Título: Maior rombo mensal da história: US$ 7,1 bi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2012, Economia, p. 10

Diante da intensa importação de produtos e serviços, além dos fortes gastos dos brasileiros no exterior, o rombo nas contas externas cresceu e atingiu US$ 7,1 bilhões em janeiro, um recorde mensal desde 1947, início da série. A projeção do Banco Central para o ano de 2012 é de que esse buraco chegue a US$ 65 bilhões, também uma cifra histórica. Os números divulgados ontem pela autoridade monetária evidenciam ainda que o país deve receber um volume menor de investimentos voltados para o setor produtivo, algo em torno de US$ 50 bilhões, quando comparados a 2011 (US$ 66,6 bilhões). Para que o rombo nessa conta não gere problemas para a economia, o Brasil terá que receber uma ajuda de US$ 15 bilhões do mercado financeiro internacional — um capital que evapora ao primeiro sinal de crise.

As contas externas representam todas as transações de bens e serviços entre o Brasil e o exterior e podem indicar o grau de vulnerabilidade da economia frente às turbulências internacionais. O problema, segundo especialistas, é essa cifra ficar negativa e o país não conseguir uma compensação por outras vias, como o ingresso de investimentos para o setor produtivo ou mercado financeiro. Pelos dados do Banco Central, em janeiro deste ano, tecnicamente esse buraco foi coberto graças aos investidores, que apostaram R$ 4,2 bilhões em ações de empresas brasileiras. Enquanto o deficit foi de US$ 7,1 bilhões no mês, o país conseguiu captar US$ 7,3 bilhões no total, incluídos investimentos produtivos.

O rombo nas contas de janeiro, segundo o BC, explica-se, entre outros fatores, por um deficit na balança comercial de US$ 1,2 bilhão, resultado de importações maiores que as exportações. No mês passado, os empresários brasileiros tiveram ainda a necessidade de alugar máquinas e equipamentos produzidos lá fora, o que gerou um gasto adicional de US$ 1,6 bilhão. Somadas a esses fatores, as viagens internacionais consumiram US$ 1,3 bilhão e a remessa de empresas estrangeiras sediadas no Brasil para suas matrizes representou mais US$ 1 bilhão. "Isso tudo é reflexo de um Brasil que cresce. Representa uma maior demanda dos brasileiros, seja por consumo ou por produtos e investimentos para o setor produtivo", avaliou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.

Expectativa Analistas de mercado concordam com Maciel, mas têm dúvidas. "O deficit está aumentando e a conta financeira recuando um pouco. Por enquanto, é uma conta que fecha com superavit", observou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank. Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, o desempenho do investimento estrangeiro destinado à produção, comparado ao fim de 2011, desacelerou, mas ficou ligeiramente acima do esperado para o período. Para ele, todas as atenções continuarão voltadas para as entradas de capital ao longo de 2012, para saber se o deficit será financiado.

Enquanto o investimento produtivo desacelera, os recursos focados na bolsa de valores, influenciados por captações de empresas brasileiras no exterior, crescem expressivamente. Apenas em janeiro, o volume em ações compradas por estrangeiros foi quase seis vezes mais que em igual período do ano passado. "A situação está ruim lá fora e melhor aqui dentro. Os níveis de risco, nos últimos meses, também melhoraram bastante e isso favorece o ingresso de recursos. É por isso que nunca acreditamos que o dólar ficaria em R$ 1,90", argumentou Serrano.

Ladeira abaixo

Brasil saiu de superavits nas contas externas para o maior deficit da história

(Em US$ bilhões) 2005 13,9 2006 13,6 2007 1,5 2008 - 28,1 2009 - 24,3 2010 - 47,3 2011 - 52,6 2012 - 65,0*

Farra no exterior

Brasileiros seguem promovendo gastos recordes fora do país

(Em US$ bilhões) 2005 0,858 2006 1,4 2007 3,2 2008 5,1 2009 5,5 2010 10,5 2011 14,4 2012 14,5*

*Projeção do Banco Central

Fonte: BC