O globo, n.30782 , 16/11/2017. PAÍS, p.5

TEMER: BRASIL TEM TENDÊNCIA A ‘CAMINHAR PARA O AUTORITARISMO’

SILVIA AMORIM

CRISTIANE JUNGBLUT

PATRÍCIA CAGNI

 

 

Presidente participou de evento da Proclamação da República

O presidente Michel Temer (PMDB) afirmou ontem que os brasileiros têm vocação “centralizadora” e tendência para “caminhar para o autoritarismo”. Durante discurso em Itu, no interior de São Paulo, Temer defendeu a importância da democracia para o país. O presidente viajou ao interior de São Paulo para participar de um evento em homenagem a seu amigo, o advogado José Eduardo Bandeira de Melo.

— Se não prestigiarmos certos princípios constitucionais, a nossa tendência é caminhar para o autoritarismo, para uma certa centralização. O povo brasileiro tem certa tendência à centralização — disse Temer.

Numa análise sobre os períodos autoritários no Brasil, como o governo de Getúlio Vargas e o regime militar, o presidente concluiu que eles se deram “não simplesmente por um golpe de estado mas porque o povo também queria".

Simbolicamente, Temer despachou na prefeitura de Itu antes de participar da entrega do título de cidadão ituano a Bandeira de Melo. Segundo ele, o gesto tinha o objetivo de enaltecer valores republicanos, como a democracia. Itu é considerada o berço da Proclamação da República. Em 1873, a cidade sediou a primeira reunião do movimento a favor da República.

Bandeira de Melo foi sócio de Temer no primeiro escritório de advocacia em que ele trabalhou, nos anos 1960.

 

REFORMA MINISTERIAL ‘FATIADA’

Antes de evento em Itu, Temer discutiu com aliados a reforma ministerial. O presidente revelou que fará as trocas no primeiro escalão em “etapas”. Disse que haverá mudanças agora, como já ocorreu nas Cidades, com o pedido de exoneração de Bruno Araújo (PSDB-PE). E outras mudanças em abril, quando a Justiça Eleitoral obriga a desincompatibilização de quem desejar concorrer em 2018.

Na segunda-feira, o governo avisou que retiraria todos os ministros políticos e candidatos até dezembro, o que surpreendeu as siglas da base, que criticaram o tamanho da mudança. Agora, Temer mudou o tom. Nas conversas, os aliados reiteraram que o principal pleito dos partidos políticos do centrão é pela saída do ministro Antonio Imbassahy da Secretaria de Governo, que é responsável pela articulação política. Resignado, Temer garantiu que vai tirar o amigo tucano daquela vaga.

— A reforma ministerial será em etapas, ele não vai mexer em todo mundo, nos 17 ministérios agora. O presidente ressaltou que o governo está dando certo, que a equipe está dando certo e que vai mexer pontualmente — disse ao GLOBO o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRBSP), que esteve com Temer em Itu.

Segundo outros interlocutores do Planalto, Temer não falará em recuo. Ele deixará a responsabilidade pelas declarações sobre a amplitude da reforma com os ministros Moreira Franco (Secretaria Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil).

Na terça-feira, Padilha disse que a troca seria finalizada até dezembro. Ontem, no entanto, o ministro Moreira Franco utilizou sua conta pessoal no Twitter para dizer que a ideia de uma reforma completa até dezembro é “útil para o país, nem tanto ao governo”.