Correio braziliense, n. 20033, 27/03/2015. Economia, p. 7
Meirelles sai. Equipe mantém Fazenda
Hamillton Ferrari
27/03/2018
Com a iminente saída do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para disputar as eleições presidenciais, o secretário executivo da pasta, Eduardo Guardia, deve assumir o comando da economia a partir da segunda semana de abril. Há um movimento dentro do órgão para que o Palácio do Planalto não escolha um nome externo para o cargo. Guardia e o secretário de Acompanhamento Econômico, Mansueto Almeida, que também é cotado para a vaga, estariam articulando uma rebelião de toda a equipe caso um “corpo estranho” seja escolhido para a vaga de Meirelles. Se isso ocorrer, a intenção é que todos peçam demissão, como informou o Blog do Vicente, do Correio.
A equipe fez chegar ao Planalto a informação de que a insatisfação seria a mesma com o possível deslocamento do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, para a Fazenda. Assessores dizem que ele não pretende entrar em “fofocas” e está interessado em mostrar resultados no cargo que ocupa. O próprio Oliveira, porém, é um dos que devem participar da dança das cadeiras na Esplanada. Ele pode substituir Paulo Rabello de Castro, que será candidato à presidência pelo PSC, na chefia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nesse arranjo, Mansueto Almeida assumiria a vaga do Planejamento.
A saída de Meirelles é considerada certa. Ontem, o presidente Michel Temer confirmou ter conversado com o ministro sobre a mudança. Entretanto, ontem à tarde, após o evento na Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), na capital gaúcha, Meirelles afirmou que só vai anunciar se deixa ou não o cargo no início da próxima semana. Ele também deve sair do PSD com destino ao MDB, partido do presidente da República. O ministro quer encabeçar a chapa que disputará o Planalto, mas isso vai depender de seu desempenho nas pesquisas eleitorais e da vontade de Temer de se candidatar à reeleição.
Turbulências
Meirelles precisa deixar o cargo até 7 de abril se quiser disputar o pleito. Depois dessa data, Guardia seria o responsável por dar continuidade à atual política econômica. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), que queria colocar o apadrinhado Dyogo Oliveira na Fazenda, não deve mais insistir na indicação. O Planalto quer evitar turbulências desnecessárias e constrangimento com o mercado. A sucessão na Fazenda foi um dos termos que Meirelles negociou com Temer para se filiar ao MDB.
Em Porto Alegre, o ministro da Fazenda disse, ainda, que seria “injusto” anunciar o possível sucessor agora, porque ainda pode decidir ficar na pasta. “Seria desagradável, para dizer o mínimo, e seria incorreto para o país”, ponderou. Apesar disso, destacou que tem uma equipe “excepcional”. “Diversos secretários estão altamente qualificados para exercer a função (de ministro) com tranquilidade. Não é uma situação que precise preocupar”, disse, acrescentando que este é um problema “bom” para o governo.
Passagem do bastão
A troca de comando na Fazenda não pegou o mercado de surpresa. Segundo o diretor de Câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, a saída de Meirelles era esperada, porque o ministro já demonstrava vontade de concorrer à Presidência. “Todos já sabiam dessa possibilidade. A notícia não impactou o mercado também porque a política econômica implementada por ele está bem solidificada e direcionada. Além disso, a equipe dele deve permanecer nos postos- chave”, comentou. “A única preocupação é se o novo ministro não agradar à equipe antiga e, com isso, ocorrer uma rebelião em massa”, completou.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, avaliou que, contanto que o substituto seja do “time do Meirelles”, o ambiente econômico deve permanecer favorável para os negócios. “Não se espera que o mercado vá reagir de maneira negativa (com a saída do ministro)”, afirmou. Ele destacou que o “boicote” da equipe da Fazenda a um nome de fora foi uma forma de pressionar o presidente Michel Temer na escolha do novo ministro. O mercado defende a continuidade do atual projeto econômico para não criar imprevisibilidade.
