Correio braziliense, n. 20015, 09/03/2018. Política, p. 3

 

A hora de mudar de legenda

Bernardo Bittar 

09/03/2018

 

 

PODERES » Com a abertura da janela partidária, deputados e senadores dão início à negociação para trocar de sigla. Fundos eleitoral e partidário pesam

Antes de vestir a “roupa de candidato”, parlamentares aproveitam a janela partidária iniciada ontem para negociar a permanência. Eles têm até 7 de abril para migrar indiscriminadamente para outra legenda, sem prejuízo ao mandato ou multa. O interesse em mudar ocorre, entre outras razões, porque, em ano eleitoral, quem estiver em legendas maiores pode conseguir mais dinheiro do fundo partidário e do fundo eleitoral e mais tempo de tevê. A expectativa é de que, até o fim deste período, cerca de 20% dos deputados e senadores participem desses rearranjos. Ano passado, quando houve a última janela, 90 deputados mudaram de partido.

O “corpo” das bancadas na Câmara pode ser determinante para os candidatos. Além das vantagens na propaganda eleitoral, os ganhos financeiros são muito atraentes. Com o dinheiro do fundo eleitoral (R$ 1,7 bilhão, dos quais 48% são distribuídos pelo número de parlamentares de cada legenda) e do fundo partidário (R$ 888 milhões que podem ser usados para financiar campanhas), parlamentares terão maiores chances de reeleição. “Da forma como foi conduzida a reforma política, partidos maiores têm vantagem nessas eleições. É claro que, com essa onda enorme de gente acusada em Lava-Jato, o esforço para permanecer no poder será maior”, afirmou o cientista político Renan Meireles, formado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Quem não busca dinheiro quer liberdade dentro do partido. É o caso da família Bolsonaro, que seguiu para o nanico PSL atrás de protagonismo. Os deputados federais Jair (RJ) e Eduardo (SP) e o deputado estadual Flávio Bolsonaro (RJ) afirmaram que a mudança ocorre para “evitar os conflitos existentes no PSC”, a antiga sigla de todos. Jair será candidato à Presidência da República, posição que dificilmente conseguiria em outra legenda. A sete meses das eleições, o parlamentar já projeta seu governo, anunciando que vai nomear o general Augusto Heleno Ribeiro como ministro da Defesa e o ex-astronauta Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia.

 

Rio de Janeiro

Na mesma cerimônia ontem que lançou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como pré-candidato ao Palácio do Planalto, também foram anunciados os novos integrantes da bancada do partido. Nomes como Laura Carneiro (RJ), relatora do projeto que propôs a intervenção no Rio de Janeiro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ); Sérgio Zveiter (RJ), relator na denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer também na CCJ; Heráclito Fortes (PI) e Paulo Kleinubing (SC) se filiaram. Eles fizeram o caminho contrário, saindo de grandes partidos como PSDB e MDB rumo ao DEM, que contava com 33 parlamentares no Congresso antes das mudanças.

Com os novos integrantes, a sigla se torna a mais expressiva em território fluminense, com oito parlamentares com mandato. A expectativa dos novos integrantes é a mesma dos Bolsonaro: protagonismo. “Claro que você tendo uma eleição como essa, uma chapa forte se torna muito importante. Mas o mais importante é termos uma candidatura majoritária que tenha respeito da cidade. Já fui do DEM, minha filiação é um retorno. Vamos chegar a 40 parlamentares antes de o prazo acabar”, afirmou Laura Carneiro.

Quando acabar o período da janela partidária, termina também o prazo de descompatibilização para as eleições. Ministros, por exemplo, terão que deixar o cargo se quiserem disputar um mandato. Até 7 de abril, 11 titulares de pastas na Esplanada devem pedir exoneração.