O Estado de São Paulo, n. 45328, 24/11/2017. Política, p. A7.

Temer recorre a aliados para acalmar tucano

 Vera Rosa

24/11/2017

 

 

Imbassahy foi procurado por interlocutores do Planalto que tentaram minimizar ‘trapalhada’

 

 

Um dia após o desgaste provocado pela tentativa de mudança na Secretaria de Governo, emissários de Michel Temer foram acionados para acalmar Antonio Imbassahy (PSDB-BA), titular da pasta. Disseram ao tucano que o anúncio da nomeação de Carlos Marun (PMDB-MS) para sua cadeira, anteontem, não passou de uma “trapalhada”.

Imbassahy deixará o cargo em breve, talvez antes mesmo do desembarque oficial do PSDB com o governo. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o Palácio do Planalto procuram uma “saída negociada”. Se não houvesse, na última hora, uma ordem de Temer para segurar Imbassahy, os tucanos ameaçavam votar contra a reforma da Previdência na Câmara.

Embora a tendência do PSDB seja desembarcar da equipe no dia 9 de dezembro – quando o partido fará sua convenção –, os tucanos não querem que Temer dê o primeiro passo para não parecer que estão sendo enxotados. Nesse cenário, as tratativas entre Temer e Aécio são para não aprofundar o confronto entre o PMDB e o PSDB e deixar as “portas abertas” para a campanha de 2018.

O próprio presidente conversou com Imbassahy mais de uma vez, na tentativa de conter o mal-estar criado por notícias sobre a demissão. Anteontem, enquanto circulavam informações sobre sua dispensa, Imbassahy estava na reunião da Executiva do PSDB, defendendo o apoio do partido à reforma da Previdência. Saiu de lá sem esconder o aborrecimento com os rumores e não foi ao almoço oferecido por Temer a governadores, no Palácio da Alvorada.

Em conversas reservadas, auxiliares do presidente afirmavam ontem que a escolha de Marun havia subido no “telhado”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articula para que a Secretaria de Governo seja entregue ao ex-ministro Roberto Brant, que foi do PFL e do PSD. O PMDB, porém, quer voltar à articulação política e não abre mão de um peemedebista no lugar de Imbassahy. Já o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), repetiu que seu partido não votará nada de interesse do governo enquanto Imbassahy não for trocado.

Além disso, PMDB e partidos do Centrão aguardam a mudança para negociar a divisão das secretarias ligadas ao Ministério das Cidades, agora nas mãos de Alexandre Baldy.COLABORARAM IGOR GADELHA e FELIPE FRAZÃO

 

Agenda. Temer em visita a hospital em Porto Velho (RO)

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PMDB aprova expulsão de Kátia Abreu

Renan Truffi / Thiago Faria / Caio Rinaldi

24/11/2017

 

 

O Conselho de Ética do PMDB decidiu ontem expulsar do partido a senadora Kátia Abreu (TO). A decisão foi unânime. Os membros do colegiado acompanharam a recomendação do parecer que pedia o cancelamento da filiação partidária da senadora. O motivo oficial é a postura crítica da senadora ao governo Michel Temer e o fato de ela atuar de forma contrária às orientações do Palácio do Planalto no Senado.

A determinação será acatada de imediato pelo presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), que elogiou a decisão colegiada. “A medida demonstra nova fase de posicionamento do partido”, afirmou Jucá.

Em nota, Kátia Abreu disse que foi punida por “dizer não a cargos, privilégios ou regalias do poder”. “A mesma Comissão de ‘Ética’ não ousou abrir processo contra membros do partido presos por corrupção e crimes contra o País”, afirmou.

A senadora foi ministra da Agricultura do governo da presidente cassada Dilma Rousseff entre janeiro de 2015 e maio de 2016 e se posicionou contra o impeachment da petista.

Segundo o comunicado, por enquanto, a parlamentar deve ficar sem partido, mas conversará com “lideranças políticas sérias” para decidir o que fazer.

Após a notícia da expulsão de Kátia Abreu, o senador Renan Calheiros (AL), ex-presidente do PMDB, fez duras críticas à legenda. “O partido foi construído e se fez forte por respeitar as diferenças de opinião. Retirá-la das nossas fileiras é uma atitude que violenta as mais caras tradições de convivência e tolerância que sempre marcaram a vida do partido”, escreveu o senador em sua conta oficial no Twitter.

 

Defesa. Antes da decisão, Kátia Abreu chegou a encaminhar defesa para o Conselho de Ética na qual apontava “vícios processuais” no pedido de expulsão. Além disso, a senadora havia pedido para que fossem ouvidas 24 testemunhas, incluindo o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e os ministros Leonardo Picciani (PMDB-RJ), dos Esportes, e Gilberto Kassab (PSD-SP), titular da pasta de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Eunício também tentou atuar para que a senadora não deixasse a sigla.

 

Senadora. Kátia Abreu diz que por ora fica sem partido