Após o evento no Rio Grande do Sul, Meirelles voltou a destacar que o país deve crescer 3% e criar 2,5 milhões de empregos em 2018. Ele assumiu a Fazenda em maio de 2016 e, desde então, o país saiu da recessão econômica, num cenário de queda dos juros e da inflação. (Confira o quadro ao lado) O desemprego continua alto, mas parou de crescer no segundo trimestre do ano passado e, desde então, vem diminuindo lentamente. Todavia, o número de vagas informais foi o que mais cresceu desde então.
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Desafio é melhorar nas pesquisas
27/03/2018
De olho na Presidência da República, mas consciente de que a preferência é do atual chefe do Executivo, Michel Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciará a saída da pasta para uma tarefa difícil. Ele não estará mais nos holofotes como líder da equipe econômica e terá que subir nas pesquisas de intenção de voto e convencer as lideranças do MDB de que pode ser um candidato viável ao Palácio do Planalto.
O plano do Meirelles é encabeçar a chapa governista, mas sabe que só conseguirá o objetivo se Temer desistir da candidatura, o que não parece provável. O presidente afirmou que seria uma “covardia” se não tentasse a reeleição, como afirmou em entrevista à revista IstoÉ. Na visita a Porto Alegre, ontem, Meirelles disse que é preciso tomar a decisão com base na “questão eleitoral e no que quer a população”.
“Não há dúvida que eu e o presidente Temer estamos trabalhando juntos nesse projeto (de governo) e estamos tirando o Brasil da recessão, que foi tão forte”, avaliou Meirelles, destacando que já foi convidado em duas ocasiões, em anos anteriores, para ser vice-presidente. “Naquelas oportunidades, eu decidi não aceitar, mas vamos aguardar o meu projeto de ser ou não ser candidato e tomar as decisões no momento adequado”, afirmou.
Apesar da investida de Meirelles, a viabilidade eleitoral dele ainda continua muito baixa. Na avaliação do cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, Temer tem clara preferência pela candidatura por já ser o presidente da República e por ter nome no MDB. “Meirelles será uma figura nova no partido. É natural que Temer tenha preferência na fila partidária”, considerou. “Então, a tarefa dele será muito difícil. O ministro terá que apresentar uma performance extraordinária nas pesquisas, o que eu não vejo acontecer, e terá que disputar espaço internamente, convencendo as lideranças”, completou.
A ambição do ministro, porém, vai ajudar o MDB em questões financeiras, já que Meirelles tem condições de bancar a própria campanha. Além disso, ele também pode assumir a bandeira governista e defender o legado da gestão atual. Noronha não vê, apesar disso, que o MDB vá depender dos recursos de Meirelles, já que o partido detém a máquina pública. “Eu vejo que ele sairá da Fazenda e perderá uma parte natural da visibilidade. Terá que buscar espaço, mostrar o mínimo de chances de ser um candidato competitivo”, afirmou o cientista político. (HF)
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Crivo do BC em bancos
Antonio Temóteo
27/03/2018
A escolha dos presidentes dos bancos públicos passará pelo crivo do Banco Central (BC). Um decreto da Presidência da República será publicado nos próximos dias e determinará essa análise prévia do regulador do sistema financeiro. O tema está em estudo na Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Atualmente, a escolha de quem comanda essas estatais é feita pelo chefe do Executivo, sem qualquer interferência da autoridade monetária. A medida foi debatida entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Michel Temer no último domingo.
A medida seria uma resposta às críticas de que os bancos públicos sofrem pesadas ingerências políticas, o que daria margem para corrupção. O debate ganhou força após o Ministério Público Federal (MPF) sugerir a substituição de todos os vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, por suspeita de irregularidades na concessão de financiamentos para grandes empresas.
A escolha e a exoneração de dirigentes da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do Banco da Amazônia, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social e do Banco do Nordeste cabe exclusivamente ao presidente da República, conforme a lei federal nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
Mudanças
A mesma norma que extinguiu a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) e criou a autoridade monetária como uma autarquia deixou essa brecha legal. Há 53 anos, os chefes do Executivo têm total autonomia para lotear politicamente algumas das instituições financeiras mais importantes do país.
Além de publicar o decreto, o governo vai encaminhar um projeto para alterar a Lei nº 4.595. Ainda não está claro se essa mudança será pontual ou se fará parte do que pretende revisar a norma que institui a autoridade monetária.