O Estado de São Paulo, n. 45349, 15/12/2017. Economia, p.B3

 

 

 

 

 

 

 

Sem reforma, País crescerá menos em 2018, diz Fazenda

Estimativa é de que o PIB crescerá 2,85% sem Previdência; com ela, alta seria de 3,30%

Por: Eduardo Rodrigues / Fabrício de Castro

 

Eduardo Rodrigues

Fabrício de Castro / BRASÍLIA

 

O impacto negativo da não aprovação da reforma da Previdência é de 0,15 ponto porcentual no Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, afirmou ontem o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kanczuk. Pelas projeções oficiais, a economia deve crescer 3% no ano que vem (antes, a estimativa era expansão de 2%). Se as novas regras para se aposentar no País não forem aprovadas, o crescimento seria de 2,85%.

Com a aprovação da reforma, o impacto positivo é de 0,3 ponto porcentual – ou seja, o crescimento iria a 3,3%. “O mercado coloca que a probabilidade de aprovar a Previdência neste governo é de um terço”, disse Kanczuk, citando cálculos do Ministério da Fazenda. “Se a Previdência for aprovada, o choque positivo é mais forte do que o negativo, caso ela não seja aprovada”, afirmou.

Para este ano, a projeção oficial de crescimento do PIB foi elevada de 0,5% para 1,1%. O Orçamento do próximo ano, aprovado na quinta-feira pelo Congresso, já considerava uma alta de 2,5% no PIB no ano que vem. No Focus, boletim divulgado pelo Banco Central, os economistas preveem um crescimento de 2,62% em 2018.

“Essa projeção está um pouco acima da média das estimativas dos analistas, mas achamos que é uma previsão bastante conservadora e sólida. Revisão é produtos de reformas, e já houve um aumento muito grande da confiança, do investimento e do consumo”, argumentou Meirelles. “Temos uma conjugação de fatores positivos.”

 

Expectativa. Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, até a última quarta-feira, quando o senador Romero Jucá (PMDB-RR) declarou que os presidentes do Senado e da Câmara haviam feito um acordo para adiar a votação da reforma para o ano que vem, o mercado via uma janela de possibilidade de aprovação ainda este ano. Zeina não conta que a reforma seja aprovada em 2018.

“O governo tem mantido essa ‘cenoura’ para atrair o mercado, mas isso também é perigoso, porque o investidor vai se cansando. Se o governo não acredita na aprovação da reforma, é melhor não prometê-la.” Na avaliação do economista Mauro Schneider, da MCM, o que ainda pode jogar a favor da reforma é a consolidação da recuperação da economia. “Avançar nessa agenda de reformas é uma parte das melhoras.”

“Pior do que não passar em 2018 é não passar nem em 2019. Seria mortal para a evolução da economia. O impacto maior no ano que vem viria dos preços de ativos, que ficariam mais voláteis, e com as agências de classificação de risco baixando a nota do Brasil. Se eu estivesse nas agências, baixaria duas notas, para sinalizar o que significa não mudar a Previdência”, diz Sergio Vale, da MB Associados.

Vale lembra que a não aprovação do texto comprometeria a estrutura de gastos públicos. “É uma pena que os congressistas ainda não entenderam que não é uma questão eleitoral. É um tiro de metralhadora no pé.”

Confirmada ou não a perspectiva de um crescimento menor do País no ano que vem, caso a reforma não seja aprovada, 2018 será um ano de forte oscilação na Bolsa, avalia Thiago Xavier, da Tendências Consultoria. “O ano deve ser de turbulência, tanto pela eleição quanto pelo adiamento da reforma. A medida em que o ciclo eleitoral se aproxima, mais difícil fica.” / COLABOROU DOUGLAS GAVRAS

 

Cenário. Para Meirelles, projeção para o PIB é ‘conservadora e sólida’

 

Projeção

O Orçamento de 2018, aprovado na quinta-feira, já considerava uma alta de 2,5% no PIB no ano que vem.

 

Projeção oficial

“Se a Previdência for aprovada, o choque positivo é mais forte do que o negativo, caso ela não seja aprovada.”

Fábio Kanczuk

SECRETÁRIO DE POLÍTICA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

 

 

 

 

Estratégia é deixar a reforma ir morrendo à míngua

Por: Adriana Fernandes / Igor Gadelha / Carla Araújo

 

BASTIDORES: Adriana Fernandes, Igor Gadelha e Carla Araújo

 

Terminou de forma melancólica o debate da proposta de reforma da Previdência. Não houve nem mesmo a leitura da versão mais enxuta do texto da PEC pelo relator Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), como prometido pelas lideranças governistas.

Menos de 24 horas depois de o Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e lideranças governistas negarem em coro e com irritação a fala do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RN), de que a votação seria adiada para 2018, a confirmação veio pelas mesmas pessoas que antes repudiaram o senador. Jucá, porém, não falou por conta própria.

Com pouco mais do que 20 deputados, a sessão da Câmara para a apresentação do novo parecer foi dominada pelos partidos da oposição. E serviu de palco para críticas generalizadas à reforma, chamada pelos oposicionistas de “lixo”, “anêmica” e “espetáculo para o mercado financeiro”. O deputado José Geraldo (PT-PA) rasgou uma cópia.

Também não apareceu no plenário o futuro ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS). Na véspera, ele havia dito em tom de desafio que, mesmo que fosse o único deputado, estaria presente no plenário para a leitura do relator. Não foi.

A estratégia, porém, é ir adiando a reforma ao longo de 2018 até o ponto de ser impossível aprová-la, mas sem jogar a toalha logo de início. Temer não quer perder a marca reformista, que tenta emplacar antes mesmo do último ano do seu governo começar. Para isso, tem a bengala da reforma tributária. Mas apesar do discurso de ressurreição da reforma em 2018, o clima é de desânimo entre muitos da equipe econômica. O que se espera é um plano alternativo para compensar a frustração com reforma. Do contrário, um nova crise econômica em 2019 já está contratada, como admitiu integrante da área econômica.