Correio braziliense, n. 20022, 16/03/2018. Política, p. 3

 

Manifestações por todo o país 

Deborah Fortuna, Anna Russi, Bruno Santa Rita e Alessandra Azevedo

16/03/2018

 

 

GUERRA URBANA » Durante o velório da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Rio, uma multidão protestou e fez homenagens, que se espalharam pelas capitais. Em Brasília, ocorreram atos em prédios públicos e em frente ao Conic

Milhares de manifestantes ocuparam a frente da Câmara dos Vereadores do Rio, na Cinelândia, ontem à tarde, para homenagear Marielle Franco, morta a tiros na última quarta-feira. Protestaram contra a atuação da Polícia Militar no estado, gritaram palavras de ordem e se emocionaram com o ato simbólico em favor da vereadora. O motorista Anderson Pedro Gomes, também assassinado a tiros na mesma noite, foi lembrado nas homenagens prestadas. O corpo de Marielle foi velado entre amigos políticos e sociedade civil, que erguiam bandeiras defendidas por Marielle.

No Rio, além da Cinelândia, também houve protestos em diferentes pontos do Centro. Os manifestantes acompanharam o velório na Câmara e depois seguiram para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Em Belo Horizonte, o protesto criticou a violência sofrida pelos jovens negros. A estimativa é que cerca de 30 mil pessoas tenham participado do ato em frente à Praça Estação, no centro da capital. Em São Paulo, manifestantes se reuniram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Avenida Paulista, por volta das 17h. A via teve que ser interditada para carros. Os manifestantes caminharam em direção à Rua da Consolação, até a Praça Roosevelt.

No Recife, o protesto recebeu cartazes em repúdio ao crime. A concentração teve início às 16h, em frente à Câmara Municipal, na Boa Vista. Eles caminharam até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Já em Maceió, cerca de 300 pessoas se reuniram em frente à Câmara Municipal para pedir punição aos criminosos. Os manifestantes levaram microfones, caixas de som, faixas e cartazes para a Praça Marechal Deodoro da Fonseca. Outras cidades como Salvador, Florianópolis, Natal, Curitiba e Maceió também prestaram homenagens.

Em Brasília, sob algumas gotas de chuva e diante de uma bandeira LGBT estendida pelo chão, manifestantes lamentaram a morte da vereadora. O ato foi convocado pela liderança do Movimento Feminista Negro de Brasília. Cerca de 200 pessoas estiveram presentes na praça Zumbi dos Palmares, em frente ao Conic. Uma das pessoas que compareceram ao evento para prestar suas condolências foi a socióloga Taís Machado, de 30 anos. Para ela, todos os negros já são especialistas no assunto, já que vivem repetidas vezes a mesma história. “É uma sensação desestimulante. Uma mulher negra chega a um lugar onde temos pouquíssima representatividade e acontece isso”, lamenta. Ela explica que é como se o acontecido fosse uma forma de calar a voz dos negros. “Querem apagar nossos pensamentos”, afirma.

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Denúncia anterior ao assassinato

16/03/2018

 

 

Quatro dias antes de ser assassinada brutalmente, a quinta vereadora mais votada da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSol), denunciou a atuação violenta da Polícia Militar dentro do estado. O caso levantou o debate sobre uma possível relação da corporação no crime. Observatório da Intervenção, criado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, cobrou posição das forças policiais para afastar a suspeita de um envolvimento militar.

A coordenadora do Observatório, Sílvia Ramos, caracterizou o crime como “assassinato político”. “A PM precisa dar respostas imediatas, que façam cessar suspeitas sobre atuação de seus policiais”, escreveu. Marielle havia assumido, no último dia 28, a relatoria de uma comissão criada na Câmara Municipal para acompanhar a intervenção federal no Rio. Em 10 de março, ela postou nas redes sociais uma crítica aos militares: “O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio está aterrorizando e violentando moradores de Acari”. Conhecido como Batalhão da Morte, o 41º BPM é responsável por 112 assassinatos decorridos de supostos confrontos com a polícia em 2017, e somente em janeiro de 2018, já foram registradas nove ocorrências.