Correio braziliense, n. 20015, 09/03/2018. Política, p. 4

 

Tribunal de Brasília julgará Lula

Renato Souza

09/03/2018

 

 

JUSTIÇA » Fachin envia ao Judiciário do DF processo de organização criminosa contra o ex-presidente e sua sucessora Dilma Russeff. Conhecida como “Quadrilhão do PT%”, a denúncia faz parte da Lava-Jato e envolve também o partido e ex-ministros

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou ontem à Justiça Federal de Brasília a denúncia por organização criminosa contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O caso também envolve os ex-ministros Antonio Palocci, Guido Mantega, Paulo Bernardo e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. A denúncia, que faz parte da Operação Lava-Jato, apura se o PT formou uma organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras.

Na peça, enviada ao Supremo no ano passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa 16 pessoas de “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”. A investigação estava no STF por conta do envolvimento da senadora Gleisi Hoffman, que tem foro privilegiado. O ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, também será julgado na suprema Corte. O ministro Fachin entendeu que os fatos imputados a ele estão interligados aos atribuídos à senadora. A dupla integra o “núcleo político” da organização criminosa, de acordo com o Ministério Público.

Ao determinar o desmembramento do inquérito, o ministro Fachin destacou que os envolvidos no chamado “Quadrilhão do PT” são acusados de receber propina em mais de uma ocasião. “A eles foi imputada a responsabilidade de compor, segundo definição da acusação, o “subnúcleo político” da agremiação do Partido dos Trabalhadores (PT), atuando de forma concentrada nas atividades desenvolvidas pelo grupo criminoso, sendo que, em mais de uma oportunidade, foram responsabilizados pelo recebimento, em conjunto, de vantagem indevida”, cita Fachin.

O ex-ministro Edinho Silva também é um dos denunciados. Ele deve responder ao processo perante o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, pois atualmente é prefeito da cidade de Araraquara, em São Paulo. Se condenados, os envolvidos podem pegar de três a oito anos de prisão.

De acordo com investigações da Polícia Federal, o esquema durou de 2002 a 2016. Nesse período, foram desviados pelo menos R$ 1,4 bilhão dos cofres da estatal de petróleo. Em nota, a defesa de Lula informou que “a denúncia é mais um exemplo de mau uso das leis para perseguir o ex-presidente, que não praticou qualquer crime, muito menos participou de uma organização criminosa”. A ex-presidente Dilma Rousseff informou que não vai se manifestar sobre o caso. A assessoria de imprensa do PT informou que “a denúncia do ex-procurador Rodrigo Janot não tem pé nem cabeça”. A reportagem não conseguiu contato com os demais acusados.