O globo, n. 30789, 23/11/2017. País, p. 7
Funcionário de doleiro afirma ter feito cinco pagamentos ao prefeito do Rio em escritório partidário no Centro do Rio entre 2010 e 2012
No dia em que foram presos dois ex-governadores do Rio, reunindo na cadeia os gestores do estado nos últimos anos, um dos delatores do esquema de propina da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) envolveu também o prefeito Marcelo Crivella (PRB). Em depoimento, Edimar Moreira Dantas afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que fez pagamentos num total de R$ 450 mil, em espécie, para o prefeito, conforme informou o “RJTV”, da TV Globo. Edimar Moreira Dantas trabalhava na empresa do doleiro Álvaro José Novis, acusado de ser o operador do esquema da Fetranspor de pagamento de propina e doações eleitorais não declaradas a políticos.
O funcionário do doleiro disse aos investigadores que fez pagamentos a um intermediário do prefeito do Rio entre os anos de 2010 e 2012. Segundo Dantas, o dinheiro foi entregue a Mauro Macedo, que foi tesoureiro de antigas campanhas de Crivella, num escritório no Centro do Rio que funcionava como comitê partidário. Em 2010, Crivella se elegeu senador; no entanto, em 2012, não disputou eleição. Todos os repasses teriam sido feitos pessoalmente num escritório na Candelária, onde funcionou comitê de campanha de Crivella em 2010. O delator afirmou ainda que viu o prefeito do Rio no prédio citado como local dos pagamentos.
De acordo com o depoimento de Dantas, “houve cinco pagamentos nos anos de 2010 e 2012, no mês de setembro, que foram entregues para MAURO MACEDO, na Rua da Candelária, nº 09, sala 811, sala alugada por MARCELO CRIVELA (sic)”.
Dantas afirmou ainda que a ordem para os pagamentos partiu de José Carlos Lavouras, um dos diretores da Fetranspor, que teve a prisão decretadas nas operações Ponto Final e Cadeia Velha. Lavouras tem cidadania portuguesa e está em Portugal.
DATA E HORA NAS PLANILHAS
O delator deu datas e até horários dos momentos em que entregou dinheiro ao ex-tesoureiro de Crivella — dois repasses de R$ 100 mil ocorreram em 22 e 29 de setembro de 2010, às 16h30m, segundo planilha do doleiro entregue ao MPF. No documento, estavam identificados quatro pagamentos de R$ 100 mil cada; além deles, teria havido um quinto repasse, de R$ 50 mil.
O prefeito Marcelo Crivella afirmou, em nota à TV Globo, que as acusações são uma “infâmia”, “absurdas” e que só estão ocorrendo porque ele proibiu o aumento na tarifa dos ônibus. Crivella disse ainda que suas campanhas eleitorais sempre foram “as mais modestas”. A Fetranspor declarou que não comenta investigações em curso.
DELAÇÃO ATINGE PEZÃO E PICCIANI
Em seus depoimentos ao Ministério Público Federal, o delator Edimar Dantas também citou o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB). O delator afirmou que foram repassados R$ 4,8 milhões a Pezão (PMDB) entre julho de 2014 e maio de 2015. Pezão nega as acusações, que classifica como “mentirosas” e diz que nunca esteve com o delator, nem enviou “qualquer emissário para qualquer tipo de negociação ou operação” com representantes da Fetranspor.
A delação de atingiu também o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, o ex-presidente da assembleia Paulo Melo, ambos do PMDB — os dois foram alvos da Operação Cadeia Velha na última semana, junto com o então líder do governo Pezão na Alerj, Edson Albertassi (PMDB), acusados de receber propina da Fetranspor. Na terça-feira, Picciani, Melo e Albertassi voltaram à prisão após determinação do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Ao serem presos na operação, os três deputados negaram o recebimento de vantagens indevidas em troca de benefícios às empresas de ônibus por meio da atuação parlamentar. Picciani, Melo e Albertassi disseram que as acusações do delator são falsas. Na ocasião, José Carlos Lavouras, que também foi alvo de mandado de prisão, disse que a decisão judicial era ilegal.