Título: Comissão vira debate partidário
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2012, Politica, p. 3

A Comissão de Direitos Humanos do Senado foi palco de um acalorado bate-boca entre os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Aloysio Nunes (PSDB-SP), ontem de manhã, durante a audiência pública para discutir as suspeitas de violência praticada por policiais que participaram da reintegração de posse de uma área em São José dos Campos (SP). A situação dos moradores deu lugar à troca de acusações e a uma disputa partidária. A desavença teve início quando Aloysio protestou contra a fato de a reunião tratar somente do caso do Pinheirinho, em São Paulo, estado governado pelo PSDB. Inconformado, ele pediu que também fossem debatidos episódios de desocupação no Piauí, Distrito Federal e Acre — os dois últimos governados por petistas.

[FOTO] Defendendo a atuação da polícia paulista, o senador tucano chamou os líderes do movimento de resistência à desocupação de "parasitários" e afirmou que o PT estava tentando capitalizar politicamente o que ocorreu em Pinheirinho: "Estamos diante de uma operação política, em que o PT terceiriza o radicalismo de outros para promover seus interesses eleitorais. Por essa razão, o secretário da Casa Civil (paulista) enviou ontem um ofício ao presidente Paim, dizendo que nessas condições não haveria representação do governo de São Paulo, por entender que se trata de um procedimento faccioso, unilateral, que terá como consequência a instrumentalização desta comissão por partidos políticos", disparou Aloysio, justificando a ausência de representantes do governo estadual de São Paulo.

As acusações despertaram a ira de Suplicy, que, batendo na mesa, devolveu: "Queria que o senador Aloysio Nunes tivesse a dignidade de ver este filme com as cenas, algumas das quais de emissoras de TV, demonstrando a violência ocorrida. Isso é preciso que se diga. E ele aqui veio me dizer que funcionárias minhas fizeram declarações. Elas foram testemunhas da barbaridade ocorrida ali no Campo dos Alemães. E é importante que ele possa ouvir, possa ouvir e possa trazer aqui o comandante da PM".

A discussão teve continuidade com o senador tucano dizendo que não tinha medo do colega: "Não me intimido com os gritos do senador Suplicy. Pode gritar à vontade, que isto não me impressiona. O senhor quis se colocar como árbitro da minha dignidade, condição que eu não lhe reconheço, senador Suplicy", contra-atacou.

Intervenção Os ânimos somente se acalmaram com a intervenção bem-humorada do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele presidia a Comissão de Direitos Humanos, em substituição ao senador Paulo Paim (PT-RS), que está viajando. "O Suplicy passa dois anos falando baixinho, e uma vez é assim. Mas ele não quis atingir vossa excelência. Ele é exageradamente calmo. Às vezes, deveria gritar mais, e não grita, principalmente lá no PT, que não faz as coisas que ele faz, mas deveria fazer. Se o PT fizesse o que o Suplicy faz, a situação hoje seria diferente", brincou Simon. Suplicy então levantou da cadeira e cumprimentou Aloysio Nunes, pondo um fim à celeuma. Na reunião, ficou acertado que as situações dos outros estados serão discutidas na próxima quinta-feira.

O pacto de paz, porém, não alterou o posicionamento dos protagonistas do embate. "Hoje, vi duas coisas: a primeira é que o Suplicy começou a campanha para a reeleição, e o que ele fez hoje faz parte do show. A segunda é que o governo federal legitima invasões como política pública habitacional", criticou o tucano após a audiência pública. Já o senador petista afirmou que cobraria a apuração das denúncias, com o mesmo rigor, se o episódio tivesse ocorrido durante a gestão de um correligionário.

A ação da Polícia Militar de São Paulo ocorreu em 22 de janeiro, quando 1,5 mil famílias desocuparam um terreno com cerca de um milhão de metros quadrados que pertence à massa falida de uma companhia do empresário Naji Nahas. A desocupação foi marcada por denúncias de violência e arbitrariedade por parte dos PMs. A área estava ocupada havia oito anos.