O Estado de São Paulo, n. 45343, 09/12/2017. Política, p. A4.
Alckmin assume PSDB e tenta se contrapor a Lula
Alberto Bombig / Pedro Vencesla
09/12/2017
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assume hoje o comando do PSDB com a preocupação de apresentar um discurso capaz de lhe credenciar como candidato do centro político na disputa presidencial de 2018. Alckmin vai se oferecer como um contraponto à possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirá que o petista “será condenado nas urnas pela maior recessão da nossa história”.
“As urnas o condenarão pelos 15 milhões de empregos perdidos, pelas milhares de lojas fechadas, sonhos desfeitos e negócios falidos. As urnas o condenarão pela frustração dos projetos de milhões de famílias levadas ao desespero, por ter sucateado o SUS e atentado contra a saúde de todos os brasileiros”, diz trecho do discurso que o tucano preparou para a convenção nacional da sigla, em Brasília.
O evento que marcará a posse de Alckmin na presidência do PSDB também será um lançamento informal da segunda candidatura dele a presidente da República – na primeira disputa, em 2006, foi derrotado por Lula no segundo turno.
O governador paulista vai tentar se viabilizar eleitoralmente como o mais preparado para liderar o campo antipetista e retomar a polarização que marcou as últimas eleições presidenciais. “Nós os derrotaremos nas urnas”, dirá Alckmin ao se referir ao ex-presidente. Lula já está em pré-campanha pelo País, mas pode ser condenado em segunda instância pela Justiça Federal e ter de travar uma batalha judicial pelo direito de concorrer na eleição. Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
O objetivo do PSDB sob a chefia de Alckmin é passar a ideia de que o paulista tem mais condições de dar seguimento a uma agenda de reformas e recuperação econômica. Para tucanos, o desgaste de Lula no aspecto ético não está consolidado, como indica a queda no índice de rejeição ao petista detectada na pesquisa Datafolha – chegou a 57 pontos porcentuais em 2016 e no mais recente levantamento atingiu 39 pontos.
Melindres. A fala de Alckmin na convenção estava sendo cuidadosamente construída ontem para evitar melindres com o próprio partido e com a gestão do presidente Michel Temer.
O governador paulista passa a comandar o PSDB na crise mais aguda da legenda – dividida em relação ao governo federal, também atingida pela Operação Lava Jato, hesitante na defesa de bandeiras históricas, e sob críticas e a desfiliação de importantes teóricos. Por isso, vai insistir na necessidade de união interna do partido.
Conforme auxiliares, Alckmin adotará um tom “incisivo” ao dizer que o PSDB “está vivo” e tem força para liderar o movimento do “próximo ciclo” da política.
No momento em que o PMDB fala em lançar um candidato da base governista para defender o legado de Temer, o governador paulista vai se comprometer com a reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Alckmin ainda resiste, porém, em fazer explícita defesa do presidente.
O pedido de demissão de Antonio Imbassahy (mais informações na pág. A6) da Secretaria de Governo, anunciado ontem, ajudou a aliviar a tensão no PSDB. Segundo o senador Tasso Jereissati (CE), Alckmin vai anunciar que o partido já não é mais da base governista, mas apoia as reformas.
Embora a sigla ainda resista a fechar questão, a partir de segunda-feira, o paulista deverá fazer uma ofensiva pela reforma da Previdência. “Nossa posição é favorável às reformas, em especial a da Previdência. Defendemos uma agenda reformista, de competitividade e modernização.”
Alckmin vai substituir na presidência do PSDB o senador Aécio Neves (MG), alvo de inquéritos criminais e acusado de corrupção com base na delação da J&F. Aliados aconselharam Aécio a não comparecer ao evento. Se for, o mineiro deverá ter uma participação discreta.
O governador de Goiás, Marconi Perillo – que, com Tasso, abriu mão de disputar a presidência do partido –, vai ocupar a primeira-vice-presidência e pode assumir a legenda em agosto para que Alckmin eventualmente se dedique exclusivamente à campanha presidencial.
O governador se reuniu ontem com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM). A reunião, que ficou fora da agenda oficial, ocorreu no gabinete do senador Roberto Rocha (PSDB-MA). O Estado apurou que Alckmin tentou convencer Virgílio a abdicar da disputa. / COLABOROU RENAN TRUFFI
‘Empregos perdidos’
“As urnas o condenarão pelos 15 milhões de empregos perdidos, pelas milhares de lojas fechadas.”
TRECHO DO DISCURSO PREPARADO POR ALCKIMIN EM REFERÊNCIA A LULA
OS PRESIDENTES TUCANOS
14 políticos comandaram o PSDB nos quase 30 anos de existência do partido
PSDB é criado em meio aos debates da Constituinte - 1988 / 1989
Na 1ª eleição direta após a ditadura, Collor é eleito presidente e o PSDB elege 38 deputados federais - 1990
Sigla participa da campanha do impeachment de Collor , que renuncia antes do fim do processo no Senado - 1991/1992
Com Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, o PSDB elabora o Plano Real - 1994
PSDB chega à Presidência da República com FHC - 1995/1996
FHC é reeleito- 1998
FHC sanciona a Lei de Responsabilidade Fiscal - 2000
Aécio Neves se torna o primeiro tucano a assumir a presidência da Câmara - 2001
José Serra disputa eleição presidencial, mas perde para Lula - 2002/2003
Na esteira do mensalão, Azeredo é pivô do caso conhecido como mensalão mineiro- 2005
Em nova corrida presidencial. Geraldo Alckmin é derrotado por Lula, que se reelege - 2006
Sérgio Guerra assume a presidência do partido e segue no comando até 2013 - 2007
Serra é derrotado por Dilma Rousseff - 2010
Aécio Neves, presidente do partido, perde para Dilma. Que se reelege. 2013/2014
PSDB apoia impeachment de Dilma - 2016
Aécio se licencia da presidência do partido após denúncia de corrupção - 2017
OS PRESIDENTES TUCANOS
Comissão Provisória
Mário Covas
Fernando Covas Henrique Cardoso
José Richa
Pimenta da Veiga
Franco Moro - Integrou a comissão provisória e depois presidiu o partido
Tasso Jereissati
Pimenta da Veiga
Artur da Távola
Teotônio Vilela Filho
José Aníbal
José Serra
Eduardo Azeredo
Tasso Jereissati
Sérgio Guerra
Aécio Neves
Tasso Jereissati
Alberto Goldman