ser mais demorada:

— De certa maneira, é uma notícia pessimista. Pois são pessoas que podem vir a pressionar a taxa de desemprego, fazendo ela subir.

Osório defende que se amplie o debate regional em torno de alternativas para se ampliar a receita do Estado do Rio e fomentar a economia:

— A crise que vivemos não é só do dinheiro que se pegou (em relação aos desvios de verbas públicas cometidos por ex-governantes e ad ministradores públicos revelados recentemente) nem por se gastar demais. A crise é de carência de receita, que impacta no desenvolvimento econômico e leva o governo a não conseguir sequer pagar salários.

Ele sugere que se identifique e estimule outras atividades indutoras da economia para além do comércio e serviços, como turismo, cinema e vídeo, informática:

— É preciso gerar nova renda e ampliar o dinamismo da economia criando outras fontes de empregos. E não apenas investir onde já há demanda por mão de obra.

Ottoni é pouco otimista com relação a uma melhora do mercado no curto prazo:

— Não temos projeções da taxa para o Rio, mas acredito que vá demorar porque não vemos soluções encaminhadas para muitas questões como a crise no Estado e na Alerj, a questão fiscal, que não parece estar em recuperação, e os salários dos servidores, que seguem em atraso. A Petrobras melhorou um pouco sua condição financeira, mas está se desfazendo de ativos e diminuindo a carteira de investimentos. Isso tudo impacta o Rio.

 

22% BUSCAM TRABALHO HÁ MAIS DE 2 ANOS

Os outros dois estados que, na contramão da maioria, seguem aumentando suas taxas de desemprego são Pernambuco, que começou o ano com a desocupação atingindo 17,1% da força de trabalho, e no terceiro trimestre a taxa já estava em 17,9% — a maior entre todos os estados — e Rondônia, cuja taxa passou de 8% para 8,1%, na mesma comparação. Atualmente, Santa Catarina é o estado com a menor taxa de desemprego (6,7%), segundo o IBGE.

A Pnad Contínua divulgada ontem também mostrou que mais de um quinto do total de desempregados (22%) do país está procurando trabalho há pelo menos dois anos. Esse grupo cresceu dois pontos percentuais em um ano. Em relação ao período anterior à recessão econômica mais recente, a parcela de pessoas à procura de emprego por dois anos ou mais pulou de 1,16 milhão no terceiro trimestre de 2014 para 2,84 milhões no terceiro trimestre de 2017, alta de 145%.

 

10 COISAS SOBRE O MERCADO DE TRABALHO

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