Valor econômico, v. 18, n. 4443, 16/02/2018. Brasil, p. A2.

 

 

Em meio a caos, Rio ainda terá de cortar R$ 9,8 bi de gastos

Rodrigo Carro e Bruno Villas Bôas

16/02/2018

 

 

Em um começo de ano marcado por graves problemas na área da segurança pública e temporais que causaram quatro mortes, que evidenciam os efeitos da falta de investimentos nessas áreas, o Estado do Rio ainda terá que enfrentar um contingenciamento de R$ 9,81 bilhões em despesas. Isso ocorre em face do déficit orçamentário de aproximadamente R$ 10 bilhões previsto para este ano.

Apenas na rubrica de despesas com pessoal e encargos sociais, a previsão de desembolsos é R$ 6,66 bilhões inferior ao valor previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2018 (R$ 42,21 bilhões). As informações constam da programação financeira divulgada semana passada pela Secretaria de Estado de Fazenda e Planejamento do RJ.

A intenção, informou a secretaria, é a de que os recursos contingenciados sejam liberados gradualmente ao longo do ano, à medida que se confirme a entrada de novas receitas. Entre as verbas adicionais projetadas estão R$ 3 bilhões em recursos provenientes da securitização de receitas futuras de royalties e participações especiais do petróleo. Dentro da programação financeira do governo fluminense, a previsão é de que as receitas tributárias totalizem R$ 49,83 bilhões em 2018, contra R$ 47,21 bilhões no ano anterior. O contingenciamento de recursos no início de 2018 repete a estratégia financeira já adotada pelo Estado nos últimos anos.

Ontem, depois de um Carnaval marcado por arrastões, assaltos e tiroteios, um temporal recorde castigou o Rio na madrugada e provocou pelo menos quatro mortes. Os transportes públicos entraram em colapso e vias expressas importantes na região metropolitana ficaram bloqueadas. Bairros ficaram sem luz e um trecho da ciclovia Tim Maia, na altura do bairro de São Conrado, desabou.

Em meio a este quadro, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) escreveu nas redes sociais que estava "acompanhando a situação" da Suécia. "O alerta de crise para a chuva intensa foi dado e a Defesa Civil foi colocada em prontidão para atuar prontamente em caso de acidentes graves", escreveu o prefeito, acrescentando que enviou secretários para "coordenar as equipes".

Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, o prefeito chegou a declarar em fevereiro que iria aos desfiles das escolas de samba. No domingo, porém, divulgou vídeo no aeroporto, comunicando que embarcaria para a Europa durante a "folguinha do Carnaval" para buscar "tecnologia para melhorar a nossa segurança".

O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) passou o Carnaval em sua cidade natal, Piraí (RJ). Na quarta, ele reconheceu que houve falha no planejamento do esquema de segurança para o evento.

Para Sergio Besserman, professor de economia da PUC-Rio, o principal problema não seria a ausência física dos governantes, mas a percepção da população de que o aparelho do Estado falhou tanto em relação à falta de segurança durante o Carnaval como no temporal da madrugada. "Não é possível impedir um temporal, mas preparar a cidade para eventos como esse é obrigação de qualquer cidade do mundo. No Rio, um dos problemas é que as galerias pluviais não dão vazão. Sai mais barato se preparar para isso do que tentar correr atrás dos danos depois ", disse.