Correio braziliense, n. 20015, 09/03/2018. Economia, p. 6

 

O mundo sob risco de uma guerra comercial

Rosana Hessel e Anna Russi 

09/03/2018

 

 

COMÉRCIO EXTERIOR » Sobretaxas de 25% para as importações de aço e de 10% para as de alumínio, anunciadas ontem pelo presidente dos EUA, Donald Trump, geram ameaças de retaliação ao redor do mundo. Medida afeta fortemente as exportações brasileiras

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu promessa de campanha, ampliou as barreiras tarifárias do país, azedou o bom momento da economia global e colocou o mundo sob ameaça de uma guerra protecionista. Ontem, após reunião com representantes dos produtores nacionais, ele confirmou a adoção de sobretaxas de 25% nas importações de aço e de 10% nas de alumínio. O motivo alegado foi “segurança nacional”, previsto em uma lei antiga em desuso. Na verdade, trata-se de uma tentativa brusca de reduzir o enorme deficit comercial norte-americano com o resto do mundo, que alcançou US$ 568 bilhões no ano passado.

A medida atinge em cheio o Brasil, além da China, países da União Europeia (UE) e a Turquia. As únicas isenções foram concedidas ao Canadá e ao México, condicionadas, porém, à revisão do acordo de livre comércio da América do Norte, o Nafta, bloco que abrange os dois países e os EUA. “Queremos ser justos, e que nossos trabalhadores sejam protegidos. Caso vocês queiram fugir das tarifas, tragam suas empresas para cá, nenhum produto americano será sobretaxado”, disse Trump, dirigindo-se aos governantes de nações prejudicadas. Ele afirmou que os EUA precisam ter uma indústria forte e que as fábricas do país estavam falindo. Autoridades da UE reafirmaram que podem responder com sobretaxas, na mesma proporção, a produtos norte-americanos, como motocicletas e bebidas.

Especialistas observam que não é a primeira medida protecionista do republicano e, provavelmente, não será a última. “Trump está seguindo a proposta de campanha, que envolvia maior proteção da indústria e do emprego nos EUA. Há dois meses, teve imposição sobre painéis solares e máquinas de lavar, agora vieram o o aço e o alumínio”, lembrou Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Segundo ele, as exportações brasileiras serão bastante afetadas pela medida, mas, como pesam pouco na economia, o Produto Interno Bruto (PIB) não sofrerá na mesma proporção.

Incluindo produtos intermediários e laminados, o Brasil é o segundo maior fornecedor dos EUA, respondendo por 13% das importações do país, atrás do Canadá, com 16%, O mercado norte-americano foi o maior destino das exportações brasileiras de aço, em 2017, com 32,7% de participação, lembrou Diego Bonomo, gerente executivo da Unidade de Assuntos Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

Insegurança

Por causa disso, a decisão de Trump deixou a indústria nacional preocupada. A CNI afirmou que a medida fere as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Na avaliação da entidade, as sobretaxas vão afetar US$ 3 bilhões de exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões de vendas de alumínio. O Instituto Aço Brasil informou que estuda, com o governo, apresentar imediatamente recurso ao governo americano.

“Trump adotou uma legislação dos anos 1960, que é contra as normas internacionais. Sendo um país líder, que ajudou a negociar essas normas, isso traz  insegurança jurídica e instabilidade”, avaliou Bonomo, da CNI. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que vinha caindo pouco mais de 0,30%, ampliou o tombo para 0,74% após a divulgação das sobretaxas. O principal índice da B3, o Ibovespa encerrou o pregão com queda de 0,58%, em 84.985 pontos. As ações de siderúrgicas lideraram as baixas: as preferenciais da Usiminas caíram 2,1%, as da Gerdau recuaram 4,18% e as ordinárias da CSN sofreram um tombo de 5,08%.